MST em Santa Catarina comemora 35 anos com atos de solidariedade
Por Juliana Adriano
Da Página do MST
Nesta semana do 25 de maio, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra realiza atos de solidariedade em comemoração aos 35 anos de história em Santa Catarina. Cerca de 6,4 toneladas de alimentos foram doadas em 4 regiões do estado e foi construída uma estufa destinada à produzir de alimentos para doação. Estas ações foram regadas pelas recordações das incontáveis ocupações realizadas nas mais de três décadas.
Recordar é viver e sentir-se Movimento
Irma Brunetto, da direção do MST, se emociona “olhando umas fotos, das poucas fotos que a gente tem do [primeiro] acampamento, ali da Serra do Papuã [em Abelardo Luz]”. Ela recorda que, naquela época, os poucos registros eram feitos com “aquela maquininha bem modesta”.
“Não se tinha muita coisa, e por ser a primeira ocupação as perguntas e as angústias eram muitas, a certeza era que “a gente saiu para lutar por um pedaço de chão, para lutar, a gente se desafiou, sonhou e foi!”.
Ao caminhar por seu lote, Vilson Santin, da direção nacional do MST, recorda que o trabalho de base iniciou em meados de 1984, após o primeiro encontro nacional do MST.
“Em 1985, fiquei uns 90 dias direto, dia e noite fazendo assembleia, trabalho de base em toda região oeste. E no dia 25 de maio nós fomos em três lá de casa”, lembra Santin. Naquela época as famílias eram grandes e levavam todo o pouco que tinham pra ocupação.
Izabel Grein, relembra que, quando chegaram, não havia nem estrada. “Hoje tem propriedades produzindo de tudo, tem escola, tem estrada, tem até uma universidade dentro do assentamento. Quantas conquistas que nós a 35 anos atrás nem imaginava que ia ter”.
Em Santa Catarina o MST conta hoje com cerca de 6 mil famílias, vivendo em 140 assentamentos que ocupam mais de 70 mil hectares de terra. Neste espaço há 26 escolas, 8 cooperativas, rádios comunitárias, postos de saúde e muita produção de alimentos saudáveis.
Para a comemoração das conquistas e dos 35 anos, Silvio de Araújo, dirigente estadual do Movimento, afirma que haviam planejado uma grande festa, mas a pandemia não permitiu.
“Por isso, estamos comemorando de outro modo, cuidando da saúde e realizando atos de solidariedade, doando alimentos. A solidariedade também é uma forma de cuidado, assim como recebemos alimentos quando estávamos acampados, agora doamos alimentos para aqueles que estão precisando na cidade”, afirmou Araújo.
25 de maio é comemorado por meio da Solidariedade
Em 1985, o MST realizou simultaneamente duas ocupações de latifúndios: 1.500 famílias em Abelardo Luz e 500 em São Miguel do Oeste. Hoje, a realidade desses municípios é de transformação pela produção de alimentos.
As famílias assentadas doaram cerca de 2 toneladas de alimentos para famílias com vivem no perímetro urbano de Abelardo Luza. A distribuição será realizada pelo Centro De Referência De Assistência Social (CRAS) do município. Em São Miguel do Oeste, o assentamento 26 de outubro organizou a doação 1,3 toneladas de alimentos para a Associação dos Catadores de São Miguel do Oeste (ACOMAR).
Na região do Vale do Contestado, no município de Caçador, o assentamento Hermínio Gonçalves realizou ação conjunta com a secretaria de educação, doando 2,5 toneladas de alimentos para complementar as cestas básicas organizadas pela prefeitura e entregues a 1.200 famílias de estudantes. Na região do planalto norte, assentamentos e acampamentos de Canoinhas e Irienópolis doaram cerca de 600 kg de alimentos para o CRAS, o hospital municipal e o lar de idosos.
As famílias do acampamento Filhos do Contestado, localizado em São Cristóvão Sul, passaram o 25 de maio construindo uma estufa no acampamento, onde produzirão alimentos destinados a doação neste período de pandemia a pós-pandemia.
Vilmar Baumgratz, da direção do MST, afirma que é importante não olharmos somente a quantidade de alimentos doados, “mas a diversidade, pois reflete a variedade da produção. Isso é resultado direto da reforma agrária”. Além disso, nos fala da “felicidade contida no olhar do assentado de pode repartir o fruto do seu trabalho, pois a solidariedade é compartilhar com a classe trabalhadora aquilo que se tem”.
Por fim, Izabel Grein conclui que é preciso comemorar “esse Movimento tão bonito que nós construímos nesses 35 anos, pois ele luta pela terra, luta pela reforma agrária e luta por uma sociedade onde todas as pessoas sejam respeitadas, onde não haja pobre nem rico, mas que todas as pessoas tenham terra pra trabalhar, tenham trabalho, tenham saúde, tenham escola, tenham acesso ao conhecimento, tenham a sua dignidade respeitada. Uma sociedade que tem lugar pra todos”.
*Editado por Fernanda Alcântara