Semana da Mata Atlântica
Movimento Sem Terra realiza seminário em comemoração ao dia do Bioma Mata Atlântica
Por Romilson Joaquim
Da Página do MST
A segunda maior floresta em extensão do Brasil é também palco de resistência. E para debater sobre essa temática e comemorar o dia deste bioma, o MST realizou na tarde da última quinta-feira (27) o Seminário “Reforma Agrária Popular: Semeando Resistência na Mata Atlântica”.
A atividade contou com a presença de militantes do Movimento Sem Terra e representantes de diversas entidades, professores, parlamentares e movimentos sociais que, juntos, construíram um diálogo visando progredir em torno de um processo comum de resistência popular.
Presente em 17 estados brasileiros e abrangendo cerca de 15% do território nacional, o bioma Mata Atlântica é um espaço de resistência do povo camponês. Desse território que abriga 72% da população brasileira e concentra 70% do PIB do País, hoje, restam apenas 12,4% da floresta que existia originalmente, conforme informações do Atlas da Mata Atlântica 2019. Isso ocorre devido à exploração por um modelo de produção capitalista que não respeita os povos, a natureza, e degrada toda a biodiversidade existente.
O companheiro Delwek Matheus, da Executiva Nacional do Setor de Produção do MST, apresentou reflexões sobre o modelo de produção capitalista na agricultura, sobre a Reforma Agrária popular e seu compromisso ambiental. Ele explica que esse modelo capitalista de agricultura vem sofrendo mudanças na sua existência, mas sempre em uma perspectiva, a partir do interesse do capital explorar, ou seja, usar o território como um todo em função do seu interesse, da sua rentabilidade e da sua capitalização.
“Esse modelo que passou por várias fases e que hoje é denominado de agronegócio são formas, períodos de interesse do capital principalmente do capital externo, do capital estrangeiro que se organizou para explorar desfreadamente a nossa natureza, os nossos recursos naturais e em particular o nosso bioma”, afirma Delwek.
Durante o seminário, vários representantes de movimentos sociais apresentaram um pouco da realidade que enfrentam em seu território. O companheiro Felipe Campelo da Escola Popular de Agroecologia Egídio Brunetto, do extremo sul da Bahia, falou sobre a ocupação das áreas da mata atlântica pelo latifúndio e a sua degradação para o monocultivo de eucalipto, pastagens e café, algo que tem sido muito comum na sua região.
Para ele, esses latifúndios provocaram a destruição da mata atlântica, dos mangues, dos ecossistemas, e a dificuldade de os povos tradicionais conseguirem sobreviver. “Essa entrada desse latifúndio, dessa monocultura, elas sempre vieram com muita violência, com muita truculência, com muitos assassinatos dos povos tradicionais, dos indígenas, dos quilombos, do povo das reservas extrativistas, dos ribeirinhos…” ressalva.
Ele também falou sobre a resistência do povo Sem Terra que realizou uma série de ações, de enfrentamento, de ocupações, o que possibilitou a conquista de assentamentos na região e em todo o estado.
O companheiro Cupim, do Movimento pela Soberania Popular e Mineração (MAM), falou sobre a mineração na mata atlântica, citando o impacto sofrido em Mariana e em Brumadinho, e às consequências para o bioma. Cupim ressaltou também a perseguição que os povos indígenas têm sofrido com a pressão sobre os seus territórios para o garimpo, e citou a importância de discutir um outro modelo mineral para o Brasil, numa construção popular.
Durante o evento ficou claro que lutar pela Reforma Agrária Popular significa um processo de resistência ativa, e de enfrentamento ao modelo de agricultura capitalista. Para que a Reforma Agrária seja concretizada, conforme o diálogo realizado, há a necessidade de os povos derrotarem o atual modelo de agricultura capitalista, dominada pelos interesses do capital internacional.
Vários representantes de entidades, movimentos sociais, amigos e parceiros, falaram durante o evento, todos ressaltando a importância da convivência harmônica com a mata atlântica, o respeito a biodiversidade nele existente e a importância das ações de preservação do MST para com esse bioma.
A Reforma Agraria Popular e o compromisso ambiental
No início de 2020, o MST lançou o Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, uma campanha nacional visando o plantio de 100 milhões de árvores em 10 anos, em todo o país. A campanha tem sido importante principalmente para o bioma Mata Atlântica, que sofre com o desmatamento desde o começo da colonização do Brasil.
A Reforma Agrária tem sido uma alternativa fundamental para a preservação da natureza, da mata atlântica e de todos os biomas do país, porem nos últimos anos não tem ocorrido a desapropriação de terras.
Conforme Delwek Matheus, no capitalismo não há o interesse da realização de uma reforma agrária, de distribuir as terras e os recursos naturais a partir dos interesses dos trabalhadores, e assim é é preciso que ela seja feita a partir da luta dos camponeses, mas com a participação do conjunto da sociedade, principalmente da classe trabalhadora.
Para que haja a preservação da natureza é preciso que esse modelo capitalista de agricultura predatório, que tem destruído a mata atlântica e outros biomas brasileiros, seja derrotado. Em seu lugar, há a necessidade de colocar um outro modelo de desenvolvimento da agricultura, a partir dos interesses dos camponeses, que têm necessidade de viver na terra, com a biodiversidade, mas também, dialogando com o conjunto da sociedade.
Para Matheus, a reforma agrária tem o papel social de gerar trabalho e renda no interior, de produzir comida saldável para alimentar o povo do campo, alimentar todo o conjunto da população, e também, principalmente, se preocupar com o futuro da humanidade, a partir da preservação dos recursos naturais.
Assim, o principal desafio apresentado durante o seminário foi: como colocar em prática a Reforma Agrária Popular no bioma mata atlântica levando em conta o convívio harmônico da produção, do ser humano, em harmonia com a natureza, com a biodiversidade, visando preservar o futuro da humanidade.
Diante desse aspecto, Delwek Matheus apresenta três elementos fundamentais nos quais o MST vem trabalhando. O primeiro é a organização da produção de alimentos saudáveis para alimentar o povo no campo, mas também para contribuir com o conjunto da sociedade. Produzir alimentos agroecológicos tem sido prioridade para o Movimento Sem Terra.
Outro elemento fundamental que tem sido trabalhado pelo Movimento é preservar a natureza, preservar biodiversidade principalmente plantando arvores, nativas, frutíferas, alimentares, que servem para os humanos, mas também para os animais. A campanha nacional de plantio de arvores é um exemplo dessa ação realizada pelo movimento.
Por fim, o MST tem o compromisso da solidariedade. Desde o agravamento da pandemia em 2020, o Movimento Sem Terra tem realizado diversos atos de solidariedade em todo o país, foram doadas toneladas de alimentos para, unidades de saúde, creches, hospitais e para pessoas necessitadas. As famílias Sem Terra também têm doado sangue e compartilhado mudas de arvores com a população visando o reflorestamento em outras áreas, além dos acampamentos e assentamentos.
*Editado por Fernanda Alcântara