Educação no Campo
Estudantes seguem sofrendo com o descaso no RS e com o direito negado de acessar aulas
Por Maiara Rauber
Dá página do MST
Julho é o mês em que todas as crianças entram em férias escolares. No entanto, na região da Fronteira Oeste, no Rio Grande do Sul, muitos educandos de Escolas do Campo ainda não estão conseguindo acessar as aulas todos os dias. A precariedade das estradas é o principal empecilho enfrentado por famílias assentadas da região. Com a falta de manutenção das estradas, o transporte escolar em várias ocasiões não acessa determinadas localidades, os quais alegam colocar em risco a segurança das crianças.
Isso afeta toda a vida da família, e também prejudica o escoamento da produção dos assentamentos, que precisa se deslocar até a cidade para as feiras ou até mesmo uma consulta médica.
“Nós concordamos com esse perigo. Em dias de chuva, é impossível transitar nessas estradas. Após várias tentativas, conseguimos uma reunião com o prefeito daqui, ele se comprometeu em realizar um cascalhamento nas estradas para viabilizar a entrada dos ônibus escolares, mas até agora nada foi feito”, relata a dirigente Estadual do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra do Rio Grande do Sul, Nilva Azevedo, do Assentamento Unidos Pela Terra de Alegrete.
Outra problemática enfrentada pelas crianças é a demora para chegar às escolas. De acordo com Nilva, os educandos saem de suas casas às 6 horas da manhã e chegam na escola por volta das 9:30 horas. “Chegando nesse horário fica precarizado o aprendizado, pois, além do atraso, o cansaço da viagem influencia na hora da aprendizagem. As aulas acabam às 16 horas e levam mais três horas para voltar para suas casas”, comenta a Sem Terra.
Outro ponto preocupante é a possibilidade do aumento de rotas desse ônibus que busca esses educandos. Com isso, o atraso e o tempo de viagem aumentará, intensificando a angústia das famílias e principalmente das crianças.
Nos assentamentos de São Gabriel, segundo Tainara Carvalho, jovem Sem Terra, o acesso às aulas esse ano foi mínimo. “Se nós contarmos os dias em que teve aulas, foram no máximo 30. Além disso, os ônibus vão até certo ponto, obrigando as crianças a caminharem mais de 6 quilômetros até chegarem a parada” enfatiza. São mais de 300 crianças prejudicadas, e a prefeitura nada tem feito para mudar essa situação.
Há anos as famílias vêm sofrendo com o descaso da Educação do Campo no Estado, há uma tentativa de os inviabilizar. “A política tem sido de fechar as escolas ou então sucatear, forçando os pais a colocarem as crianças em outras escolas, em geral na cidade. É inadmissível que uma criança tenha que ficar seis horas no transporte escolar para ter esse direito básico garantido, de acessar a escola” pontua a educadora Juliane Soares, da Direção Estadual do MST RS.
O Estado, o poder público, trata o campo como se ali não houvesse gente, quando na verdade são esses camponeses, que com todas as dificuldades e sem acesso a política pública estão lá resistindo. Essas mesmas pessoas produzem alimentos saudáveis para comercializar, e também para colocar em prática a solidariedade e tentar minimizar a fome que hoje afeta milhões de brasileiros.
*Editado por Fernanda Alcântara