Semeando a Resistência
Pela vida e contra as violências, camponesas do MST no PR realizam ações solidárias
Por Setor de Comunicação e Cultura do MST no PR
Da Página do MST
A pandemia do coronavírus impediu a realização das já conhecidas marchas das mulheres no 8 de março. Desta vez, o Dia Internacional das Mulheres é marcado por ações de solidariedade e atos simbólicos de protestos para denunciar a crise estrutural que o Brasil atravessa.
No Paraná, camponesas integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizaram ações em 11 cidades. As iniciativas fazem parte da jornada nacional do Movimento, que tem como tema “Mulheres pela vida, semeando a resistência contra a fome e as violências”, e ocorre desta segunda até o dia 14, domingo.
Para Ceres Hadich, integrante da direção nacional do MST e assentada no norte do Paraná, a crise de Saúde Pública e a falta de vacinas comprovam a ação genocida do governo Bolsonaro durante a pandemia. Por outro lado, chama a atenção para a “pandemia” da fome que também se aprofunda pela negligência do Estado.
“A fome é uma violência estrutural, que infelizmente assola milhões de pessoas no nosso país e no mundo […]. Precisamos enfrentar a fome como uma questão política, e defender o direito de comer bem como um ato humano primordial e necessário”. Somando a este aspecto, a agricultora frisa a pauta da defesa da luta contra as diversas formas de violências, contra as mulheres, as pessoas LGTB, os vulneráveis, as crianças e trabalhadores no geral.
Na capital do Paraná, 1.100 marmitas foram produzidas pelo coletivo Marmitas da Terra e pela Frente Feminista de Curitiba e Região Metropolitana. As refeições foram distribuídas nas praças Tiradentes e Rui Barbosa, principalmente para pessoas em situação de rua; para moradores de ocupações dos bairros Parolin e Tatuquara; e para a Casa de Acolhida do Migrante e do Refugiado, com distribuição nos bairros Capão Raso e no Umbará.
Gisele David, integrante do MST e do Coletivo das Marmitas da Terra, frisa que a ação desta segunda-feira faz parte de um processo mais amplo de solidariedade em Curitiba. “Nosso objetivo é continuar a luta que acontece historicamente no 8 de março, e ao mesmo tempo, contribuir solidariamente com as pessoas que estão precisando”.
As mulheres também farão doações de sangue no hemobanco da cidade ao longo de toda a semana, para contribuir com a reposição dos estoques neste período de pandemia. E também haverá mutirão de plantio nas agroflorestas do assentamento Contestado, na Lapa, no dia 13.
A distribuição de marmitas também marcou as mobilizações em Londrina, norte do estado, com doação de 500 refeições a pessoas em situação de vulnerabilidade dos bairros São Jorge, da zona norte, e Moka, do leste da cidade. Outras 500 marmitas serão doadas nesta terça-feira (9) na zona sul, nas Vilas Feliz e Cristal. Doações de sangue vão ocorrer no Hemocentro da Universidade Estadual de Londrina (UEL), nos dias 8, 9 e 10, com participação de 50 pessoas no total. Em diversas cidades da região norte haverá plantio de jardins em homenagem a Marielle Franco, no dia 14.
Em Castro, 165 cestas de alimentos agroecológicos foram entregues a trabalhadores do hospital Cruz Vermelha Brasileira, em agradecimento aos profissionais que estão na linha de frente do combate à Covid-19. Os alimentos são frutos dos acampamentos Maria Rosa do Contestado e Padre Roque Zimmermann, de Castro – ambos 100% agroecológicos -, e acampamento Emiliano Zapata, de Ponta Grossa, que tem a maior parte da produção também sem uso de agrotóxicos.
Entre os itens que farão parte da cesta estão feijão, arroz, mandioca, milho verde, bolachas, batata doce e frutas, além de macarrão caseiro produzido pelo Coletivo de Mulheres da comunidade Maria Rosa.
Rosane Mainardes, integrante da coordenação do acampamento Maria Rosa do Contestado, explica que os alimentos chegaram às mãos de médicos, enfermeiras, atendentes, equipes de limpeza e demais trabalhadores do hospital. “É o nosso agradecimento por esses profissionais estarem sempre à frente nesta pandemia, correndo risco por nós, é uma forma de mostrar nossa gratidão. Também sabemos que alimentos saudáveis melhoram a imunidade, por isso entregamos alimentos agroecológicos, sem veneno”, explica.
