Projeto Popular
19ª Jornada de Agroecologia recebe mais de 20 mil pessoas, com comida boa, formação e arte
Por Coletivo de Comunicação da Jornada de Agroecologia
Da Página do MST
O clima da 19ª Jornada de Agroecologia foi de reencontros, trocas, emoção e alegria, após dois anos sem edições, em decorrência da pandemia da Covid-19. Reconhecido como um dos maiores eventos de promoção do tema em todo o Brasil, a Jornada recebeu um público expressivo de mais de 20 mil pessoas entre os dias 22 e 26 de junho. Esta é a terceira vez que o evento ocorre em Curitiba, e agora ocupando o pátio, salas e o auditório do Campus Rebouças da Universidade Federal do Paraná.
O tempo seco e de calor fora de época para o junho curitibano contribuíram para o movimento acima da expectativa na feira de alimentos agroecológicos, orgânicos e da economia solidária. Foram comercializadas mais de 30 toneladas de alimentos in natura e industrializados, vindo de acampamentos e assentamentos da reforma agrária, iniciativas da Economia Solidária, coletivos urbanos, representantes de etnias indígenas e quilombolas. Ao todo, 65 empreendimentos compuseram a feira.
O filósofo Leonardo Boff foi um dos destaques entre palestrantes das mais de 40 oficinas, seminários e conferências realizadas ao longo do evento. “Em cinco anos podemos chegar a 1 grau e meio de aquecimento da Terra e isso será um desastre para a humanidade. Mas, o cenário pessimista que se apresenta tem alternativa, e uma delas é o que vocês estão fazendo na luta pela agroecologia,” disse Boff para uma plateia lotada, na manhã de sábado (25).
Confira abaixo entrevistas com integrantes das frentes de trabalho e da coordenação da Jornada, além de apresentação cultural Bamberêm do Grupo Baquetá:
A Carta desta 19ª edição traz a síntese coletiva das 68 entidades, movimentos sociais e coletivos que compõem a realização da Jornada: “Vivenciamos um dos momentos mais severos da história brasileira, em que a crise social, política, econômica, sanitária e ecológica afeta sobretudo o povo mais pobre. Hoje, 33 milhões de brasileiros e brasileiras passam fome e 11 milhões estão desempregados. Não podemos admitir que o povo tenha que se submeter a filas para doação de ossos, enquanto a riqueza dos bilionários cresce 60% durante a pandemia”.
O documento aponta a urgência da superação da pobreza e de todas as formas de violência. “Por um Brasil soberano, popular, sem fome e sem miséria. Por um Brasil que proteja os defensores da vida humana, dos povos, dos animais e de toda a natureza. Por um país livre de violência, de racismo, de machismo e de LGBTQIfobia. Pela produção agroecológica, sem transgênicos e agrotóxicos. Pela diversidade, pela ciência e pelo respeito aos conhecimentos tradicionais. Por justiça aos que tombaram. Pela vida do povo brasileiro”.
20 toneladas de alimentos doados
Frutas, verduras, legumes, grãos e pães formaram as mais de 20 toneladas de alimentos e 50 cargas de gás de cozinha doados a nove comunidades de Curitiba e região metropolitana, também no sábado. Os alimentos foram partilhados por acampamentos e assentamentos de diferentes partes do Paraná e até de outros estados: o arroz orgânico distribuído na ação foi produzido no Rio Grande do Sul. Os alimentos também foram doados ao coletivo Marmitas da Terra, uma iniciativa que semanalmente produz mais de 1,1 mil refeições distribuídas na capital paranaense.
A ação foi promovida pela União Solidária, uma articulação que reúne o MST, sindicatos, partidos, pastorais sociais e universidades para promover ações de combate à fome e à vulnerabilidade social nas periferias dos centros urbanos. Além dos alimentos, uma parceria com o Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro) também contribuiu com 50 cargas de gás, que foram distribuídas entre as comunidades.
Foram contempladas cozinhas comunitárias das comunidades Vila Formosa, Nova Primavera, Vila União, da ocupação Povo Sem Medo, acampamento Marielle Franco e a associação de catadores de material reciclável do Parolin.
Integrante do MST e do Coletivo Marmitas da Terra, Adriana Oliveira destaca a importância desse tipo de ação que une o campo e a cidade. “No momento em que a gente está com 33 milhões de pessoas passando fome no Brasil. Nesse momento da pandemia – totalmente adverso -, nós camponeses, agricultores e agricultoras do movimento organizado, junto com muitas outras organizações, estamos dizendo que é possível, sim, solucionar a fome, a partir da organização e de processos coletivos”.
O palco e espaços da feira receberam cerca de 20 apresentações artísticas, por onde passaram 108 artistas. O show do cantor e compositor pernambucano Otto reuniu público de pelo menos 5 mil pessoas na noite de sábado, e enfatizou a importância da agroecologia: “Eu acho fundamental para o ser humano, fundamental para o planeta, para o Brasil, para nossa política, para nossa resistência”.
Otto se somou à plateia no coro “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”, e fez críticas ao governo Bolsonaro na presidência da república: “Vamos daqui a pouco tirar esse desgoverno e vamos colocar alguém que se enxergue e que gosta do povo”.
O espaço da Saúde Popular tem se fortalecido a cada Jornada como ambiente de acolhimento, apoio e troca de saberes. Nesta edição, 500 pessoas foram atendidas, a partir do trabalho de 23 terapeutas e cuidadores, que atuaram com 12 tipos de terapias. O atendimento a situações de emergência também contaram com o auxílio de quatro médicos/os da Rede de Médicos Populares. Mais de 200 fórmulas de fitoterápicos e 300 espécies de ervas medicinais estavam expostas para comercialização.
As Sementes Crioulas também se multiplicam e se espalham ainda mais a cada Jornada. Mais de 4 mil pacotes de sementes e cerca de 145 variedades de sementes foram distribuídas durante a atividade, e cerca de 170 pessoas adotaram sementes. Foram realizados 18 testes de transgenia em sementes de milho, com identificação de três variedades contaminadas. Ao longo de toda a Jornada, oito grupos de guardiões das sementes também comercializaram cerca de 300 variedades.
*Editado por Solange Engelmann