Plantar Árvores
MST planta 2 milhões de árvores aliadas à produção de alimentos em todo país
Por Solange Engelmann
Da Página do MST
Você sabia que a preservação e recuperação do meio ambiente tem tudo a ver com a produção de alimentos saudáveis e livres de agrotóxicos? Ela é fundamental para que a população tenha acesso a alimentos de melhor qualidade e mais nutritivos. Buscando enfrentar esse desafio que em 2021 os trabalhadores e trabalhadoras do MST lançaram o “Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, que vêm se enraizando de forma unitária e mística nos territórios da Reforma Agrária em todo país, a partir de um conjunto de ações de coleta e recuperação de sementes e cultivos de mudas de árvores, entre outras.
Com a meta de plantar 100 milhões de árvores em todo o país no período de 10 anos, nos dois primeiros anos de Plano o alcance foi de 2 milhões de árvores plantadas e a construção de 100 unidades da Rede de Viveiros Populares distribuídas por todo país.
A organização das famílias do MST, com o intuito de avançar no desafio da recuperação e preservação ambiental dentro do projeto de Reforma Agrária Popular, está sendo realizada a partir de jornadas e ações coletivas de plantio, além de trabalhos formativos nas áreas de Reforma Agrária e com a população urbana, como explica Bárbara Loureiro, coordenadora do plano nacional.
“Foram realizadas jornadas de plantio celebrando os dias dos Biomas, mas também reforçando a importância dos territórios da Reforma Agrária Popular no cuidado com os bens comuns da natureza, a fim de que eles sejam de fato comuns pro povo do campo e da cidade. Realizamos plantios nas jornadas de luta das Mulheres Sem Terra, Jornada da Juventude, no Dia Mundial da Água, Semana do Meio Ambiente e Dia da árvore. Também realizamos importantes espaços de formação, pra ir construindo a relação da questão ambiental com a Reforma Agrária Popular.”
“Plantamos árvores e produzimos alimentos entendendo a natureza como aliada.”
Para além do intuito de recuperar áreas degradadas, encostas, nascentes de água, beiras de rios e córregos, o “Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis” é desenvolvido nos territórios do MST, de forma associada ao debate e práticas de produção de alimentos saudáveis e da soberania alimentar, contribuindo com a produção de comida para alimentação das famílias Sem Terra, a preservação dos biomas e nas ações de solidariedade pelo país.
“Plantar árvores é aumentar a diversidade produtiva nos nossos agroecossistemas. E proporcionar essa diversidade de espécies também aumenta a potencialidade de usos que podemos fazer com os frutos, sementes, folhas, cascas e raízes – alimentícias, medicinais, ornamentais, madeiráveis, adubadoras, forrageiras, entre outras. Essa construção da diversidade também possibilita que a gente incorpore novos hábitos alimentares e resgate culturas locais e regionais, a partir da valorização do consumo de alimentos dos nossos biomas”, aponta Bárbara.
Nesse contexto de crises, desde o início da pandemia de Covid-19, por meio das campanhas de solidariedade, o MST já doou mais de 6 mil toneladas de alimentos e 1.150.000 marmitas para pessoas e famílias em situação de fome e insegurança alimentar, em todas as grandes regiões do país.
Somente na durante a Campanha Natal Sem Fome do MST, entre o início de dezembro até o início de janeiro deste ano, cerca de 250 mil pessoas foram beneficiadas com doações de alimentos, marmitas solidárias e ceias especiais natalinas em 24 estados do Brasil.
Bárbara explica que a viabilidade dessas práticas produtivas de alimentos nas áreas do MST, se desenvolvem na criação de sistemas produtivos agroecológicos, que inserem o plantio de árvores no manejo, aumentando a diversidade produtiva das culturas. As experiências desses sistemas produtivos organizadas de acordo com a realidade e as necessidades em cada território, a partir da criação de “agroflorestas, quintais produtivos, sistemas agrosilvipastoris e também os plantios para fomentar a organização de cadeias produtivas, como mel, frutas, castanhas, cacau, entre outras”, detalha.
