Notícias Falsas
A importância em combater a desinformação nos territórios do MST
Por Solange Engelmann
Da Página do MST
As fake news ou notícias falsas circulam há séculos na sociedade brasileira, mas com o avanço da internet e a popularização das redes sociais, tem se tornado cada vez mais frequente. Aliada à criminalização, elas são velhas conhecidas dos movimentos populares no Brasil, principalmente do MST, que ao longo de sua história tem enfrentado inúmeros ataques.
As notícias falsas e distorcidas têm sido usadas com a intenção de deslegitimar a luta pela terra e por Reforma Agrária, além de silenciar e sufocar a organização das trabalhadoras e trabalhadoras Sem Terra. Porém, com as redes sociais, a circulação desse tipo de mentiras atingem proporções maiores, com um amplo poder de viralização, se tornando muito mais perigosas, como relembra Wesley Lima, da coordenação do Setor de Comunicação do MST e integrante da Direção Nacional.
“As notícias falsas sempre tiveram a função de construir elementos simbólicos e narrativos que criminalizam a luta construída pelo MST e outros movimentos populares. Esse tipo de narrativa posiciona a luta do Movimento em um sentido de ilegalidade. Não configurando a luta como um direito e muito menos como necessária. Com a “popularização” do acesso à internet, as mesmas ferramentas seguem atuando, porém em proporções grandes e muito mais rápidas. Seu efeito de propagação é gigante, assim como os impactos na construção das lutas sociais e dos processos democráticos.”
Neste período de eleições presidenciais no Brasil, que vai até outubro deste ano, as notícias falsas tem aumentado em proporções alarmantes nas redes sociais. Elas são parte de uma campanha contra a democracia, disseminada principalmente por bolsonaristas que tentam minar a confiança da população no processo eleitoral e nas urnas eletrônicas. Por isso, é importante estarmos atentos e alertas a todos os conteúdos recebidos pelas redes sociais e por meio de aplicativos de mensagens, antes de compartilhar ou passar para frente.
Informações do portal do Tribunal de Justiça do Paraná sobre o perigo da fake news, em um estudo divulgado pelo Instituto Mundial de Pesquisa (IPSO), em 2018, revelou no levantamento, que 62% dos entrevistados do Brasil admitiram já ter acreditado em notícias falsas, número acima da média mundial que é de 48%.
Outro estudo, consultado em junho de 2020 sobre o Relatório de Notícias Digitais do Instituto Reuters (Reuters Institute Digital News Report), mostrou que o WhatsApp é uma das principais redes sociais de discussão e troca de notícias no país, perdendo somente para o Facebook. O levantamento indicou que 48% dos brasileiros que participaram da pesquisa usam o aplicativo como fonte de notícias, número acima do índice de outros países como: Austrália (8%), Reino Unido (7%), Canadá (6%) e Estados Unidos (4%).
Perigos para democracia
Os perigos e prejuízos das notícias falsas para a democracia brasileira e a participação popular, são inúmeros, pois esse tipo de conteúdo é criado com base em mentiras, que distorcem a realidade e apelam para o emocional das pessoas, reforçando algumas crenças e determinados preconceitos de alguns grupos conservadores. As notícias falsas surgem com a intenção de provocar nas pessoas determinadas reações impulsivas, tentando impedir a possibilidade de reflexão e um debate racional, baseado na razão, na realidade concentra, bem como na ciência e na história.
“As fake news apelam para o emocional do leitor/espectador. Atuam principalmente em pequenos grupos, através das realidades locais, reafirmando ideias conservadoras, se consolida enquanto uma verdade a partir das redes de confiança que construímos no dia a dia, e, como temos percebido no último período, atuam na defesa de um projeto de país contra nossas existências, enquanto classe trabalhadora”, alerta Lima.
A indústria da desinformação vem prejudicando o debate público na sociedade brasileira, principalmente após o golpe contra a ex-presidenta Dilma em 2016 e as eleições presidências de 2018, em que Bolsonaro foi eleito, fomentando o ódio e a violência na política, e tentando impedir qualquer forma de debate entre as pessoas, com pensamentos diferentes sobre assuntos públicos. Atacando assim, a democracia e o exercício da cidadania, pois um sistema democrático depende da diversidade de ideias e de ideias divergentes, para que seja possível a construção de consensos, a partir de debates públicos, centrais para o avanço democrático.
Um exemplo disso tem sido a tentativa de negação sobre a eficácia histórica e de referência do Brasil na área da vacinação pública e do Sistema Único de Saúde (SUS), durante a pandemia. Bolsonaro e seu grupo político tentaram negar o perigo da Covid-19, dizendo primeiro ser “uma gripezinha”, e depois passaram a disseminar uma rede de fake news, o que causou a morte de quase 700 mil pessoas até o momento, além de colocar em risco a vida de milhares de pessoas, atacar e desestruturar ainda mais o SUS, aumentando os prejuízos da maioria da população que depende desse serviço público.
Carolina Cruz, da Frente de Tecnologia da Informação do MST concorda e também relembra que é preciso entender que as fake news não surgem de forma espontânea, mas, são parte de uma indústria que produz conteúdos sem qualquer compromisso com a verdade e que busca, ao mesmo tempo, manter o poder da classe dominante e das elites sobre os trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade.
