Comitiva do MST realiza visita solidária a Dom Pedro Casaldáliga, em Batatais/SP
Por Filipe Augusto Peres, do Setor de Comunicação do MST em SP
Da Página do MST
Nesta quinta-feira (6), uma comitiva do MST foi até o município de Batatais/SP (a 354km do município de São Paulo) levar o seu apoio a Dom Pedro Casaldáliga, Bispo de São Felix do Araraguaia (MT), internado desde o último dia 4 no hospital da Congregação dos Claretianos, devido a problemas respiratórios.
A comitiva foi recebida pelo Padre Ronaldo Mazula, missionário claretiano assim como Dom Pedro. De acordo com o padre, a Congregação de Santa Maria Claret possui uma boa estrutura para acolher Dom Casaldáliga. “Em Batatais, os missionários claretianos, têm um colégio, uma casa de idosos e uma ótima Santa Casa, onde Pedro está internado na UTI”, afirmou.
Ronado Mazula afirma que Dom Pedro teve uma infecção pulmonar e que, apesar de todos os cuidados que o Casaldáliga tinha no hospital de São Felix do Araraguaia, este não oferecia condições de realizar um procedimento pulmonar. “Ele veio em um avião UTI para Batatais”
Sobre o estado de saúde do Bispo de São Félix do Araguaia, Mazula disse que o quadro de infecção pulmonar permanece, mas que houve uma progressão do quadro após uma pulsão pulmonar.
“Ele tem uma ótima saúde cardíaca. Ele tem outros probleminhas de ordem física, de ordem interna também. Estava um pouco desnutrido por causa do sofrimento das últimas semanas mas a nossa expectativa é que ele possa se recuperar”.
Visita de Bispo Dom Moacir, Bispo de Ribeirão Preto
Pela manhã, às 9:00, acompanhado do Bispo de Ribeirão Preto, Dom Moacir Silva, o Padre Ronaldo Mazula fez uma visita a UTI de Batatais e deram uma benção a Dom Pedro. De acordo com o missionário claretiano, os médicos passaram-lhe um prognóstico positivo.
“É claro que isso depende dos próximos dias. Ele está sendo tratado no momento com antibióticos e está fazendo vários exames. Um prognóstico positivo e otimista seria de que permanecesse quem sabe mais uns três dias na UTI, mais uns quatro ou cinco dias em um quarto da Santa Casa e, posteriormente, viesse para a Domus Claret, que é uma clínica de idosos missionários claretianos que temos aqui em Batatais. E, se for da vontade de Deus, ele tiver condições de recuperar bem a sua saúde, retornar a São Félix do Araraguaia (MT)”, afirmou o padre.
Entrega de cesta agroecológica e mensagem ao MST
Durante a visita, a comitiva do MST entregou ao Padre Ronaldo Mazula uma cesta com produtos advindos da reforma agrária. Neusa Paviato, da Direção Estadual do MST/SP, ressaltou a importância da visita a Dom Pedro para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
“Nós viemos aqui para fazer uma visita, mesmo sabendo que ele está impossibilitado. Mas nós trouxemos alguns presentes para vocês. Desse modo, assim que ele sair poderá ficar sabendo que estivemos aqui trazendo um pouco da produção realizada em nossos assentamentos que ele tanto apoiou”.
Além da cesta de alimentos saudáveis, o MST entregou uma agenda e um boné ao Padre Ronaldo.
Em sua fala, direcionada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Padre Ronaldo Mazula pediu que os militantes do MST rezassem por Dom Pedro Casaldáliga. Entretanto, além da oração pela recuperação do Bispo de São Félix, Mazula pediu que o MST continue defendendo as causas de Dom Pedro.
“[É importante que] acima de tudo, possamos nos unir às causas que ele seguiu e amou na sua vida: a justiça, o amor, a fraternidade, a construção do outro mundo possível e necessário.[…] Que, como Dom Pedro, o MST, a CPT, o CIMI continuem defendendo os direitos dos mais pobres, dos excluídos, dos marginalizados. O nosso país precisa de gente com coragem de construir um país mais justo e fraterno. Este é o nosso sonho enquanto homens, enquanto mulheres, enquanto cristãos, missionários e missionários. Este é o sonho de nosso querido Dom Pedro Casaldáliga: uma terra sem males, uma terra sem cercas, uma terra sem injustiça; Deus abençoe a todos vocês e rezem pelo nosso querido profeta, Dom Pedro Casaldáliga”.
Ao final de sua fala, Padre Ronaldo Mazula pediu que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra mantenha a causa justa que tanto o caracteriza.
Quem é Dom Pedro Casaldáliga
Conhecido internacionalmente por sua luta em defesa dos indígenas e dos camponeses Sem Terra, Dom Pedro Casaldáliga nasceu na Catalunha (Itália). Filho de camponeses, chegou ao Brasil com a Congregação dos Claretianos em 1968, ano da implementação do Ato Institucional Número 5 (AI-5), e como missionário enfrentou os desafios da exclusão, da miséria e da fome.
“Pedro foi para o Mato Grosso, para a cidade de São Felix do Araguaia, seguindo o Rio Araguaia. Nessa região a ditadura militar seguia a sua expansão em benefício do agronegócio, do latifúndio. Neste contexto, muitos indígenas, ribeirinhos, caboclos sofriam com a invasão do branco latifundiário, do branco destruidor das florestas e das matas”, afirmou Padre Ronaldo Mazula.
Em São Felix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga conhece o missionário francês Francisco Jentel. Em 1971, convidado pelo Papa Paulo VI, torna-se Bispo Prelado de São Felix, onde escreve a famosa Carta Pastoral de 1971 em que se opõe ao latifúndio, questiona o sistema capitalista e os ataques às populações mais pobres e carentes do Mato Grosso, o que o fez ser perseguido pela ditadura e ser, muitas vezes, incompreendido pela própria Igreja Católica.
Fundou, juntamente com Dom Tomás Balduíno, o CIMI (Conselho Indigenista Missionário), em 1970. Dom Pedro participa, também, junto a Dom Luciano Mendes e Dom Paulo Evaristo Arns da organização da CPT (Comissão Pastoral da Terra), nos anos 70 e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
A atuação de Dom Pedro fez com que o missionário claretiano fosse perseguido e sofresse atentados contra a sua vida. O mais famosos dessas tentativas de assassiná-lo ocorreu em 1976, quando cangaceiros mataram o Padre João Bosco Penido Burnier, em Ribeirão das Cascalheiras, de emboscada, jesuíta que trabalhava com Dom Pedro junto aos índios da etnia Bakairi,
“Dom Pedro teve de carregar Padre João Bosco ensanguentado nos braços”, afirmou Padre Ronaldo Mazula.
*Editado por Fernanda Alcântara