O plantio de árvores também aumenta a diversidade e conserva a vida do solo, recupera e cuida da água do planeta. Estes são princípios fundamentais na prática da agroecologia, que além de aumentar a “diversidade produtiva também amplia as possibilidades e formas de geração de renda a partir da comercialização, que pode ser a partir da coleta e extração dos frutos, resinas, óleos, fibras, sementes, madeira. Mas também está diretamente relacionado à recuperação e o cuidado com a natureza, porque na natureza tudo está interligado. Plantamos árvores e produzimos alimentos entendendo a natureza como aliada”, resume a coordenadora do plano nacional.
Denuncia sobre aumento de agrotóxicos na comida
O plano também se contrapõe e denuncia o avanço no uso de agrotóxicos pelo agronegócio, que a cada dia amplia a contaminação dos alimentos e aumenta os riscos à saúde da população e envenena os agricultores.
Segundo dados do Atlas dos Agrotóxicos 2022, publicado recentemente na revista Public Health, 385 milhões de pessoas na agricultura adoecem a cada ano por intoxicação aguda por agrotóxicos. A publicação internacional de especialistas analisa o negócio multimilionário dos agrotóxicos, suas consequências e repercussões no mundo.
Os dados apontam ainda que todos os anos, cerca de 11.000 pessoas relacionadas à agricultura morrem por envenenamento agudo por agrotóxicos. Por outro lado, conta-se que as empresas não pagam nada pelos danos causados à saúde humana e ao meio ambiente, ou apenas se houver decisões judiciais correspondentes, como nos EUA, onde pessoas que pulverizaram o agrotóxico Roundup contendo glifosato ficaram gravemente doentes e 125.000 deles processaram a multinacional Bayer.
No Brasil, a liberação de agrotóxicos, muitos proibidos em outros países, avançou a passos largos a partir do Governo Temer, com 449 novos registros, em 2018. Prática que se intensificou no governo Bolsonaro, que já no primeiro ano de gestão subiu para 474 novos registros. E somente em 2021 foram autorizados no país a liberação de 550 novos venenos agrícolas.
Próximas ações do Plano
Após dois anos de atividades, Bárbara aponta algumas projeções do “Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”do MST para o próximo período, com foco na construção de duas dimensões: na introdução das árvores nos territórios de Reforma Agrária, como elementos fundamentais dos agroecossistemas e na construção da soberania alimentar, bem como na geração de renda para as famílias assentadas e acampadas.
Nesse contexto, os Sem Terra projetam o desenvolvimento de ações práticas em três frentes: consolidar a Rede de Viveiros da Reforma Agrária Popular, construir alianças locais a partir do cultivo e plantio de árvores e fortalecer a organicidade do plano desde a base nos territórios do MST.
“São muitas as experiências de viveiros que temos, desde viveiros artesanais a viveiros mais estruturados e precisamos ir dando unidade, reconhecendo e valorizando cada família Sem Terra como guardiãs das sementes e da produção de mudas nativas e frutíferas. Queremos também dar um salto na rede de agroflorestas do MST e pensar as árvores como centrais nas cadeias produtivas e ir avançar depois na agroindustrialização, potencializando experiências de novas agroflorestas nos estados”, relata Bárbara.
Outro desafio importante na base do MST, relatado pela coordenadora do Plano Nacional, se concentra em avançar na formação e criação de uma visão popular sobre a questão ambiental. “Fortalecer a organicidade nos estados, sobretudo a partir do envolvimento das forças vivas: escolas, cooperativas, associações, centros de formação, grupos coletivos. Fortalecer as articulações com igrejas, universidades, artistas, organizações populares e seguir enfrentando o caráter cada vez mais destrutivo do capitalismo e das novas formas de acumulação, via a financeirização da natureza”, alerta.
Nesse sentido, Bárbara conclui que neste ano é fundamental que o “Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis” do MST faça parte da estratégia de lutas do Movimento contra o latifúndio, o agronegócio e a mineração. Praticando o plantio de árvores e a produção de alimentos saudáveis, como instrumento para “ir recriando a relação entre ser humano e natureza, acumular forças e plantando novos caminhos de uma nova sociedade e do nosso projeto socialista”, conclui.
*Editado por Fernanda Alcântara