Resistência Ativa
A importância da saúde mental na Reforma Agrária Popular
Por Fábio Luiz Pimentel*
Da Página do MST
A Jornada nacional de formação e trabalho de base é uma das ações práticas do MST, na atual conjuntura neofascista do bolsonarismo e constitui um dos pilares de nossos esforços em manter a resistência ativa.
Desde o início de 2020, o mundo foi acometido pela incidência da pandemia da Covid-19.
Um dos impactos psíquicos desta pandemia deu relevância à importância da promoção de
“saúde mental”, especialmente, para a população camponesa.
Uma das frentes de trabalho do “Plano de Ação em Educação Territorial, Integrado ao Programa de Agroecologia dos Assentamentos de Reforma Agrária da Bacia do Rio Doce”, são as oficinas de formação de base. No último dia 22 de julho, foi realizado o espaço “boas práticas para manter a saúde mental em dia”, por meio de plataforma on-line.
A assessoria contou com a contribuição de Paula Sassaki, psicóloga, e integrante do setor de gênero do MST de São Paulo, e a presença de Leandro Rosa, psicólogo da Universidade Federal do Acre (UFCA). A mística abordou o perfil da médica Nise da Silveira, o poema “Pensando a saúde mental”, de Leandrino dos Santos, assim como a bonita interpretação de Isadora Canto, da música Alecrim Dourado. A intervenção ocorreu como desdobramento da oficina realizada anteriormente sobre as “ervas medicinais e agroecologia”, organizada pelo setor de saúde do MST no estado de Minas Gerais.
A metodologia utilizada foi uma roda de conversa, em que foi ressaltado que o cuidado é uma prática do MST, e apresentada a experiência da Rede de Apoio à Violência Doméstica que tem um coletivo de saúde mental. Durante a atividade, de início fomos convidados(as) a manter uma postura acomodada e a uma respiração atenta, alongada, procurando sentir leveza, relaxando o corpo, abrindo espaço para escuta e para a troca, cada um em seu tempo. Foi comentado sobre a importância de se alongar, espreguiçar, chacoalhar as mãos, repousar os ombros, aquecer a mão, se tocar. E em seguida, sugerido aos educandos(as) para pegar um caderno e anotar uma “pergunta geradora”, sugerida aos participantes: O que nos vem à cabeça quando falamos de saúde mental? No debate sobre esse tema, foi defendida a importância do acolhimento das pessoas em situação de sofrimento psíquico, do Centro de Apoio Psicológico (Capis), e do Sistema Único de Saúde (SUS).
O termo “saúde mental” está sempre em disputa. Há várias definições diferentes sobre ele, assim como as vias de cuidado, de entendimento da loucura, ou do sofrimento. A definição de Martin Barok é: “a capacidade de amar”. O papel do amor revolucionário, o papel das plantas, dos chás, do cheiro, das poesias, dos vídeos, das músicas na experiência de cuidado, da espiritualidade, seja ela qual for, os símbolos ou trabalho dos afetos. Mas há uma visão medicalizadora, hegemônica, tirando o nosso poder, deslocando o sentido para as mãos dos médicos, mesmo considerando que eles sejam necessários. Por isso são importantes as lutas antimanicomiais e antipsiquiátricas.
Atualmente vivemos uma conjuntura sensível, de falta de empatia, que nos coloca o necessário bem estar social, de busca do prazer e afetos. Não podemos temer aquilo que nos aprisiona. A relação com a natureza é cada vez mais importante, assim como a manutenção do equilíbrio em todos os espaços, da nossa casa e nas relações sociais. Corpo, mente, alegria, tristeza, a perda de amigos(as). A saúde mental é lutar contra as adversidades, é manter a harmonia entre o corpo e a mente nos momentos de desequilíbrio, pois há coisas que são elementos de fora, como por exemplo ter um bom trabalho, assim como a necessidade de termos liberdade e de fazermos o possível para sermos bons com as pessoas. O momento de sensação de “luto coletivo”, que pode ser superado com acolhimento e apoio social. É importante que as pessoas saibam que há uma rede de apoio social, de aporte social. Uma espécie de bote salva-vidas que proporciona nos salvarmos. Precisamos manter nossas redes afetivas.
Há um impacto sobre a psiquê, frente as situações de aprisionamento nas quais se encontra a classe trabalhadora, é preciso reagir diante da vida, fortalecer o direito à diferença. Nesse ritmo acelerado de trabalho que a pandemia vem ditando e a falta de afeto (abraço, contato físico), requer de nós parar um pouco, relaxar, ver um filme, ouvir música, fazer uma chamada de vídeo, não perder o vínculo com as pessoas próximas, se sentir saudável, dormir bem e vigiar os sonhos, e usar a música como um processo medicinal de cura. Como pode ser bom trabalhar na roça e ter uma boa convivência com as pessoas ao nosso redor. Teremos de ter cuidado com a volta das atividades presenciais.
Há um problema do excesso de trabalho on-line com o rompimento das fronteiras de contorno do tempo, ao trabalharmos o tempo todo, especialmente, à noite. Como criar as possibilidades de alternativas saudáveis? É um exercício de autoconhecimento, de pesquisa de si, do que nos satisfaz. Olhar para as redes de solidariedade e acolhimentos, para não nos sentirmos sozinhos, porque somos muitos e podemos nos equilibrar, por mais que as coisas não sejam estáveis. Como na música, você precisa encontrar o ritmo.
Existe uma concepção da saúde mental da psicologia do trabalho: “quando há a possibilidade de termos esperança”. Lembremos da imagem do bambu como uma matéria flexível: ser saudável consiste em ter recursos, redes de convivência promotoras de saúde. O amor tem de fazer parte do nosso trabalho, assim como as teias comunitárias. Afinal, qualquer maneira de amar já é um descanso na “loucura”.
Por uma cultura de resistência ativa, Reforma Agrária Popular e promoção de saúde mental. Sigamos nos cuidando, pois, afinal de contas: Saúde é a capacidade de lutarmos contra tudo que nos oprime!
*Integrante do setor de educação do MST em Minas Gerais
**Editado por Solange Engelmann