MST nas Eleições
MST Ceará debate a conjuntura política brasileira com a presença de Chico Pinheiro
Por Amanda Sobreira
Do Brasil de Fato
Mandioca, batata, feijão, arroz. Tudo orgânico. Alimentos produzidos onde antes havia terra improdutiva, latifúndios grilados com crimes ambientais, e muitas vezes esquecidos, que montam uma grande concentração fundiária destinada à empresas do agronegócio e políticos da bancada ruralista.
Fundado oficialmente em 1984, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) luta pela reforma agrária e por justiça social num país que possui um dos maiores índices de concentração de terras e de renda do planeta. Enquanto luta por reforma agrária, o MST alimenta em média as 450 mil famílias assentadas com o que é produzido nos seus territórios conquistados. O que sobra é doado, como aconteceu na pandemia da Covid-19, quando o Movimento doou mais de 6 mil toneladas de alimentos e mais de 1 milhão de marmitas para pessoas que voltaram à situação de fome e insegurança alimentar, em 24 estados do Brasil.
Outra parte do que é produzido pelo MST é comercializada nas feiras da agricultura familiar, onde as organizações e cooperativas vendem produtos agroecológicos e reafirmam a importância de defender a reforma agrária e a luta pela terra. Além disso, a iniciativa aproxima o MST da população das grandes cidades, integrando as pessoas e dando a oportunidade delas entenderem a proporção e a importância do movimento.
Nessa perspectiva de lutar por mudanças sociais no país, o MST tomou uma decisão inédita e lançou 15 candidatos para ocupar o parlamento com representantes próprios em 15 estados brasileiros e no Distrito Federal, nas eleições de 2022. Todos pelo Partido dos Trabalhadores. No Nordeste, são três candidaturas ao legislativo estadual, no Ceará, Pernambuco e Bahia; e à Câmara Federal, pelo Maranhão. O amadurecimento político e o crescimento do MST incomodaram grupos de direita e empresários. No Ceará, por exemplo, Roberto Cláudio (PDT) e Capitão Wagner (União Brasil), candidatos ao governo do estado, tentaram incriminar as iniciativas do Movimento na propaganda eleitoral.
“Há um desespero à medida que a nossa campanha cresce. É inadmissível escutar de alguém que pretende ser o governador do Ceará, uma agressão contra a integridade das pessoas e das organizações. O MST luta por uma sociedade mais justa. Só no Ceará, nós doamos 70 toneladas de alimentos durante a pandemia. Somos um movimento que luta para melhorar a vida do povo, tirando os trabalhadores e camponeses da fome e da miséria”, afirmou o candidato a deputado estadual do Ceará, Missias do MST, durante a plenária que analisou a conjuntura política do país, na noite do último dia 29, no Centro de Formação, Capacitação e Pesquisa Frei Humberto.
O evento contou com a participação do jornalista carioca Chico Pinheiro, que já declarou apoio aos candidatos ligados ao MST e ao candidato Lula (PT). Para Chico, o crescimento do MST e o desejo de ocupar o parlamento com seus representantes, incomoda quem tem o poder no Brasil. “Naturalmente, nesse país que tem mais de 500 anos, com uma classe dominante insensível, egoísta e que massacra os trabalhadores, qualquer movimento que surja no meio popular, com força e verdade, apavora os donos do poder, desse grande latifúndio chamado Brasil. Mas eles não passarão. Vejo com muita esperança, movimentos aparecendo por todos os lados e as pessoas começando a entender o que realmente é o MST, um Movimento que quer justiça para os brasileiros, em um país onde poucos têm muito, e muitos não tem nada”, ressaltou o jornalista.
O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais e Sem Terra (MST), João Paulo Rodrigues, também esteve na plenária e conversou com o BDF. Ele falou sobre o lançamento das candidaturas do MST e fez um balanço das campanhas ligadas ao movimento. “O principal desafio é a luta contra o golpe. Essa trincheira da disputa institucional através das eleições, é a única possibilidade na atual democracia, de tentarmos segurar o fascismo, o golpismo e dar um recado pra sociedade brasileira: Que o MST faz suas lutas de rua, de massa, ocupando latifúndio, mas também temos um compromisso com a democracia. Por isso, consolidamos o apoio político para que o Lula faça as mudanças que precisam ser feitas e eu não estou falando das pautas do MST. É a mudança do país sendo trabalhada em conjunto, buscando melhor salário mínimo, distribuição de riqueza, melhorias na educação e na segurança pública”, defendeu.
Edição: Camila Garcia/ Brasil de Fato