Mulher negra e dirigenta “é desafiar todos os dias os paradigmas”
Pelo Setor de Comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST
Dia 25 de julho comemora-se o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Dia que se fortalece a força e resistência das mulheres negras que ousam se organizar para lutar contra as formas de opressão que vivenciam na sociedade.
Como várias mulheres resistiram no passado, há milhares de mulheres no Brasil resistindo e lutando por direitos e por uma sociedade mais justa e digna para todas. Mulheres que se colocam como linha de frente no combate ao racismo, machismo e tantas outras formas de opressão.
Lucineia Durães do Rosário, também conhecida como Liu, tem 36 anos, nasceu na zona rural do município de Prado. Liu cresceu sem a presença paterna. Quando nasceu a família ainda não vivia em áreas de acampamento ou assentamento, ela diz que mais tarde foram para a área de Reforma Agraria. O sonho de uma vida melhor e mais digna foram os motivos que levaram a família a tomar essa decisão.
Hoje tem dois filhos, uma menina e um menino, e tem um companheiro com quem divide as alegrias e as lutas do dia a dia. Liu fala toda orgulhosa que foi alfabetizada no acampamento do MST, foi onde teve oportunidade de conhecer as letras. Nas condições que vivia antes, corria o risco de
não ter acesso à educação.
“Minha ação como dirigenta é uma ação coletiva do que são as mulheres Sem Terra, eu sou o que elas são”
“Na verdade, tudo que eu sou, tudo que eu tenho e conquistei, devo ao MST”, afirma. Formada em Engenharia Agronômica, assentada e membro da Direção Nacional do MST, se vê como uma mulher negra e empoderada, mas afirma que nem sempre foi assim.
Durante o ensino fundamental, conta que passou por vários momentos de racismo. “Pra falar a verdade, na minha vida, primeiro me percebi negra, depois me percebi como mulher negra. Como sou filha de mãe solteira, na escola sofri muita discriminação por ser preta, por ser negra, esse reconhecimento foi à custa de muita briga, muita luta e foi muito doloroso”.
Com a inserção nas atividades e tarefas do MST, a partir das lutas das mulheres e das pautas reivindicadas por elas, no bojo da luta por paridade, protagonismo e pelo feminismo camponês e popular, Lucineia se reconheceu enquanto mulher negra e Sem Terra.
Logo cedo já se destacava pela capacidade de liderança, conhecimento, inteligência e admirável oratória, com essas qualidades e um grande potencial, inicia sua jornada de militância pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
Foi coordenadora do curso técnico de agropecuária, dirigente da Brigada Joaquim Ribeiro, no Extremo Sul da Bahia, e logo em seguida foi chamada para ser articuladora política da regional Baixo Sul. Hoje ela é Dirigenta Nacional do MST na Bahia.
“Ser mulher dirigenta é desafiar todos os dias os paradigmas. Há um entendimento geral que dirigir é coisa de homem, isso me obriga a fazer tudo perfeito, sem direito ao erro. É necessário muita ousadia e, decididamente, só encontro isso no conjunto das minhas companheiras, no processo de organização. Minha ação como dirigenta é uma ação coletiva do que são as mulheres Sem Terra, eu sou o que elas são”.
Em sua trajetória na militância presenciou vários despejos, viu as pessoas sem ter a oportunidade de se despedir da terra e dos seus bens, mas já pôde ver várias conquistas, vendo o povo irradiar felicidade ao plantar suas primeiras sementes e ver germinar vida.
Em seus momentos livres, se dedica ao estudo, ao lote, a plantação, família e amigos. Ama dar boas risadas na companhia dos amigos e não dispensa uma boa resenha. Liu sonha com um mundo onde a classe trabalhadora possa triunfar com a revolução, que nos ajude na construção dessa nova sociedade, onde homens e mulheres possam ser felizes usando e abusando da coletividade, onde a humanidade e a solidariedade sejam os pilares fundantes. Sonha em ver a democratização da terra, dos direitos, um lugar onde todas e todos sejam livres para ser quem quiserem, sem se preocupar com a opinião alheia. Onde todas e todos tenham uma vida digna.
*Editado por Yuri Simeon