Eldorado dos Carajás
MST realiza ato em memória ao massacre de Eldorado do Carajás
Por Viviane Brigida
Da Página do MST
Neste domingo, 17/04, após 2 anos sem poder realizar atividades na Curva do S por conta da pandemia de Covid-19, a BR155 tornou-se mais uma vez o marco da luta dos trabalhadores e trabalhadoras do campo. Os Sem Terra ocuparam novamente a pista para relembrar o Massacre de 19 Sem Terra em 17 de abril de 1996. Foi um momento de fortes emoções.
A cada grito de ordem puxado, lágrimas e sentimentos aflorados. A juventude Sem Terra encenava a lembrança da chacina que deixou 21 mortos e 69 feridos e mutilados.
A atividade que encerrava os dias do 16°acampamento pedagógico da Juventude Sem Terra aconteceu como parte do ato político-cultural-econômico para lembrar os 26 anos da Impunidade do Massacre de Eldorado. Tragédia que instituiu o 17 de abril como o Dia Internacional de Luta Camponesa.
As famílias Sem Terra da região, vindo de assentamentos e acampamentos foram mais uma vez relembrar e reafirmar a importância da Reforma Agrária. Autoridades locais e regionais estiveram presente. A prefeita do município de Eldorado Iara Braga, manifestou solidariedade às famílias e falou desse dia. “Neste dia 17 é dia de relembrar o que aconteceu há 26 anos. Olhava emocionada pra quem estava aqui enquanto acontecia a mística. Imagina pra quem viveu e estava aqui há 26 anos, já sentimos a dor, nos emocionamos. Pelo que aconteceu aqui Eldorado é conhecido mundialmente, minha solidariedade às famílias” disse a prefeita.
Idelma Santiago, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Estado do Pará (UNIFESSPA) ressaltou a alegria de estar no ato que após dois anos o acampamento da juventude acontece, “Estaremos sempre presente porque as conquistas dos camponeses são feitas através de muita luta e sangue como dos que tombaram aqui, neste local. Assim como fazemos luta na universidade nos colocamos solidários e na luta dos camponeses. Porque a educação do campo só faz sentido se estiver ligado com a luta pela reforma agrária.” destacou.
Zé Geraldo, vice -presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), afirmou que o massacre de Eldorado do Carajás foi um momento de muita truculência política, porque era possível ter evitado. Tinha terra da união para assentar as famílias e os movimentos do campo enfrentaram vários momentos difíceis.
“Só havia uma superintendência do INCRA no Pará que tinha sua sede em Belém, após o massacre foi criado a segunda superintendência de Marabá, com a assassinato da Ir. Dorothy Stang em Anapu, foi com pressão também criado a superintendência na região de Santarém, criamos o MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) e hoje são existem, não funciona nenhuma superintendência no Estado e enfrentamos a mesma truculência do período de Eldorado “disse o petista.
Hoje quando se diz luta pela terra, os trabalhadores rurais e trabalhadoras rurais não se tem aonde ir. As terras do Pará estão ainda mais cobiçadas pelo valor do minério, da soja e do gado. O hectare de terra é disputado pelo valor de mercado. Os trabalhadores/as estão sem amparo governamental, sem financiamento para gerar desenvolvimento, a truculência desse período é maior do que o período do massacre de Eldorado do Carajás. É na terra que vamos gerar produção alimentos, saudáveis para o Brasil.
Polliane Soares, dirigente estadual do MST no Pará destacou o dia, é domingo de páscoa que é a memória de um negro de homem negro, nascido em Nazaré que foi torturado, assassinado pelo estado e a páscoa Sem Terra, é uma páscoa de luta.
“É a páscoa dos assassinados, das assassinadas que morreram em defesa da vida daqueles/as que se sacrificaram suas vidas para que nós estivéssemos aqui, por isso não devemos deslocar esse Jesus da gente. Ele é do povo é dos Sem Terra. E quando dizemos que é pascoa e que ele vive. Nós Sem Terra dizemos que é páscoa e que ele vive em nós que estamos lutando, porque os trabalhadores rurais que foram assassinados nesta Curva do S vivem em cada um de nós, porque os trabalhadores que foram assassinados no Brasil vivem em cada um de nós e cada companheiro e companheira que tombam na luta se tornam semente e nós cremos no amanhã. E o amanhã se torna árvore e floresce e frutifica e se multiplica” sentencia a dirigente.
Os trabalhadores/as afirmaram que neste domingo de Páscoa foi pra dizer que “os que se foram, eles e elas vivem no meio de nós, assim como o Jesus periférico vive no meio da classe trabalhadora”. O ato é a realização coletiva da memória dos 26 anos de Carajás.
*Editado por Fernanda Alcântara