3º Curso de Música do MST-PR reúne 60 educandos do campo e da cidade

Apesar da conjuntura atual, o MST consegue “fazer a juventude entender a arte”, diz artista Zé Pinto
Curso contou com a presença especial do cantor, compositor e poeta popular do MST Zé Pinto. Foto: Valmir Fernandes

Por Juliana Barbosa, do Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
Da Página do MST

Cerca de 60 educandos de diversos acampamentos e assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Levante Popular da Juventude participaram do 3º Curso de Música Popular do MST Paraná, entre os dias 13 e 17 de outubro. A formação ocorreu no Espaço Marielle Vive de Formação e Cultura, localizada a cerca de 70 metros da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. A realização da terceira etapa do curso, 5 dias após a liberdade de Lula, mostra a continuidade da organização popular que germinou na Vigília Lula Livre.

As outras duas edições do curso foram feitas ao longo da resistência na Vigília, nos meses de abril e julho. O curso proporcionou formação sobre análise de conjuntura, aulas de poesias, canto, composição musical, práticas de violão e bateria. Esta edição foi organizada pelo Coletivo de Juventude e do Setor de Comunicação e Cultura do MST, e pelo Levante Popular da Juventude.

3º Curso de Música Popular do MST Paraná, entre os dias 13 e 17 de outubro. Foto: Juliana Barbosa

O curso contou com a presença especial do cantor, compositor e poeta popular do MST Zé Pinto. Entre outras canções conhecidas do povo Sem Terra, o mineiro é autor da música “Ordem e Progresso”, também apreciada pelo ex-presidente Lula: “Esse é o nosso país, essa é nossa bandeira. É por amor a essa pátria Brasil que a gente segue em fileira”, diz o refrão.

“A gente consegue fazer as coisas, não precisamos ser famosos para fazer arte. Artista não é quem sobe em palco e faz show, é quem constrói uma música da realidade e algo coletivo. O MST tem conseguido realmente, nesse momento terrível, fazer a juventude entender a arte”, garantiu o militante. Vindo de Minas Gerais, o artista contribuiu com oficinas de violão ao longo de quase todo o curso.

Sesóstris Filipe é mestre de bateria da Escola de Samba curitibana Leões da Mocidade e realizou oficinas nas três edições do curso. Para o artista, o samba enredo é um “movimento de resistência”. “Espero que o pessoal tenha aproveitado e que desperte uma mensagem positiva neles e sintam mais vontade de aprender samba”.

Eu acredito na arte, no sonho e na esperança que as coisa podem se modificar”. Foto: Valmir Fernandes

“Estamos nos preparando para luta, que vem chegando com muita força. Vamos trazer a nossa narrativa para essa história. Eu acredito na arte, no sonho e na esperança que as coisa podem se modificar. A arte é de extrema importância na nossa luta”, afirma Susi Monte Serrat, artista e educadora popular que também contribuiu nas edições anteriores do curso. Ela esteve entre as pessoas que mantiveram a alegria da Vigília Lula Livre, com apresentações musicais, rodas de conversa sobre cultura e ensinando outros militantes a cantar e a tocar violão.

A banda curitibana Partigianos apresentou uma aula-show com músicas de resistência e de cunho antifascista. Entre várias canções, a que teve maior destaque e participação dos educandos foi “Bella Ciao”, hino da resistência italiana contra o fascismo de Benito Mussolini e das tropas nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Também fizeram parte da assessoria do curso o músico Israel Laurindo, violonista de Londrina; Pedro Carrano, jornalista e escritor; e os militantes do MST Celio Andrei Schimidt e Igor de Nadai.

Música no acampamento


Karina Fernanda tem 14 anos e mora na ocupação Herdeiros da Luta de Porecatu, norte do Paraná, e conta que começou a tocar as primeiras notas na formação que acontece no seu acampamento, com um grupo de jovens e adultos. A partir das aulas iniciais na comunidade, se interessou em fazer parte da terceira edição do curso em Curitiba: “Gostei muito de participar do curso, quero continuar aprendendo para pode ensinar quem se interessa na minha base”.

O artista e coordenador do Coletivo de Juventude do MST Igor de Nadai é morador do acampamento Herdeiros e conduz as oficinas de música na comunidade. “É um grupo de estudo de violão, de iniciação para quem quer aperfeiçoar. Quem toca um pouco ensina os outros”. Ele conta que parte dos educandos participaram dos outros dois cursos, outros entraram depois e agora vieram para a esta terceira edição. Com a continuidade da formação e do treino em cada território, a música vai ganhando espaço e somando na luta pela reforma agrária em todo o estado.

Confira um dos poemas produzidos durante o curso

“Na luta dos sem tetos, sem armas, o amor é quem vencerá
Permanecerá derrubando os muros
Trazendo experiências de Paulo Freire, as canções de Chico Buarque, semeando cultura
Acabando com o poder do governo
Levando o povo ao poder
Acabando com o latifúndio, ombro a ombro, com a garra de cada protesto
A mulher guerreira encara a colheita do café, cada grão é colhido com zelo
De madrugada a madrugada traz a poesia e a beleza das crianças
Marcha, greve, barricada, lutando com garra, o povo não se cansa”

*Editado por Fernanda Alcântara