Jornada das Mulheres
Jornada das Mulheres Sem Terra denuncia violências e reafirma luta contra os despejos
Por Solange Engelmann e Noemi Pacheco
Da Página do MST
Por “Terra, Trabalho, Direito de Existir: Mulheres em Luta não vão sucumbir!”, em mais um mês de março munidas de amor pela vida e esperança, as mulheres do MST ocuparam as ruas, rodovias, praças, os latifúndios, empresas do agronegócio, órgãos públicos, realizam ações de solidariedade, plantaram árvores, escrevam cartas e agitaram as redes, com ações simbólicas e massivas durante a Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra de 2022.
A Jornada ocorreu de 07 a 14 de março por todo país e contou com ações de mobilizações e protestos das mulheres Sem Terra nas cinco regiões. Ao todo, cerca de 30 mil mulheres Sem Terra se mobilizaram em ações realizadas em 23 estados mais o Distrito Federal.
Foram realizadas atividades de denúncia às violências estruturais do sistema capitalista, que violentam e adoecem os corpos femininos, aumentam a fome; além de protestos contra o modelo de morte e destruição do agronegócio, que envenena e ameaça a vida das mulheres do campo e da cidade.
Ao mesmo tempo, as camponesas também anunciaram a importância do projeto de Reforma Agrária Popular como alternativa para a melhoria das condições de vida das mulheres Sem Terra, como explica Lucineia Freitas, da coordenação do Setor de Gênero do MST.
“Na jornada de luta de 2022 ocupamos o latifúndio para reafirmar a importância da luta pela terra, pela Reforma Agrária Popular e pela transformação da sociedade. E pra pensar a transformação da sociedade, a necessidade de defender os bens comuns, ocupamos a hidrelétrica de estreito para dizer não à privatização da água, dos territórios e dos bens comuns de forma geral. Não à mercantilização da vida.”
MST contra os despejos
Como uma das ações de síntese da Jornada e que se insere nas ações de luta que o MST vem travando na sociedade nesse período de pandemia, as Mulheres do MST incorporaram a pauta da Jornada à luta junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 828, que pede o fim dos despejos pelo menos até o final da pandemia. Como ações as mulheres Sem Terra estão confeccionando a escrita de cerca de 2 mil cartas endereçadas aos Ministros do STF, pedindo a prorrogação da medida que garante segurança e saúde à mais de 132 mil famílias que sofrem hoje ameaça de despejos.
A pandemia da Covid-19 ainda não acabou, mas no próximo 31 de março de 2022 vence o prazo de vigência da medida concedida pelo STF, que suspendem os despejos, remoções forçadas e as desocupações por causa da pandemia.
Segundo Lucineia, as mulheres do MST se engajaram na luta contra os despejos, pois entendem que a ação é importante para criar um contínuo de luta entre a jornada das mulheres e o enfrentamento esse tipo de violência contra as famílias durante a pandemia, fortalecendo e dando unidades internamente. “Os despejos afetam diretamente a vida das mulheres, e quando nosso lema traz “Terra, Trabalho, Direito de existir: Mulheres em Luta não vão sucumbir”, nós colocamos a necessidade de manter a luta pela terra (acesso e permanência) e o despejo nega o direito à terra, o direito ao trabalho, e compromete o direito de existir, por isso é importante essa ação no bojo de nossa jornada nacional.”
Balanço positivo
Lucineia ressalta que o balanço da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra foi positivo, pois as mulheres Sem Terra conseguiram realizar as ações de protesto contra o agronegócio e demonstrar sua relação com a fome, com a intoxicação da vida das pessoas e a destruição do meio ambiente e das florestas.
“A partir das ocupações de terras denunciamos o latifúndio e a violência no campo, e a necessidade de debater Reforma Agrária como central no enfrentamento à fome e ao bolsonarismo. Denunciamos a crise ambiental que tem impactado a vida da população, tanto na denúncia da privatização dos bens comuns, principalmente a apropriação privada da água.”
No dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, conjuntamente com as mulheres da cidade, as Sem Terra foram às ruas em diversos estados do país, em protesto contra o machismo e o racismo na sociedade brasileira e o governo de Jair Bolsonaro (PL).
Em torno do grito “Pela Vida das Mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome!”, a coordenada do Setor de Gênero do MST, conta que as mobilizações deste ano com as mulheres urbanas, voltaram-se para a construção de pautas coletivas nas ruas para o enfrentamento ao governo Bolsonaro e o bolsonarismo.
“Nessa perspectiva reafirmamos a necessidade de denunciar e machismo o racismo e a fome, que tem afetado a vida das mulheres no campo e na cidade, e tem provocado perdas de vidas, seja pela Covid-19, pelo feminicídio, pelo racismo, pela LGBTIQA+fobia”, apontou Lucineia.
No encerramento da Jornada as camponesas realizam o plantio de árvores em diversos estados em homenagem a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, assassinados há quatros, no Rio de Janeiro, que segue sem respostas sobre os mandantes do crime. Marielle lutou pelos direitos dos negros, das mulheres, moradores de favelas, pessoas LGBTQIA+, e pela população invisibilizada que resiste aos preconceitos estruturais da sociedade.
Nas ações as mulheres Sem Terra tornam público o repúdio, a denúncia e cobraram justiça para Marielle e Anderson. O plantio de árvores também faz parte da campanha Nacional do MST “Plantar árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, anunciando a disposição das mulheres do MST na construção da agroecologia e recuperação do meio ambiente nas áreas de Reforma Agrária.
Articulada à convocação para escrita de cartas de mulheres e crianças do MST ao STF, as mulheres Sem Terra também produziram como resultado das mobilizações e debates a “Carta aberta de amor e luta das Mulheres Sem Terra”, direcionada à toda sociedade, mas em especial às mulheres, que denuncia as violências estruturantes do sistema capitalista que agride os corpos e adoece as mulheres, mercantiliza a vida, os territórios e a natureza.
Diante disso, as mulheres do MST também reafirmaram o direito de existir das mulheres do campo e da cidade, para se manterem na luta por direitos e resistir aos projetos de ódio e violência. “Gritamos bem alto, não à violência. Do luto pelos nossos retiramos a força para a luta contra todas as formas de opressão e exploração e dominação cotidianas. Se 2022 chegou como um ano de esperança, as mulheres afirmam que a esperança é verbo, é ação que se constrói nas ruas. Março não acabou, março segue em nós, e que os aromas de março nos animem nos enfrentamentos que 2022 trará”, anuncia Lucineia.
Ações nas regiões
Na região Amazônica, o foco das lutas das mulheres Sem Terra se concentrou na denúncia do modelo predatório dos grandes empreendimentos, o uso indiscriminado de agrotóxicos e do agro-hidro-negócio, o desmatamento que destroem vidas e o impacto das hidrelétricas que demoliram casas, sonhos e territórios amazônicos. Ao todo, cerca de 200 mulheres dos estados do MA, PA, TO, participaram das ações.
Como forma de denúncia as camponesas ocuparam a BR-230, e a sede da Usina Hidrelétrica do Consórcio Estreito Energia – CESTE (MA), com protocolo de documento de denúncia dos impactos de abertura de comportas que deixaram famílias sem casas e assistência. Segundo Divina Lopes do MST no Maranhão, a ação demarcou “nosso posicionamento frente a violência estrutural do capital e a nossa solidariedade com os povos e territórios impactados pelos projetos de morte instalados na região.”
Ao longo da jornada também foram realizadas na região, atividades de formação, solidariedade, com a doação de alimentos e frutos da Reforma Agrária, produzidos no Assentamento Brejo da Ilha (MA); além da denúncia das violências contra a mulher e da impunidade em relação a morte de Marielle e Anderson, com a participação das Sem Terra de Roraima.
