Homenagem do MST a Zilda Camargo Ramos, Tia Zilda
Da Página do MST
Na última quinta-feira, 30 de abril, o MST perdeu a militante Zilda Camargo Ramos. Em casa desde o início do mês de março, ela apresentou sintomas do novo coronavírus, foi internada e faleceu poucos dias depois.
Tia Zilda nasceu em casa, amparada por uma parteira, no ano de 1955 em um bairro operário de São Paulo. Era filha da classe trabalhadora: a mãe, dona de casa teve quatro filhas e um filho, o pai, funcionário da antiga Olaria da Vila Formosa.
Nos últimos 10 anos, Zilda trabalhou na Secretaria Nacional do MST, em São Paulo, e ficou conhecida entre nós como Tia Zilda. Moradora da Zona Leste Paulistana, ela saía de casa antes de o dia amanhecer e encarava diariamente a dura rotina no caótico transporte público de São Paulo.
Não tivemos tempo de nos despedir. Não como queríamos. Não como deveríamos. Neste momento em que cada um de nós busca sentido para os dias, receber a notícia de sua partida foi devastador. Em meio ao luto e ao sentimento de que ficamos um pouco órfãos, buscamos em suas lições cotidianas sobre humanidade o sentido para nos fortalecer e seguir adiante.
A ternura e a força de sua presença, sua delicadeza, gentileza e sua infinita capacidade de ser solidária nos ensinou muito sobre os mais importantes valores humanos que devem ser cultivados.
Por isso, tia, saiba que te reconheceremos na forma de escutar o mundo, na gentileza do olhar, no quentinho do café, nas covinhas do seu sorriso, mas, sobretudo, na sua presença tímida, que transbordava o ambiente de pequenos milagres que a brutalidade dos dias às vezes nos faz esquecer.
Tia, a senhora foi boa na alma. Não raro, ouvíamos relatos de seus “causos”, de suas gargalhadas e de suas preocupações com os outros. Agradecemos por todo seu legado de afeto genuíno e por seu incansável cuidado com o coletivo e com cada indivíduo.
Do lado de cá, continuaremos lutando e cuidando para que esse espaço-tempo em que vivemos seja melhor para todos.
Nosso desejo é que saibamos todos, como você soube, impedir que a brutalidade da vida, das desigualdades e das injustiças tire de nós a delicadeza deste sentimento. Que saibamos cultivar, como você soube, o amor que só os verdadeiros revolucionários cultivam.
Que viva sempre em cada militante as sementes de resistência e de perseverança que Tia Zilda plantou.