Mulheres em Luta!
Jornada das Mulheres Sem Terra se inicia com protestos contra a fome e o “pacotão do veneno”
Da Página do MST
A Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra 2022 começou nesta segunda-feira (7), ocupando todas as grandes regiões do país, com atividades programadas até o próximo dia 14 de março, entoando as mobilizações e atos no campo e cidade, com o lema: “Terra, Trabalho, Direito de Existir. Mulheres em Luta não vão sucumbir!”
As mobilizações acontecem em denúncia às violências estruturais do sistema capitalista que afetam diretamente as mulheres, por meio da instituição do patriarcado, machismo, racismo e LGBTQI+fobia. Além de protestar contra uma série de outras violações impulsionadas pelo atual governo, geradas pelo agravamento das desigualdades sociais, como a fome e a pobreza, criadas a partir da mercantilização da vida, dos bens comuns e da natureza.
Como alternativa, a luta da Jornada das Mulheres Sem Terra levanta vozes por “Terra, Trabalho e Direito de Existir”, contra a concentração de terras, contra os despejos, contra o agronegócio, a mineração, o pacote de veneno, entre outras mazelas que afetam diretamente a realidade das trabalhadoras camponesas; que continuam resistindo, construindo soberania alimentar e agroecologia por meio da agricultura familiar camponesa e a luta por direitos pela Reforma Agrária Popular.
Com as mobilizações marcadas em todas as grandes regiões do país, as Mulheres Sem Terra reafirmam a disposição de permanecer em luta, unindo forças com as trabalhadoras do campo e da cidade contra as políticas genocidas do governo. “O grito pelo Fora Bolsonaro também é o grito contra a fome, contra a violência, contra o genocídio negro e indígena, em defesa da vida e pelo direito de existir”, afirmou Lucineia Freitas, dirigente nacional do Setor de Gênero do MST.
Programação
Na madrugada dessa segunda-feira, dia 7 de março, foi dada à largada às atividades simbólicas, formativas e de caráter organizativo, que estão previstas em todas as grandes regiões do país nas áreas de acampamento e assentamento do MST, com a participação das mulheres e famílias Sem Terra estimulando o debate de gênero e a construção de suas contribuições na luta pela terra e por direitos da classe trabalhadora.
O dia 7, dia “D”, com ações levantadas pelas Mulheres Sem Terra, foi marcado pela denúncia contra o agronegócio e o Projeto de Lei (PL) 6.229/2002, conhecido como “pacote de veneno”, defendido pelo governo Bolsonaro e parlamentares da bancada ruralista, e aprovado no Congresso Nacional. As camponesas também realizaram atos contra as multinacionais do agrotóxico na região sudeste, nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Na região nordeste, outras ações de denúncia contra a fome e por investimento à agricultura familiar ocorreram na Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte. No norte do país, as Mulheres Sem Terra se uniram às indígenas para denunciar os impactos do hidro-negócio na região de Tocantins e Maranhão. No centro-oeste, houve ações no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. No Sul, ações solidárias no Paraná marcaram o primeiro dia da jornada.
Durante a Jornada deste ano, as Mulheres Sem Terra também engrossam o coro e compartilham as reivindicações com as mulheres das cidades, com atos organizados pelas frentes feministas da Articulação Nacional de Mulheres pelo Fora Bolsonaro, que convocam as manifestações em todo o país “Pela Vida das Mulheres – Bolsonaro Nunca Mais! Por um Brasil sem machismo, racismo e fome”, em programação integrada ao campo popular feminista neste 8 de março.
Nesta terça-feira (8), ainda estão previstas ações solidárias em conjunto com as mulheres do campo e cidade no combate à fome, com ações de solidariedade, como a doação de alimentos e sangue, voltadas principalmente para as mulheres e mães em situação de vulnerabilidade social e alimentar no país.
Já no dia 9, se concentram atividades organizativas e formativas, em que as Mulheres Sem Terra também marcam presença em frente ao Congresso Nacional (DF), em manifestação no “Ato Pela Terra: Contra o Pacote Da Destruição”, em conjunto com outros movimentos sociais, entidades e personalidades em defesa dos bens comuns e direitos humanos.
Em caráter integrado das lutas internacionalistas, no dia 10, as Mulheres Sem Terra também participam das mobilizações em rede contra o imperialismo, em conjunto com as lutas das mulheres camponesas ligadas à Via Campesina, com o lema: “Mulheres enfrentando o imperialismo! Não nos calarão!”.
