Arroz Agroecológico
Live comemora a 18ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz Agroecológico
Por Maiara Rauber
Da Página do MST
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) resgatou o objetivo da Reforma Agrária e o atualizou, para então reconhecer a família agricultora como guardiã das florestas, das sementes, das nascentes, dos rios e da fauna. Por isso, os Sem Terra passaram a entender que o território conquistado tem um compromisso com a sociedade e com o planeta de produzir alimento, mas também de cuidar da natureza.
Um dos maiores exemplos disso está nos assentamentos do Rio Grande do Sul, na produção do arroz agroecológico. Em 2021 se completam mais de 20 anos no trabalho com o alimento orgânico, e isso vai ao encontro de processos alternativos à agricultura do agronegócio. Sendo assim, ao trabalhar com a agroecologia, os assentados estabelecem relações de respeito e integração entre os seres humanos e os recursos naturais.
Prezar pela vida é a principal causa do MST. Portanto, neste ano, devido à pandemia da Covid -19, para comemorar a 18ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz Agroecológico, foi feita uma live para o evento. O ato realizado ontem, dia 30 de março, contou com participações de aliados da agricultura familiar nacionais, como Manuela D’Ávila, deputado estadual Edegar Pretto, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) Amarildo Pedro Cenci, Frei Vilson Dallagnol e convidados internacionais.
Soberania Alimentar, Agroecologia e Reforma Agrária Popular foram os temas debatidos nesta edição. Segundo Nelson Krupinski, do setor de comercialização da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap), produzir de forma agroecológica, tanto para o MST quanto para os produtores, é um modo de vida.
“Buscamos a harmonização dos recursos naturais com a nossa produção, e para isso, preservamos a fauna e a flora”, pontua. Ainda de acordo com Krupinski, isso só é possível fazer de forma equilibrada, com um trabalho de cooperação entre os assentados, os quais trocam conhecimentos e experiências, além de realizarem diversos estudos. “Trabalhamos diferente da agricultura convencional, pois ela busca apenas o lucro”, declara.
“Nós acreditamos que através da agroecologia a gente vai poder alimentar a sociedade de forma mais saudável, com soberania alimentar e com preço justo. É simbólica essa forma de produção e de vida, pois não olhamos para a terra como uma mercadoria. Cuidamos dela e do meio ambiente para que nossos filhos e netos também possam desfrutar do que ela têm a oferecer”, finaliza.
Maior produtor de Arroz Orgânico da América Latina
Atualmente o MST ganha o título de maior produtor de arroz orgânico da América Latina, segundo o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Para chegar a esse ponto, os assentados tiveram que lutar muito, e as palavras que vêm à mente são a organização e a cooperação entre eles.
Inicialmente, os produtores receberam auxílio da Cootap, da Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentados de Tapes (Coopat) e da Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), todas do MST.
As cooperativas conseguiram máquinas agrícolas e assistência técnica para os Sem Terra, o que viabilizou o cultivo. O modelo produtivo passou a gerar distribuição de renda e integração social e econômica entre as famílias, que hoje também se organizam através do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico.
Famílias envolvidas
De acordo com Marildo Mulinari, do setor social organizativo da Cootap, na safra 2020/2021 os camponeses estimam colher mais de 12,4 mil toneladas, cerca de 248 mil sacas de 50 kg do produto, em aproximadamente 2.740 mil hectares. Em todo o estado a produção do alimento se dá por 389 famílias, em 12 assentamentos, três unidades de pequenos agricultores familiares, em 11 municípios gaúchos das regiões Metropolitana, Sul, Centro Sul e Fronteira Oeste.
As cooperativas do MST que fazem parte da produção do arroz agroecológico são a Cootap, Coopat e Coopan, e mais cinco empresas sociais de assentados, a Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentados de Charqueadas (Copac), a Cooperativa dos Produtores Orgânicos de Reforma Agrária de Viamão (Coperav), mais as cooperativas Sete de Julho (Coopal), Terra Livre e a Cooperativa Central dos Assentamentos do Rio Grande do Sul (Coceargs).
Juntas cultivam principalmente o arroz orgânico nas variedades agulhinha e cateto. Após a colheita, no beneficiamento industrial, os grãos passam por um processo e se transformam em mais opções para o consumidor. O agulhinha vira arroz branco polido, parboilizado e integral. Já o cateto se divide em branco e integral.
De acordo com o Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, a gestão e o domínio tecnológico do alimento acontecem em três grandes etapas – da produção agrícola, da agroindústria e da comercialização -, onde os principais objetivos são:
1. Motivar ética e política das famílias à produção agroecológica como opção de vida de produzir alimento diversificado;
2. Animar e motivar mais famílias a integrarem-se no processo de produção de arroz agroecológico;
3. Construção de um sistema de produção de arroz agroecológico, com controle de todo processo produtivo pelos agricultores (produção, secagem, armazenagem, beneficiamento, comercialização);
4. Autonomia e domínio do processo produtivo agroecológico em todo lote;
5. Contraposição ao agronegócio com a afirmação do projeto camponês;
6. Produção de semente de qualidade;
7. Fazer a relação com a sociedade.
8. Cuidado com o meio ambiente.
9. Disputa por políticas públicas de incentivo à agroecologia.
10. Estratégia de certificação participativa.
11. Mercado – interno, local, solidário e outros.
12. Fortalecer a organização (MST).
Solidariedade Sem Terra
Na luta contra a fome, o povo brasileiro segue perdendo. Na contramão dessa tragédia anunciada, a agricultura familiar, atrelada à Reforma Agrária Popular, reafirma seu papel no combate à fome e à desigualdade. O MST, desde o início da pandemia, trabalha com a campanha de solidariedade que é baseada no compartilhamento das produções dos assentados e acampados de todo o país. Em 2020, os Sem Terra doaram 4 mil toneladas de alimentos e 700 mil marmitas.
Os gaúchos também fizeram e ainda fazem a sua parte e ressaltam a importância de cuidar uns dos outros. Durante a pandemia da Covid-19 foram doadas pelos assentados do RS mais de 300 toneladas de alimentos da Reforma Agrária.
“As doações são ações diretas de diálogo entre o povo do campo e da cidade”, pontua Salete Carollo, dirigente nacional do MST pelo RS. Segundo ela, toda vez que ocorre uma doação da Reforma Agrária, chega na mesa de um brasileiro um alimento contra a fome e a desigualdade social pelas quais o Brasil sempre passou, mas que se intensificou agora nesse período de pandemia.
“A solidariedade é um pilar fundamental, um princípio dos movimentos populares. O que o MST faz hoje é devolver para a sociedade a solidariedade que recebemos desde a origem do nosso movimento. E essa solidariedade se fortalece nesse momento tão difícil, em que a pandemia é de um vírus, mas é também uma pandemia de fome”, finaliza Salete.
Confira algumas fotos da colheita!
*Editado por Fernanda Alcântara