Acampamento do MST faz mutirão para criar horta comunitária que doará alimentos no Paraná
Por Coletivo de comunicação da comunidade Maila Sabrina (MST-PR)
Da Página do MST
Nesta quarta-feira (25), cerca de 400 pessoas do acampamento Maila Sabrina, de Ortigueira (PR), realizaram um mutirão para construir e inaugurar, em apenas um dia, a horta comunitária Antonio Tavares. Os produtos da ação tem como objetivo garantir a continuidade das doações de alimentos para famílias em situações de vulnerabilidade nas cidades, hospitais e asilos.
Os alimentos também vão suprir as necessidades de famílias recém chegadas na comunidade e que ainda não começaram a colher, além de viabilizar um banco de sementes crioulas para uso da própria comunidade.
Foram plantados cerca de 400 bananeiras, 100 quilos de sementes de arroz, feijão e milho, 10 mil pés de mandioca e 300 mudas de mandioquinha salsa. Nesta área já foram plantados 1.500 pés de melancias. A roça tem ao todo 2 alqueires.
Nossa produção de alimentos é a prova que a Reforma Agrária dá certo
A horta comunitária recebeu o nome de Antônio Tavares em homenagem ao militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Paraná, assassinado pela Polícia Militar há 20 anos.
Dar o nome de Antônio Tavares, que em sua militância, defendia que o trabalho fundamental do MST é a produção de alimentos, é uma iniciativa que ocorre também em mais de 20 comunidades do Paraná, que mantém áreas de plantio com o mesmo nome.
A militante Jocelda Oliveira, integrante da coordenação do acampamento Maila Sabrina, reforçou o papel da Reforma Agrária na garantia de alimento para os mais necessitados. “Esta produção de alimentos prova que a Reforma Agrária dá certo, que a Reforma Agrária é pra produzir alimentos e matar a fome do povo”.
Desde o início da pandemia, a comunidade já doou cerca de 34 toneladas de alimentos e 1.900 pães caseiros para famílias em situação de vulnerabilidade de Curitiba e Londrina. “Nós aqui sempre tivemos esta prática de produzir comida e produzir subsistência. Esta horta que estamos inaugurando hoje é para continuar nossas doações que estamos praticando desde abril. Em solidariedade, doamos uma parte da nossa produção para as famílias das cidades que estão passando fome e cuja situação piorou com a Covid-19 e o desemprego”, diz Jocelda Oliveira.
Esta atividade se soma à campanha nacional de solidariedade encampada pelo MST desde o início da pandemia. Com esta ação, as famílias Sem Terra do Acampamento Maila Sabrina plantam na terra e cultivam a solidariedade, com o objetivo de continuar as iniciativas de doações de alimentos para as comunidades vulneráveis das áreas urbanas.
No Paraná, o volume de doações chegou à marca de 442 toneladas de alimentos distribuídos gratuitamente ao longo dos meses. Ao todo, 51 acampamentos e 121 assentamentos do MST participaram das campanhas solidárias.
A história da comunidade Maila Sabrina: 18 anos de luta pela terra e por dignidade
Em 2003, famílias do MST ocuparam a então chamada fazenda Nossa Senhora do Carmo, em busca de terra para produzir alimentos e construir a Reforma Agrária Popular.
A fazenda era um dos maiores latifúndios do Paraná e não cumpria os critérios de Reserva Legal. Além disso, havia uma criação de búfalos, que inicialmente impedia o cultivo da terra, pois os búfalos degradavam e compactavam o solo, bloqueando o crescimento de produção vegetal.
Hoje, a comunidade Maila Sabrina é formada por aproximadamente 2 mil pessoas, que foram se organizando e logo iniciaram a produção de alimentos. Através da organização das famílias e muito trabalho coletivo, foram sendo construídas as estruturas hoje existentes: casas, escola, unidade de saúde, igrejas, mercado, lanchonete, campo de futebol, pista de laço, salão social, poços artesianos e áreas de lazer e de convívio em comunidade equipadas com churrasqueiras.
O acampamento Maila Sabrina é o 5º maior distrito rural do Paraná, com mais habitantes do que 30 municípios do estado, conforme estudo realizado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
“Aqui é o sonho que a gente pediu, viver uma vida, ter um lote, fartura, muita coisa pra você poder receber os parentes, o pessoal da organização chegar aqui e se sentir à vontade, esse que é o sonho da gente”, diz Ademar.
O casal de agricultores Ademar Ramos Godoy e Adelir dos Santos Alves vivem no acampamento há 2 anos, e cultivam uma variedade de alimentos para o autossustento, além de garantir uma renda com a produção de vassoura caipira, vendidas na própria comunidade e para as cidades vizinhas.
Os camponeses têm um filho de 13 anos e agora Adelir está grávida de 8 meses. “Pra ele [o filho] aqui é o lugar certo, fora da cidade, porque na cidade tá complicado criar filhos. Aqui vai ser ensinado desde pequeno a trabalhar e a viver em comunidade”.
*Editado por Ludmilla Balduino