Como síntese das mobilizações da Jornada de 2022, no próximo dia 11, será lançada uma carta manifesto das Mulheres Sem Terra. Na ocasião, também haverá convocatória para escrita de cartas das mulheres do MST ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra os despejos, que podem retomar a partir de abril, quando vence o prazo da medida provisória do STF que suspendeu as desapropriações de imóveis nas zonas rurais e urbanas por conta da pandemia.
Além do coro pelo Fora Bolsonaro e contra os despejos, no dia 14, data de encerramento da Jornada, estão previstas atos ações de plantio de árvores e mutirões em homenagem à Marielle Franco, e memória aos quatro anos de seu assassinato que segue impune. As atividades acontecem articuladas aos debates sobre a participação das mulheres na política e a violência.
Confira as ações da Jornada que aconteceram pelo país:
Sudeste
Em São Paulo, nesta segunda-feira (7), cerca de 70 mulheres Sem Terra realizaram protesto contra o uso de agrotóxicos em frente à fábrica da empresa suíça Syngenta, na cidade de Paulínia (SP), há 120km da capital paulista. Com faixas, grafites e palavras de ordem, as camponesas denunciaram as mortes e envenenamentos que geram o lucro de empresas como a Syngenta, fabricante e líder mundial do mercado de agrotóxicos.
No município de Lençóis Paulista (SP), também nesta segunda-feira (7), a ação de protesto das Mulheres Sem Terra ocorreram em frente à entrada principal da Bracell, empresa com sede em Singapura, pertencente ao grupo RGE, Royal Golden Eagle. As camponesas denunciam, que a empresa está no Brasil desde 2003, em Camaçari (BA), e desde 2018 se estabeleceu em Lençóis Paulista e Macatuba, concentrando terras no país, mesmo sendo estrangeira.
Já no último sábado (05), cerca de 100 mulheres do campo e da cidade se reuniram na Escola Estadual Santa Clara, no Assentamento Che Guevara, município de Mirante do Paranapanema, interior de São Paulo, para participar do Encontro Regional das Mulheres do Campo e Cidade.
No Rio de Janeiro, na madrugada desta segunda-feira (7), cerca de 70 mulheres do MST realizaram ato em frente a multinacional Bunge, no Parque Duque, no município de Duque de Caxias. As camponesas denunciaram que a Bunge é uma das principais empresas multinacionais do agronegócio que mais lucrou em 2021. Segundo, as mulheres Sem Terra isso demonstra o avanço das desigualdades, enquanto as multinacionais têm altíssimos faturamentos, o Brasil retorna ao mapa da fome e da miséria.
Para iniciar a Jornada das Mulheres Sem Terra em Minas Gerais, no último domingo (06), as mulheres acampadas e assentadas da regional metropolitana de Belo Horizonte, fizeram um plantio de mudas no Acampamento Zequinha Nunes, no Sistema Agroflorestal Ana Primavesi.
No Vale do Rio Doce (MG), no último domingo (6), as mulheres da Frente Brasil Popular de Governador Valadares, movimento de mulheres Olga Benário, secretaria de mulheres do PT, Marcha Mundial da Mulheres e Coletivo feminista classista Ana Montenegro ocuparam as ruas na feira do mercado municipal de Governador Valadares. O ato denunciou os retrocessos na segurança alimentar com a PL do Veneno, aprovada no Congresso Nacional, e os crimes da Samarco que ainda continuam impunes, e as famílias sem reparação dos danos cometidos; além de exigir o fim da violência contra as mulheres.
Já no Vale do Mucuri (MG), as mulheres Sem Terra iniciaram a Jornada, no último sábado (5), com ação unitária apontando o enfrentamento ao agronegócio e apresentando o projeto de agroecologia do MST. A atividade aconteceu na Paróquia São Francisco, do município de Teófilo Otoni, com a participação de 150 mulheres urbanas e rurais. Também participaram as mulheres do MST, GMOM, CRDH, Pastoral da criança, Pastoral da Agroecologia, Projeto Frutificar, Comev – Comissão de enfrentamento á Violência doméstica contra a mulher, Associação de bairros de Teófilo Otoni, Casa da Mulher, Casa dos Movimentos Populares, Associação de Bairros e outras organizações sociais do Vale do Mucuri.
