MST de Minas Gerais vai entregar mais de 2 mil Cestas de Natal em 2019
Por Agatha Azevedo
A partir da necessidade de pensar todo o processo de produção de alimentos, desde o plantio e a colheita, até o beneficiamento e a comercialização, o setor de produção do MST de Minas Gerais colocou o desafio de comercialização em larga escala para as nove regionais do Movimento a partir das Cestas de Natal do Armazém do Campo BH. Além de Minas Gerais, foram mais três estados participantes da cadeia produtiva – Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Paraná – para entregar cestas de natal em dois tamanhos. Variando de 13 a 18 produtos, a cesta partilha e a cesta comunhão representam a diversidade do território mineiro, e do MST a nível nacional, com doces, cachaça, geleia, e outras delícias.
As cestas de Natal reforçam que alimentar-se é um ato político. Para Maíra Santiago, da Direção Estadual do setor de produção, o desafio posto para o MST é o de pensar a produção de alimentos a baixo custo para a classe trabalhadora, que sustente o povo camponês e também dê acesso à variedade de alimentos saudáveis para o povo da cidade. “Só existimos enquanto Movimento, enquanto camponeses, pois existe cooperação entre nós. Desde a cooperação para a ocupação do latifúndio improdutivo até a cooperação na produção de alimentos. Desde o plantio, à colheita e comercialização. Esse é um diferencial que faz com que nossa produção tenha história de solidariedade e amor à vida e à terra, diferente da história dos produtos do agronegócio que tem veneno e morte”, explica.
Uma forma solidária de produzir na terra
A cooperação é um princípio do MST, e dentro desse desafio de garantir comida saudável por um preço justo para a classe trabalhadora, é preciso construir coletivos de produção e comercialização. Henrique Samsonas, do setor de produção no Vale do Mucuri é um dos técnicos responsáveis pelo feijão da Cesta de Natal, que além de cooperado, é agroecológico, pois “não é utilizado nem adubo de síntese química e nem agrotóxico na sua produção”. Os principais desafios para a produção na região, o armazenamento e a produção em larga escala, foram pensados com muito zelo para garantir a entrega de mais de 2 mil kg de feijão sem veneno.
Henrique afirma que esta é a primeira vez que a regional, local da primeira ocupação do MST de Minas Gerais, ensaca feijão, e todo o processo de limpeza e preparo foi feito forma coletiva, por meio de mutirões, fundamental para garantir o envolvimento da comunidade. “Para nós do Movimento, isso significa dominar a cadeira de produção desde a produção até o beneficiamento do feijão e a comercialização”, afirma, ressaltando a importância desse procedimento para a autonomia e a renda das famílias Sem Terra.
As mulheres também se destacam na produção agroecológica das Cestas de Natal do MST. Na Zona da Mata mineira, o Coletivo de Mulheres Olga Benário uniu o trabalho coletivo à cumplicidade das mulheres para produzir em larga escala. “Fizemos 2100 vidros de pimentas, foi a primeira vez que fizemos essa grande quantidade, a outra experiência nossa tinha sido na Feira Nacional e nos Festivais Estaduais. Essa experiência trouxe mais alegria para o Coletivo, deu mais esperança para trabalhar em coletivo e trouxe algumas mulheres que ainda não estavam produzindo, para o processo”, explica Sheila Pagnussatti, coordenadora do Coletivo.
Segundo Sheila, o trabalho desenvolvido pelas mulheres do Assentamento Olga Benário, que também comercializam em feiras locais, foi importante para construir a emancipação financeira, política e emocional das mulheres. “O Coletivo tem buscado o cuidado com a mulher, o empoderamento”, ressalta. Ela reforça que o trabalho não está ligado só à renda, mas aos desafios que surgem na vida das mulheres camponesas, como o cuidado dos filhos, a divisão de tarefas e a vida no Assentamento. Sobre as perspectivas de expansão do Coletivo, Sheila reforça que a cooperação é o caminho: “As companheiras ficaram empolgadas em continuar os trabalhos”.
Na relação da luta pela reforma agrária com a cidade, a agroecologia aparece como central para o MST, e é reforçada pela produção e comercialização das Cestas de Natal feita de forma libertadora, sem exploração da terra, das pessoas e dos recursos naturais. “A agroecologia vem para resgatar toda essa forma solidária de trabalho cooperado e produção de alimentos saudáveis. Vem no intuito de democratizar as terras. Ela está contramão do agronegócio. É um embate político, econômico e técnico ao agronegócio. E o primeiro embate é fazer reforma agrária e o segundo produzir alimentos saudáveis de forma cooperada. Essa é a bandeira do MST.”, ressalta Maíra Santiago.
Informações adquirir a Cestas de Natal e colaborar com o MST: