Fome no Brasil
Organizações sociais sinalizam criação de uma rede no combate à fome na capital paulistana
Por Wesley Lima
Da Página do MST
Na manhã deste último domingo (4/9), um dia após as mobilizações nacionais contra a Fome e Sede, a Campanha “Gente é pra Brilhar, não pra morrer de Fome”, em parceria com a Frente Nacional Contra a Fome e Sede, realizaram no Armazém do Campo de São Paulo o Encontro das Ações de Solidariedade.
Com o objetivo de discutir o calendário de solidariedade, socializar experiências e apontar os principais desafios da luta contra a fome no Brasil, o Encontro contou com a participação de organizações sociais, cozinhas solidárias e voluntários que têm atuado na doação de alimentos e marmitas em toda capital paulistana.
Dividido em três momentos, os participantes debateram as principais questões que envolvem o aumento da fome no país, entre eles, as contradições presentes no modelo de produção do agronegócio. Segundo Carla Bueno, militante do MST e integrante da Campanha Gente é pra Brilhar, existem pelo menos três contradições: a primeira diz respeito ao aumento nos números de pessoas que passam fome ou sofrem algum grau de insegurança alimentar.
A fome afeta atualmente 33,1 milhões de brasileiros, de acordo com uma pesquisa lançada em 2022. É o equivalente a 15,5% da população. As regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas. A subnutrição e a desnutrição são as principais consequências da fome, podendo causar doenças e levar até mesmo à morte. Por outro lado, o agronegócio cresce. O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea-USP) em parceria com a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), cresceu 8,36% em 2021.
A segunda contradição apresentada por Bueno tem haver com a liberação e uso intensivo de agrotóxicos no Brasil. Foram registrados no Brasil cerca de 450 agrotóxicos. A Anvisa manifestou que agrotóxicos banidos em países como China, Estados Unidos e países da União Europeia têm atualmente como principal destino o Brasil. Aqui são usados pelo menos dez produtos banidos nesses países.
Por fim, ela sinalizou que a alta no preço dos alimentos é a terceira contradição no modo de produção do agronegócio e a sua relação com o Estado. No acumulado dos últimos 12 meses, por exemplo, a inflação no Brasil é de 10,07%, mesmo com a queda registrada em julho. Nesse recorte, o Brasil apresenta a 4ª maior taxa de inflação entre os países do G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo.
“Se por um lado, o agronegócio segue batendo recorde no faturamento, mesmo diante de uma pandemia, por outro, o povo brasileiro passa fome, sofre com o preço dos alimentos e é afetado com o veneno presente uma parte considerável dos alimentos”, afirmou Bueno, e continua: “não existe um processo de transformação profunda sem leis no Estado que regule e que provoque reais transformações”, destacou.
Cozinhas solidárias
As cozinhas solidárias tem se constituído como um espaços de preparo de alimentos e organização, principalmente, das marmitas solidárias. O MST, a nível nacional, tem contribuído na organização de mais de 40 cozinhas solidárias, que desde o início da pandemia de Covid-19 doaram mais de 2 milhões de marmitas.
Apenas em São Paulo, a campanha “Gente é pra Brilhar, não pra morrer de fome” tem distribuído marmitas em mais de 150 pontos. No encontro, a partir da socialização das diversas experiências de cozinha e da relação construída com os moradores em situação de rua na capital, sinalizaram que as iniciativas têm se tornado em espaços de referência para garantia de uma “soberania alimentar popular”.
Um desafio sinalizado durante o Encontro, é a necessidade de avançar na construção de um conjunto de ações unitárias, junto com as doações de marmitas e outras ações solidárias, reafirmando a existência de uma rede solidária, atuando na capital.
7 de Setembro
De olho nas mobilizações e agendas de lutas pensadas para os próximos dias, os participantes do Encontro sinalizaram a importância de posicionar a luta contra a fome a partir da construção e realização do 28º Grito dos/as Excluídos/as, doando alimentos na Praça da Sé, no Centro de São Paulo.
O Grito, que acontece no próximo dia 7 de setembro, quarta-feira, tem como chamada “Vida em primeiro lugar: Brasil 200 anos de independência para quem?”. De acordo com a dirigente nacional do MST, Keli Mafort, em entrevista para Página do MST nesta última semana, as ações deste ano também questionam “o quanto neste bicentenário da independência nós precisamos retomar com muita força as bases da discussão de um projeto Popular para o Brasil. É por isso que o grito diz e provoca os movimentos e as pastorais a dizer: qual é o seu grito?
*Editado por Fernanda Alcântara