O legado de Simón Bolívar na América Latina de hoje
Por Vanessa Nicolav
Do Brasil de Fato
Nascido em Caracas, em 1783, filho de aristocratas, Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar dedicou a vida à libertação dos povos latino americanos do domínio do império espanhol. Teve sucesso na independência de cinco deles, e por isso ganhou o título de “O Libertador”. Após 189 anos de sua morte, completados nessa terça-feira (17), o legado de suas ideias ganha força em um contexto de revoltas populares na América Latina.
Para Alexandre Barbosa, doutor em Ciências da Comunicação e pesquisador da América Latina, Bolívar é considerado um exemplo para todos que defendem a ideia de soberania popular e a integração dos povos latino americanos. “Ele já tinha uma ideia que a América Latina deveria ser unida, na forma de uma federação – não na forma de um governo monárquico –, mas livre da escravidão, e principalmente, que tivesse um modelo de república diferente dos europeus e diferente dos americanos. Ele já achava que América Latina devia ter um caminho próprio para chegar a sua autonomia.” comenta o professor.
Responsável pela luta que deu origem à independência de Venezuela, Colômbia, Equador, ao Peru e à Bolívia, Simón Bolívar sonhava com a consolidação de uma Pátria Grande. O projeto não se consolidou, mas seus ideais de ganharam vida no século XX, quando o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, se autodenominou bolivariano, e lançou a corrente bolivarianista inspirada em suas ideias, em 1998.
Atualmente, a influência de Bolívar pode ser notada para além da experiência venezuelana, tanto nas imagens que se espalham pelas ruas latino americanas, quanto nas denúncias feitas pelas populações do Chile, Peru e Equador, que recentemente saíram às ruas contra as políticas neoliberais que interferem em seus países.
“Há particularidades, mas o que há em comum [nas revoltas latino americanas] é que são amostras de que a políticas neoliberais têm seu prazo de validade. Eu acredito que seja um momento comum de esgotamento, de enfrentamento. E isso o Bolívar falava muito: chega uma hora em que a letra da lei não está suficiente para resolver todas as demandas, isso não é ser contra a lei, mas você precisa avançar na conquista de mais direitos. É isso que acontece hoje na América Latina, as populações estão tentando aumentar a conquista de seus direitos”, conclui o professor.
No Brasil, em um contexto de retrocesso e retirada de direitos, as ideias de pátria forte e soberana revelam também sua relevância e atualidade, segundo Barbosa. “O Brasil tem uma série de particularidades que o afastou de seus irmãos, mas a gente precisa tentar buscar nossas raízes para a gente se perceber brasileiro, também é latino americano, essa é a principal lição que o Bolívar deixa pra gente.”
Edição: Julia Chequer/ Brasil de Fato