Amazônica
Na tarde desta segunda-feira (7), as Mulheres Sem Terra da Região Amazônica dos estados do Maranhão, Tocantins e Pará se somam as ações da Jornada De Lutas: por “Terra, Trabalho, Direito de Existir”, ocupando a ponte que liga os estados do Tocantins e Maranhão, entre Aguiarnopólis (TO) e Estreito (MA) na BR- 230, para denunciar os impactos do hidro-negócio causados pelo Usina Hidrelétrica do Consórcio Estreito Energia – CESTE, que destrói a vida dos povos da região.
No último sábado (5), no Maranhão, foi realizado Ato público na feira do município de Estreito. No ato, as camponesas denunciaram os impactos predatórios do hidro-negócio e reforçaram a importância da agricultura familiar e da luta pela Reforma Agrária Popular para a soberania alimentar e a produção de alimentos saudáveis.
Nordeste
No Rio Grande do Norte, nesta segunda-feira (7), as mulheres Sem Terra montaram acampamento no centro de Natal para denunciar a fome. O Acampamento Estadual das Mulheres Sem Terra – Elza Soares ocupa o centro da cidade com uma representação das mulheres de todo estado, para denunciar o aumento da fome em nosso país. À tarde, as mulheres se reuniram com a governadora do estado, Fátima Bezerra (PT), para construir uma agenda de ações em torno da pauta de reivindicações.
No último sábado (05), às mulheres Sem Terra da Brigada Aloísio Alexandre, da Regional Extremo Sul do MST na Bahia, realizaram a Assembleia: Mulheres, MST e Memória, para debater o protagonismo das mulheres camponesas na luta e construção de um projeto Popular, resgatando a memória das trabalhadoras camponesas. Também no estado, na última quarta-feira, 02, as camponesas baianas ocuparam a Estação Zootécnica do Extremo Sul, em Itabela, extremo sul da Bahia, em defesa da pesquisa e da ciência no país e em denúncia à falta de incentivo e descaso com a agricultura familiar camponesa pelo governo federal.
Também na manhã desta segunda (7), às mulheres camponesas do MST dos acampamentos e assentamentos de Sergipe, realizaram ação de denúncia contra o descaso com a pauta da reforma agrária em frente a superintendência do INCRA em Aracaju.
Centro-Oeste
Na manhã desta segunda-feira (07), as mulheres do MST no Mato Grosso, em conjunto com o Levante Popular da Juventude e Coletivo de Mulheres Urbanas e Camponesas realizam escracho na sede da AMAGGI em Cuiabá (MT). A ação faz parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra.
No Distrito Federal e Entorno, nesta segunda-feira (7), as Mulheres Sem Terra doaram sangue no Hemocentro de Brasília. A iniciativa faz parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra e busca contribuir com o estoque de sangue do Hemocentro, que está em baixa por conta da pandemia da covid-19.
No Mato Grosso do Sul, as mulheres Sem Terra realizaram, no último sábado e domingo (5 e 6), o Encontro Estadual das Mulheres Sem Terra no estado. O encontro aconteceu no Centro de Formação e Pesquisa Geraldo Garcia (CEPEGE), com a participação de mais de 50 mulheres das regionais centro, centro sul, conesul, fronteira e pantaneira. No encontro também estaviram presentes as companheiras amigas do MST e as companheiras indígenas Guarani Kaiowá.
Sul
No Paraná, as ações da Jornada das Mulheres Sem Terra se iniciaram com ações de solidariedade em várias regiões do estado. Entre os dias 7 a 11/03, em Curitiba, as mulheres Sem Terra promovem doações de sangue no Hemepar.
E no dia 05, as camponesas realizaram mutirão, com mais de 60 voluntárias(os) de plantio de 27 mil mudas de legumes e verduras no Assentamento Contestado, na Lapa (PR). A colheita será servida nas Marmitas da Terra, distribuídas em praças e ocupações de Curitiba e Região Metropolitana e na Jornada de Agroecologia, prevista para junho de 2022 na capital paranaense. Ainda no dia 03, no município de Palmas, foi realizada a doação de 80 cestas de alimentos na comunidade Marielle Franco. Além de alimentos da Reforma Agrária, as cestas contaram com sabão feito pelo Coletivo de Mulheres Ana Primavesi, formado por mulheres do MST da região.
*Editado por Solange Engelmann