Memória e Solidariedade

MST doa 14 toneladas de alimentos em Santa Catarina para festejar aniversário de 36 anos

A festa foi marcada por doação de alimentos e árvores nos municípios de Florianópolis, São José, Campos Novos,e Três Barras
Na ocupação Marielle Franco os alimentos foram entregues ao MNLM. Foto: Juliana Adriano

Por Comunicação MST em Santa Catarina
Da Página do MST

Nesta terça-feira (25/05), o MST completou 36 anos de lutas em Santa Catarina, marcada pelas primeiras ocupações no estado, em 25 de maio de 1985. Anualmente realizava-se um grande festejo no estado, em virtude da pandemia e da política genocida do atual governo, o Encontro Estadual ocorreu de modo virtual no último domingo (23/5) e segue a comemoração por meio da doação de alimentos e árvores nos municípios de Florianópolis, São José, Abelardo Luz, Campos Novos, Caçador e Três Barras.

As doações entreguem foram produzidas em assentamentos e assentamentos da Reforma Agrária de 11 municípios. Foto: Juliana Adriano

O conjunto das doações envolve produtos de cooperativas e assentamentos da Reforma Agrária de 11 municípios. Na variedade produzida pelas mãos de camponeses e camponesas estão leite, feijão, farinha, mandioca, abóbora, pinhão, frutas, verduras, pães, cucas, bolachas, ervas medicinais para alimentar a população em situação de vulnerabilidade e alegrar o coração.

Doações realizadas neste 25 de maio

Em Florianópolis e São José dez toneladas de alimentos chegaram de seis municípios e estão sendo entregues ao longo do dia. As doações iniciaram às 9h da manhã e seguiram até o entardecer: iniciando no Monte Serrat, onde os alimentos foram entregues para a Rede com a Rua, que trabalha com pessoas em situações de rua; seguiu para a ocupação Marielle Franco, onde os alimentos foram entregues ao Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM), que distribuirá os alimentos recebidos em diversas ocupações urbanas na capital; chegou ao Morro do Mocotó, onde foi recebida pela resistência negra, por meio da dança do grupo Mitos.

Doações ao povo Kaingang. Foto: Juliana Adriano

Hoje almoço com o povo Kaingang em sua ocupação de resistência e luta, casa de apoio aos indígenas na capital. A tarde as doações foram entregues na ocupação urbana Fabiano de Cristo; passando pela comunidade Chico Mendes; e no fim do dia em São José, na ocupação Vale das Palmeiras, que sofre ameaça de despejo por parte do Estado de Santa Catarina durante a pandemia. Também receberam doações trabalhadores do setor cultural de Florianópolis.

Os alimentos foram organizados com carinho por famílias Sem Terra dos municípios de Correia Pinto, Garuva, Fraiburgo, Lebon Régis, Ponte Alta, São Cristóvão do Sul, e pelas cooperativas CooperContestado, Coproeste, CooperOeste, CooperConquista. A ação foi fruto da parceria entre o MST, a organização Rede Com a Rua, Frente Fora Bolsonaro, Partido dos Trabalhadores (PT) Solidário, Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), e trabalhadores do setor cultural de Florianópolis.

No município de Três Barras, cerca de 3 toneladas de alimentos foram doadas para a associação comunitária do bairro São Cristóvão. Os alimentos vêm das famílias assentadas em Irineópolis, Rio Negrinho, Mafra e da cooperativa Cooperdochi. Além disso, foram entregues mudas de árvores nativas: araucária, aroeira, araçá, cereja, pitanga e jabuticaba, entre outras.

Em Campos Novos, as famílias do assentamento São José se organizaram e doaram 650 quilos de alimentos para a comunidade Pedacinho do Céu. Na variedade de alimentos produzidos pelas mãos camponesas da Reforma Agrária, estavam: galinhas, banha, alho, frutas, batata, mandioca, abóbora, moranga, feijão e muito mais.

Ao longo da semana estão previstas mais doações no bairro João Maria, em Abelardo Luz e no Hospital Maicé, em Caçador. Este hospital tem recebido doações regulares da Reforma Agrária desde o início da pandemia. Além disso, o plantio de árvores acontecerá em todas as regiões do estado.

Movimento Sem Terra: história repleta de organização e solidariedade

No dia 25 de maio de 1985 cerca de 1.500 famílias ocuparam um latifúndio em Abelardo Luz e outras 150 famílias ocuparam áreas na fazenda Rabo de Galo e Entre Rios, que na época eram localizadas em São Miguel do Oeste, hoje respectivamente municípios de Barra Bonita e Paraíso. Nos dias seguintes, outras oito ocupações aconteceram na região, e em junho daquele ano já eram mais de 500 famílias, que se reuniram no acampamento Bandeirantes, em São Miguel do Oeste.

Após 36 anos de lutas, organização e resistência mais de 5.000 famílias foram assentadas no estado, a Reforma Agrária frutificou, construindo cooperativas, escolas, produzindo muito alimento de qualidade para toda a população.

Desde o nascimento do MST as famílias Sem Terra receberam a solidariedade da classe trabalhadora e cultivam esse valor como fundamento da luta, por uma sociedade sem exploração de seres humanos sobre seres humanos ou sobre a natureza. Desde o princípio da pandemia o Movimento Sem Terra já doou mais de 4 mil toneladas de alimentos em todo país e realizou o plantio de árvores de norte a sul do país.

A fome se combate com luta por direitos e produção de alimentos

A cada vez que o MST chega na periferia para doar alimentos tem aumentado os relatos sobre a fome. De famílias que dão água com açúcar aos filhos pra tentar enganar a fome. Da obrigação de trabalhar em condições subumanas por pouco dinheiro, enquanto o preço da comida só faz aumentar.

Albani Lopes, da coordenação da ocupação Marielle Franco e do MNLM, reforçou que a fome tem aumentado muito “e a gente que estamos na ponta é que sente ela primeiro”. Além disso, o preconceito segue muito forte com quem mora no morro, sendo tratados como como ladrões, vagabundas, mas que “são mães de família, que lutam dia a dia pra ter comida e vem cozinhar no projeto pra ajudar a comunidade, e a juventude também, todo mundo pega junto”, reforçou Ana Cristina, do Morro do Mocotó.

Em meio ao medo frente a Covid-19, as condições de trabalho e subemprego são péssima, e o Estado segue com o despejo. Sadraque, liderança Kaigang, falou da necessidade do povo indígena de ir à cidade vender artesanato pra garantir a subsistência, por isso da ocupação no espaço público (terminal de ônibus desativado) “e decidimos só sair daqui quando estiver pronta a casa de passagem”. E luta por Despejo Zero durante a pandemia for reforçada pelas ocupações Vale das Palmeira e Fabiano de Cristo.

Por isso, o MST reforça, relembrando o que já canta desde os anos 1980: “a nossa luta é no campo e na cidade, pra construir uma nova sociedade”. E Vilson Santin, da direção do MST em SC, enfatizou: “nós, Sem Terra, trabalhamos com muito amor pra produzir comida, organizar cooperativa, conquistar escola e sempre vamos estar junto com vocês da classe trabalhadora que luta nas cidades. Vamos construir juntos alternativas por meio da luta!”.

*Editado por Solange Engelmann