Na região Sudeste as mulheres Sem Terra realizaram diversas ações durante a jornada, dentre elas no RJ e MG ocorreram atos unificados no dia 8, doação de alimentos em todos os estados, doação de sangue e denúncias a PL do Veneno ou “Pacotão de Veneno” que tramita no Congresso Nacional, com protestos em frente às empresas multinacionais Syngenta e Bracell, no interior de São Paulo, e Bunge, na Baixada Fluminense no RJ, contra o projeto de morte, lucros exorbitantes e uso extensivo de agrotóxicos. O Espírito Santo realizou atividades com as companheiras Quilombolas, também fizeram doações de alimentos, assim como em Minas e no Rio de Janeiro. As companheiras de Minas também realizaram formação com as mulheres Sem Terra sobre os cuidados com as mulheres, ato com as mulheres urbanas e com o campo unitário e também se somaram no Ato Pela Terra, em Brasília. A grande região também realizou plantio de árvores nos Estados de MG, RJ e ES. E em São Paulo as mulheres do MST também participaram de um Sarau por Justiça à Marielle e Anderson.
No Nordeste, as Mulheres do MST realizam ações em AL, BA, CE, RN, PE, PB, SE e PI, de denúncias sobre às violências contra a mulher, denúncia à paralização da Reforma Agrária, chamando atenção para o aumento da fome no país e em repúdio à impunidade do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. As camponesas nordestinas promoveram um conjunto de atividades, como ocupação de latifúndios, acampamentos, escrachos, atos públicos, marchas, organização de feiras das Reforma Agrária, ações de solidariedade, com a doaram alimentos, marmitas e doação de sangue, plantio de mudas de árvores, debates e atividades de formação. E, no dia 8 de março, participaram dos atos unificados com as mulheres das cidades na região, em marchas pela vida das mulheres e denúncias às violência do governo Bolsonaro.
Na região Centro-Oeste, as atividades da Jornada das Mulheres Sem Terra tiveram como foco a formação, com o encontro estadual de mulheres no MS e MT. Além das formações, todos os estados realizaram ações de denúncia às violências contra as mulheres, contra o abuso dos agrotóxicos na região, contra os despejos, denunciando a fome e também por Fora Bolsonaro. Como parte da jornada, também aconteceram ações de plantio de árvores em memória à Marielle Franco, vigília cultural, ciranda das mulheres e doação de sangue. Em Brasília, as companheiras de Goiás e DF também se somaram ao Ato Pela Terra. Todos os estados realizaram Atos e ações de rua unificados.
Na luta por um Brasil sem machismo, racismo e contra o aumento da fome no país, na região Sul as mulheres Sem Terra do RS, SC e PR iniciaram a Jornada no dia 03/3, a partir de solidariedade, com a doação de alimentos e produtos da Reforma Agrária e sangue, produção e doação de marmitas da terra, panfletagem, também foram realizados mutirões de plantio de mudas de verduras e árvores em memória de Marielle Franco no PR; além de abertura de acampamento no RS, atos público e atividades de formação com coletivos de mulheres nos acampamentos e assentamentos do MST nos três estados da região. E no dia 8 de março, as Sem Terra no Sul participaram de marchas em várias cidades, com a participação das mulheres do campo unitário do campo e da cidade com o lema: “Pela vida das mulheres, Bolsonaro nunca mais!”
No Rio Grande do Sul as mulheres do MST receberam homenagem de reconhecimento na luta pela Reforma Agrária e Agroecologia, por meio do Troféu Mulher Cidadã 2022, concedido à dirigente Nacional do MST no RS, Salete Carollo pela Assembleia Legislativa do estado.
A Jornada das Mulheres Sem Terra também é uma forma de anúncio das lutas do MST no ano pelo país. Segundo, Lucineia neste ano as ações das camponesas demarcaram a luta como caminho necessário “para os desafios que o ano de 2022 nos impõem. E os aromas de março seguem nos fortalecendo nas ações que se seguem.”
Diante disso, as mulheres do MST reafirmam que seguem articuladas na campanha contra os despejos durante a pandemia, que conta com atividades no mês de abril. E se mantém mobilizadas e despertas nas lutas e debates em torno da construção da Reforma Agrária Popular e de novas relações humanas emancipadas.
Confira abaixo mais imagens da Jornada da Mulheres Sem Terra pelo país:
*Editado por Fernanda Alcântara