As ações das mulheres Sem Terra do sudoeste se concentram em Francisco Beltrão, com a doação de 90 cestas com alimentos agroecológicos para famílias de catadores de materiais recicláveis. A doação é organizada pelos acampamentos Terra Livre e Mãe dos Pobres, de Clevelândia, e pelo assentamento Missões, de Francisco Beltrão, a partir de alimentos agroecológicos cultivados em hortas coletivas das comunidades e nas lavouras das famílias camponesas.
Também se soma à ação o Coletivo Regional de Mulheres e o Fórum Regional das Organizações e Movimentos Sociais Populares do Campo e da Cidade do Sudoeste do Paraná, com doação de kits de limpeza, de roupas e de alimentos não perecíveis. Em diversas cidades da região haverá doação de sangue ao longo de todo o mês de maio.
Bruna Zimpel, integrante da direção estadual do MST e acampada em Clevelândia, explica que a doação busca valorizar os trabalhadores da reciclagem, responsáveis por uma ação fundamental à preservação da natureza. Além de solidariedade com as famílias que enfrentam dificuldades de garantir o alimento na mesa neste período de pandemia, “a ação é em protesto por vacina já e para toda a população, em defesa da vida e do Sistema Único de Saúde (SUS), e também contra a fome e as diversas formas de violência”, conta a agricultora.
No município da Lapa, 300 quilos de alimentos da Reforma Agrária foram doados a uma clínica que atende dependentes químicos. Em Paranavaí, 3,5 toneladas de alimentos foram doadas ao Hospital Santa Casa, na tarde desta segunda-feira. Entre a diversidade de alimentos agroecológicos entregues à instituição estão tubérculos, frutas, verduras, panificados, ervas medicinais, arroz, melado de cana, açúcar mascavo e leite.
Os alimentos foram doados pelos acampamentos e assentamentos da Reforma Agrária dos municípios de Cruzeiro do Sul, Paranacity, Querência do Norte e Planaltina do Paraná, além das cooperativas COPAVI e COANA. Mulheres da região noroeste também se mobilizam para doar sangue no Hemobanco de Maringá.
Em Laranjeiras do Sul, as camponesas preparam 500 pães que foram doados a famílias em situação de vulnerabilidade de três bairros da cidade. Ainda na região centro do estado, mulheres de comunidades de Quedas do Iguaçu: doação de alimentos para a Casa do Idoso e das Crianças, no dia 8. O acampamento Herdeiros da Terra de 1º de Maio, de Rio Bonito do Iguaçu, se organizaram para doações de sangue em Guarapuava. Além de formações online para as mulheres da região. Em Cantagalo, foram plantadas 30 mudas de árvores nativas. Em Boa Ventura de São Roque, as mulheres também farão doação de sangue ao longo da semana.
“A nossa ação é uma reação à situação que vivemos hoje no país, a falta de política séria de proteção à população diante da Covid-19, a crise na produção de alimentos, e crise econômica e política que tem se agravado dia a dia”, garante Thaile Lopes, coordenadora do coletivo de mulheres da região Centro do Paraná, moradora do assentamento 8 de Junho.
Na região centro-oeste, 100 cestas foram doadas a famílias vulneráveis de Peabiru, a partir de doações vindas do acampamento Valdair Roque e do assentamento Monte Alto, de Quinta do Sul; e do acampamento Marajó, de Peabiru
Para fortalecer a produção de alimentos para a continuidade das ações de solidariedade, haverá mutirão de plantio em agroflorestas coletivas em assentamentos de Jardim Alegre e da Lapa; e plantio de jardins em homenagem a Marielle Franco, no dia 14, em diversas cidades do estado. Haverá atos simbólicos com faixas em defesa do SUS e pela vacina já e para toda a população, em diferentes cidades.
As iniciativas serão realizadas com atenção aos cuidados contra a disseminação do coronavírus, com distanciamento social, uso de máscara e álcool em gel.
*Editado por Fernanda Alcântara