Justiça por Miguel! Não foi acidente!

Morte do garoto Miguel, de 5 anos, por negligência da patroa da mãe, inflama debate sobre racismo no Brasil
Foto: Reprodução Facebook

Por Selma Santos*
Da Página do MST

O extermínio de vidas humanas da cor de pele negra está naturalizado e legitimado em nossa sociedade. A justificativa de que “faz parte da  mentalidade e comportamento de origem escravocrata” naturaliza ainda mais a questão. É fato que tem essa origem, pois estamos no século XXI e a elite brasileira continua bárbara, escravocrata, racista, xenófoba, “higienista”, onde o tronco e o açoite estalam sobre a carne de pobres negros/negras cotidianamente e, quando não, impõe execução à sangue frio. Não é, portanto, só de fundamento cultural, fruto de um pensamento e comportamento do passado reproduzido no presente.

Esse racismo estrutural é moderno e faz parte da lógica burguesa sob a ordem do capital.  Não podemos aceitar mais que essa lógica seja naturalmente justificada continue a vigorar. Não podemos permitir que a cor da pele seja determinante para as maiores atrocidades e injustiças contra os nossos.

Predomina, na ordem capitalista, a exploração da mão de obra negra cada vez mais precarizada, pauperizada em troca da acumulação de fortunas por parte de uma pequena minoria da elite branca, proprietária,  privilegiada.

Tem razão a música “a carne mais barata no mercado é a carne negra”, interpretada tão fortemente na voz de Elza Soares. O extermínio só tem aumentado num estado de exceção permanente, como tem sido nos últimos anos. Há uma guerra “oculta” em campo aberto, em que de um lado, militares fortemente armados contra um povo trabalhador, composto por homens, mulheres e crianças negados nos direitos básicos fundamentais, que vivem na pele a violência do Estado e da propriedade privada.

A ofensiva militar com caráter de genocídio étnico racial é cotidiano nas periferias (onde a juventude e as crianças tem suas vidas ceifadas) e onde só morrem negros pobres. Esta verdadeira guerra unilateral foi divulgada oficialmente como combate ao narcotráfico, mas, na realidade, faz parte de um plano “higienista” e de controle social, cujo laboratório foi a operação Minustah, no Haiti, e posteriormente implementada no Rio de Janeiro e demais cidades com grandes periferias.

O método  “antiguerrilha urbana” é o que faz “desovar” nos lugares mais obscuros a maior parte da juventude assassinada. Alguns poucos casos vem à tona na imprensa. A anunciada medida de “prevenção” foi necessária, dadas as políticas reformistas de apertar os cintos, para evitar que o povo não descesse o morro. O controle social punitivo inaugurou o imponente Caveirão, juntamente com um grande arsenal de armamentos pesados, constantemente renovados, dando alta lucratividade à indústria bélica. Essa estratégia mortífera visa a colaborar com a “ordem, a segurança e a defesa da pátria!”.

O extermínio negro aumenta em quantidade e potencialidade num governo em que se predomina o espetáculo do ódio e horror, como é o caso do governo miliciano dos tempos atuais. Basta ver um novo “capitão do mato”, que preside a Fundação Palmares, compactuando covardemente com a sentença de morte a seus irmãos ancestrais.  

Em plena pandemia,  a polícia tem matado muito mais que antes da crise sanitária. Mata-se por motivos torpes e banais. Como não bastasse as milhares de vidas interrompidas pela COVID-19, crescente nas estatísticas dos noticiários, causada em grande parte pela irresponsabilidade deste desgoverno.

Nos dias de hoje, o sadismo sustenta a estética do horror. Não basta reparação com desculpas, pagamento de fiança ou prisão com viés sensacionalista.  Historia de séculos de injustiça exige uma reparação coletiva e revolucionária. Que os ventos do Norte movam moinhos!

Viva a luta antirracista antifascista, anticapitalista, antiimperialista!

*Selma é militante do MST no estado de São Paulo e integrante do Coletivo Nacional de Formação do MST

**Editado por Luciana G. Console