Ameaças
Acampamento Marielle Franco no MA promete resistência contra despejo
Por Reynaldo Costa
Da Página do MST
No mês de junho deste ano o acampamento Marielle Franco no município de Itinga do Maranhão (MA) completa quatro anos de muita resistência luta e produção. Porém, as últimas semanas foram de bastante tensão na comunidade, com a polícia rondando o acampamento, ameaçando trabalhadores(as), tomando ferramentas das famílias que as necessitam para o trabalho na terra, além de barracos queimados e muita agitação para evitar um possível despejo.
As ameaças de despejo se mantém, mesmo com a prorrogou, realizada na última quarta-feira (30), em Brasília, da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 828 pelo STF, que impede os despejos durante a pandemia até junho de 2022.
Esse período do ano é de muito trabalho e produção em comunidades rurais do Maranhão, mas no acampamento Marielle Franco os trabalhadores e trabalhadoras saíram de suas lavouras, dos seus afazeres para construir a resistência. Diante das ameaças de despejo as famílias decidiram que não haverá “nenhum passo atrás”, considerando que, o que produzem é a sua sobrevivência e ainda ajudam na alimentação da sociedade urbana na região, que se encontra em condições de vulnerabilidade ou passando fome.
Na comunidade o medo se transformou em coragem, e ao se depararem com as lavouras, onde os cachos da produção de arroz já estão amadurecendo, onde já há colheita de milho, abóbora, feijão, macaxeira (mandioca), e vários outros alimentos, os trabalhadores(as) decidem que ali existe mais do que uma vida, mas toda uma cadeia de produção de comida em uma região assolada pelo agronegócio da soja e do eucalipto, que não geram empregos.
Marli Silva, acampada desde o início da ocupação disse em assembleia que não pensa em nenhum minuto em despejo. “Penso sim em continuar produzindo e resistir da forma como for possível resistir”. O conselho provocado por Marli foi a expressão mais comum percebida nos demais trabalhadores, e a escola em funcionamento, os animais circulando pelo acampamento, demonstram a existência de uma vida já consolidada.
Gilvania Ferreira, a “Vânia do MST” analisou que o momento é parte que uma política que vai contra a Reforma Agrária em todos os sentidos, “desde a destruição dos órgãos responsáveis pela aquisição de terras como o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], ao impedimento de condições simples para sobrevivência, como a alimentação, a moradia, a medicação. E completou ainda que, para ela “o momento é de resistir e continuar a produção.”
O processo de despejo das famílias do acampamento Marielle Franco se desenvolve na Comarca de Itinga do Maranhão. No processo o Incra já notificou a justiça local de que a área pertence a união, mas como o órgão não se colocou como parte no processo a decisão ainda compete à justiça local.
Desde a ocupação em 2018, as famílias vivem sobre um cerco de milícias armadas, pagas pela empresa Viena Siderúrgica que é a grileira da área. A empresa impede constantemente o acesso dos trabalhadores(as) à comunidade acampada com cancelas e vigias, e a presença de pessoas encapuzadas nas estradas. Nas últimas semanas o cerco dessas milícias passou também a perseguir os trabalhadores(as) que vivem na área, intimidá-los e fazer ameaças de despejo e violências.
Entidades e organizações da sociedade civil se mobilizam em apoio à comunidade e temem um conflito de grandes proporções, principalmente porque as famílias já consolidaram a instalação de uma comunidade no local, com uma Agrovila de casas construídas, escolas instaladas, como uma diversidade de afazeres e formas de vida. As famílias acampadas denunciam que um despejo da área seria um desastre humano.
*Editado por Solange Engelmann