Cestas agroecológicas têm colocado comida na mesa dos mineiros
Por Iris Pacheco
Da Página do MST
Você já parou para pensar de onde vem a comida que está na sua mesa? O que envolve o seu processo de produção? São questões que, mesmo antes da pandemia, já se faziam necessárias refletirmos sobre o que nos é essencial à vida.
Durante a quarentena esse processo se amplia e somos levadas a pensar sobre a soberania e segurança alimentar, que envolve, sobretudo, uma política governamental efetiva para que todas e todos tenham uma alimentação digna e de qualidade. É o caso do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), política federal criada em 2003 e que vem sofrendo cortes desde 2017.
A agricultura familiar é responsável por boa parte da produção de alimentos que estão em nossa mesa. Nesse sentido, indo na contramão dessa política de morte do governo Bolsonaro e Zema, o MST em Minas Gerais já vinha construindo formas incentivos à produção coletiva de alimentos que resultam na organização das cestas agroecológicas e dos grupos de consumo locais, construindo assim uma parceria entre quem produz o alimento e quem os consome.
Segundo Bruno Diogo, do Setor de Produção do MST em MG, “vem se usando a denominação de cooprodutor para estes consumidores, pois cumpre um papel fundamental a partir do momento que faz a escolha e opta por essa via de comercialização direta, que possibilita que quem está na cidade se alimente dos produtos das áreas de acampamentos e assentamentos. Na verdade, esses consumidores também opinam, dialogam e interagem com os produtores/as. Muitas até participam até do processo de produção ao visitarem as áreas e se integrarem em mutirões de trabalho.”
Com a pandemia e o isolamento social, essa iniciativa, que vem se desenvolvendo há um tempo, se intensificou bastante. Em um cenário crítico como o que o Brasil vive, essas iniciativas articulam ambos os lados, pois ganha quem produz alimento saudável e acessível e também quem adquire esse alimentos. É um processo que fortalece os laços entre o campo e a cidade, mostrando que existe outro modelo de produção, que não é baseado na exploração do trabalho e dos bens naturais.
Nesse sentido, Kallen Oliveira, do Setor de produção do MST na região do Vale do Rio Doce, ressalta que “as cestas agroecológicas tornaram-se uma importante via de comercialização, seja pelo ganho financeiro, por possibilitar melhores preços entre os demais canais, mas sobretudo, pelo ganho político que é comercializar a produção da Reforma Agrária Popular diretamente com o consumidor, dialogando com o conjunto da sociedade.”
As iniciativas da cestas agroecológicas e dos grupos de consumo nas distintas regiões do estado de Minas Gerais tem possibilitado vencer os desafios que existem para garantir que a produção Sem Terra chegue até a mesa a povo. “Para nós, essa iniciativa ajuda a reforçar a mensagem da bandeira: alimentar é um ato político, além de pontuar a importância da reforma agrária na produção de comida de verdade para quem está na cidade. Um alimento saudável e sem agrotóxicos”, enfatiza Bruno.
Atualmente, as experiências tem sido desenvolvidas de forma contínua em cinco regiões: Vale do Rio Doce, Metropolitana, Triângulo Mineiro, Sul de Minas e Zona da Mata. Organizadas a partir dos núcleos de agroecologia dentro das áreas de assentamentos e acampamentos, a produção comercializada a preço justo é proveniente das agroflorestas e plantios de ciclos curtos, tais como verduras e hortaliças.
Um dos objetivos centrais desse processo é fortalecer a organização produtiva tendo a agroecologia com matriz tecnológica, como promover qualidade de vida para as famílias acampadas e assentadas, possibilitando a geração de trabalho e renda. Além disso, dialogar com a sociedade sobre o projeto de Reforma Agrária Popular à medida que fornece alimentos saudáveis a preço justo.
Bruno ainda avalia como algo positivo a ampliação e consolidação dessa experiencias nas inúmeras regiões do estado e vê a importância de uma boa comunicação nesse processo. “Os números são promissores em termos de abrangência. A partir dos grupos e das redes sociais, as páginas que vem divulgando e organizando esse processo se ampliam cada vez mais. Ao mesmo tempo, exige das famílias produtoras o desafio de ter mais diversidade de produtos para poder aumentar integralmente a cesta de consumo”, ressalta.
Produção e Cooperação
Se compreende como cooperação todo o processo de produção e organização da cesta, desde o plantio, a colheita, a montagem e a logística de entrega. De acordo Paula Ribeiro Guimarães, coordenadora técnica da Cooperativa central dos assentados/as de MG (Concentra), “a cooperação é um princípio do Movimento Sem Terra. É um elemento central para garantir que o processo de comercialização das cestas aconteçam. É através da cooperação, do trabalho coletivo, que a produção feita por famílias camponesas é organizada e distribuída. A cooperação está em todo o processo, desde a organização e planejamento do que vai ser plantado, da colheita e de toda organização da distribuição dos produtos e de montagem e entrega das cestas.”
Além dos alimentos in natura, as cestas agroecológicas em Minas Gerais vão além e organizam um outro processo que é o da cooperação, incluindo em suas listas produtos beneficiados das cooperativas de reforma agrária de todo o estado e até mesmo de outros estados, como por exemplo o arroz orgânico produzido no Rio Grande do Sul.
Para essa relação dá-se o nome de intercooperação. Segundo Paula, esse elemento significa que “os produtos produzidos em uma cooperativa fazem um intercâmbio para outras cooperativas através da cooperativa central, que é a Concentra, possibilitando que os produtos de uma regional componha a cesta de outra regional, sendo incorporados nas cestas. “Garantimos assim uma grande diversidade de produtos para além dos produtos frescos, como hortaliças e frutas, e caminhamos cada vez mais para termos uma cesta básica mais completa com feijão, arroz, farinha, café, doce, etc.”
Solidariedade
O momento é incerto, e não sabemos como será o futuro, porém tudo indica que a crise se prolongará e seguirá dificultando a sustentabilidade da vida. Nesse sentido, a solidariedade tem sido uma aposta não somente dos movimentos e organizações populares, mas do povo brasileiro. Na medida em que os órgãos responsáveis se ausentam para atender as situações de desnutrição da população em situação de vulnerabilidade, essas iniciativas de organização tem possibilitado construir processos para atender essas as necessidades dessas famílias.
A partir da construção do Mutirão do Bem Viver, com a proposta de financiamento coletivo, tem sido possível construir dentro das áreas de acampamentos e assentamentos da região metropolitana cestas de consumo consciente para atender famílias em situação de vulnerabilidade social.
Todas essas iniciativas são divulgadas nas redes sociais do MST em Minas Gerais, como a página do facebook e instagram Minas Sem Terra. Além disso, é possível adquirir todos esses produtos a partir das cestas agroecológicas organizadas também pelo Armazém do Campo na capital mineira, Belo Horizonte.
*Editado por Fernanda Alcântara