“Combater as fake news é um grande desafio. Como são produzidas para mobilizar as emoções das pessoas, elas despertam medo, raiva ou ressentimento de algum grupo ou pessoa. E neste momento, em que vivemos altos índices de desemprego, de fome, de insegurança econômica, muitas perdas pela pandemia e falta de perspectivas para o futuro, temos um terreno fértil para que essas fake news nos afetem e confundam”, alerta Carolina.
O governo de Bolsonaro é marcado pela política das notícias falsas contra os movimentos, grupos populares e partidos progressistas, que se posicionam contra seu governo de morte. Para combater essa indústria da desinformação, que possuí uma rede de distribuição por todo país, além de apoio e financiamento de grupos internacionais, o coordenador do Setor de Comunicação do MST aponta a necessidade da base Sem Terra, inicialmente compreender o funcionamento dessa indústria e, em seguida, combater às notícias falsas e à sua desinformação, como uma tarefa central nesse momento político do país.
“Entendemos que o primeiro passo é o conhecimento sobre a existência das fake news, seus modos operantes e o papel estratégico delas em determinados períodos políticos. Massificar a compreensão sobre esse processo é fundamental. O segundo passo, é garantir a construção de redes de monitoramento para atuar, efetivamente no combate à mentira de maneira rápida. E se contrapor a informação falsa. Apresentar a verdade e denunciar a mentira”, explica.
Nesse sentido, Carolina também enfatiza que o combate às fake news depende de que sejam criadas as condições técnicas de regulação das redes sociais, mas que há outros dois fatores fundamentais que podem contribuir nessa luta, como o desmonte das estruturas econômicas que sustentam a produção e circulação das notícias falsas. “É importante denunciar e responsabilizar os grupos de empresas e empresários que financiam essa indústria da desinformação, e tornar claro qual seus interesses e ganhos com as fake news.”
E num segundo momento, as instituições públicas, em cada país precisam criar as condições para que no cotidiano as pessoas possam ter ferramentas de checagem, para o questionamento, debate e a reflexão sobre as notícias que recebem, enfatiza Carolina. “É importante ter recursos para que se possa checar as informações, sejam eles de estrutura como acesso à internet ou outras fontes de busca, e recursos formativos para compreendermos essa realidade. Entender o funcionamento e a dinâmica das plataformas digitais e o seu papel na difusão das fake news, é uma análise importante para que possamos avançar na batalha das ideias”.
Considerando o combate à indústria da desinformação como um desafio estratégico do MST, neste período eleitoral e de construção de um projeto popular de país, a partir da eleição de Lula presidente, Lima ressalta ser fundamental que cada trabalhadora e trabalhador Sem Terra contribua nesse desafio, desde os territórios da Reforma Agrária e de suas redes sociais, “impedindo que as fake news se criem em nossos assentamentos e acampamentos. Por isso, precisamos que todos se compreendam como agentes comunicadores populares, capazes de atuar no monitoramento, identificação e construção de um contra discurso com a verdade. Esse tema é um grande desafio para nós e por isso, neste momento eleitoral é mais que estratégico estarmos afinados na tática de combate às mentiras.”
Como identificar uma notícia falsa (fake news)?
- Pare, pense e reflita antes de compartilhar: Quando você receber algum link, foto ou vídeo pelas redes sociais ou aplicativos de conversa, pare e pense sobre o conteúdo. É algo estranho, exagerado. Reflita sobre isso antes de compartilhar;
- Verifique as fontes da informação e acesse o site da publicação para se certificar se é real: organizações ou pessoas que você nunca ouviu falar aparecem na publicação? Há outras publicações duvidosas nesta plataforma? desconfie;
- Sempre verifique as datas: notícia tem data de validade – o mundo muda rapidamente e uma notícia pode ter sido verdade, mas há dez anos atrás. Não se deixe enganar por matérias muito antigas;
- Desconfie de posicionamentos radicais e discursos de ódio: notícias verdadeiras trazem pelo menos dois pontos de vista;
- Se o conteúdo estiver em apenas um lugar, desconfie. Hoje, dificilmente um veículo de comunicação consegue reter uma notícia exclusiva. Pesquise sobre a informação e se foi publicada em mais veículos, principalmente os que você conhece e confia;
- Título sensacionalista ou milagroso: fique atento a esses títulos que são feitos para atrair mais cliques e nem sempre são verdadeiros. Leia a matéria completa, não só o título: procure abrir o link (se conhece a fonte) e leia tudo. Preste atenção nas informações, se há erros de português, muitas letras maiúsculas e pontuação errada; desconfie e cheque se a informação foi publicada por outros meios de comunicação ou portais online;
- Consulte sites de verificação e checagem gratuitos para evitar repassar fake news. Na internet existem alguns sites especializados em checar a veracidades de conteúdos que circulam na redes como: Fato ou Boato, site criado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para desmentir conteúdos falsos; Agência Lupa, Agência Pública, Aos Fatos, Boatos.org, Comprova, são outros portais que podem ser acessados para confirmar a veracidade de um conteúdo.
- O que fazer se identificou um conteúdo falso:
a) Não compartilhe, não passe a mensagem adiante.
b) Denuncie nas redes sociais: Instagram, Facebook, etc.
c) Converse com quem enviou o conteúdo ou compartilhou com você e peça para não repassar.
Antes de compartilhar qualquer informação, pare, leia, pense e reflita sobre o conteúdo que compartilha. Na dúvida, não repasse, e ao identificar um conteúdo falso denuncie!
*Editado por Fernanda Alcântara