Porque a esperança, definitivamente, há de vencer o medo
Por Ceres Hadich, da direção nacional do MST no Paraná
Quando iniciamos uma semana com notícias como a do assassinato de Marcelo Arruda, vítima de mais uma ação criminosa bolsonarista, demostrando a incapacidade do bom senso, do diálogo, da tolerância, da garantia do direito democrático, ficamos, além de tristes, pensativos.
Tristes, pela humanidade, pela barbárie que estamos vivendo. Tristes por imaginar que seres humanos, cada vez mais animalizados, vivem uma espécie de surto coletivo, absolutamente desgarrado da racionalidade e da empatia. Lobos em peles de lobos, motivados por um pastor assassino e sanguinário.
Pensativos, porque sequer temos tido a condição de debater sobre isso com a sociedade, seja pelas condições que a pandemia nos impôs, ou mesmo pelo acirramento dos ânimos que nos impedem de simplesmente refletir, conversar, escutar. Ou, talvez pior que isso, seja pela apatia generalizada que se impôs em nossa sociedade. Será medo? Será que não estamos entendendo o que está acontecendo com nosso país, tem alguém aí?!
A mensagem é clara: a morte de Marcelo, um crime de ódio, é mais um alerta, de um lado, dessa autorização para cometer crimes, para violentar, atirar, estuprar, controlar, explorar, e está deliberadamente apoiada por um ser desprezível que tem levado nosso país e nosso povo a uma das crises mais dramáticas de nossa história.
Se há alguma polarização aqui, é essa: estamos diante de um enfrentamento entre os que defendem a vida, e de outro lado, os mensageiros da morte, na sua versão o mais sem escrúpulos e grotesca possível.
Os ares não são tão bons, e você me perguntará: por que cantamos? Por Marcelo, por você, por nós. O amanhã vai chegar, e a estrela da dignidade e do respeito voltará a brilhar.
Há um pensamento de Che Guevara que nos inspira, ao dizer, que os poderosos, podem arrancar uma, duas ou mais flores, entretanto, jamais serão capazes de impedir a chegada da primavera.
E então, ainda que tristes, pensativos, nos obrigamos a voltar a sonhar, porque há que esperançar, e subverter essa lógica de morte. Há que sonhar com lutas, as conquistas que nos motivem à alegria, à renovação, como nunca deviam deixar de ter sido.
Editado por Maiara Rauber