Alimentação Escolar
Aumento de 40% no Programa Nacional de Alimentação Escolar aguarda sanção presidencial
Organizações que fazem parte do Observatório da Alimentação Escolar denunciam a defasagem do repasse da União ao PNAE, programa que beneficia 41 milhões de estudantes da educação básica

Por Mauro Utida
Do Ninja
Com cerca de cinco anos de defasagem no orçamento, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) deve conseguir uma correção de aproximadamente 40% na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2023, passando de R$ 3,96 bilhões para, pelo menos, 5,53 bilhões. A correção foi aprovada pelo Congresso Nacional e aguarda sanção de Jair Bolsonaro (PL).
O PNAE é responsável por transferir recursos para complementar o orçamento de 27 estados e 5,5 mil municípios para a compra de merenda escolar na educação básica das escolas públicas, instituições filantrópicas e comunitárias sem fins lucrativos. A mesma norma também determina que 30% dos repasses sejam usados para aquisição de produtos provenientes da agricultura familiar, como programas do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Os valores per capta são executados e gerenciados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e beneficiam 41 milhões de estudantes da educação básica pública.
De acordo com o Observatório da Alimentação Escolar (ÓAÊ), o PNAE é um potente programa para alcançar crianças que estão em situação de fome, mas os valores estavam defasados devido ao orçamento que não é atualizado desde 2017 e a inflação que reduziu o poder de compra dos alimentos. “Detectamos que a fome está mais presente em lares com crianças com menos de 10 anos que estão em escolas públicas e boa parte destes domicílios acessam o PNAE”, destacou Mariana Santarelli, coordenadora do Observatório.
Ainda que haja motivos para comemorar, os valores per capta repassados pela União ao PNAE são insuficientes para garantir que o programa cumpra sua finalidade. Hoje, a maior fatia dos recursos destinados à compra de alimentos é financiado pelos estados e municípios. Os recursos da União são apenas suplementares.
Conquista
A correção no orçamento anual do PNAE foi aprovada na semana passada pelo Congresso Nacional, através da Comissão de Educação, que abraçou a luta coordenada pela FIAN Brasil e as organizações que fazem parte do Observatório da Alimentação Escolar, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que mostraram a defasagem no orçamento. A rede produziu um relatório mostrando as graves perdas que a alimentação escolar sofreu entre 2010 e 2020.
No contexto pós-golpe da presidenta Dilma Rousseff, o coordenadora do Observatório informa que o PNAE foi um dos poucos programas que manteve menos perdas com o desmonte de políticas de segurança alimentar. Porém, Mariana explica que o valor atualizado de R$ 5,53 bilhões ainda está defasado. “Em uma projeção para recuperar somente as perdas da inflação desde 2010, o valor destinado da UNião ao PNAE para 2023 deveria ser de R$ 7,5 bilhões”, diz. “Ainda é aquém, mas é uma conquista enorme”, conclui.
Alerta
Mariana informa que ainda há um longo caminho pela frente, pois a emenda parlamentar à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que prevê o reajuste do PNAE ainda necessita da sanção presidencial de Bolsonaro. “Tudo pode acontecer, principalmente neste momento inseguro que qualquer tipo de manobra pode retroceder esta conquista”, alerta.