Exposição

Retomadas: “Quando a gente conhece a nossa história, é possível reagir às injustiças com força e indignação”

Durante visita ao MASP, militância Sem Terra fala sobre o papel do arquivo e da memória na construção da história de um povo
Foto: Yuri Gringo

Por Wesley Lima
Da Página do MST

Pintado de vermelho e com símbolos importantes da luta pela terra e da defesa dos territórios no Brasil, o Museu de Arte de São Paulo (Masp) recebeu, na tarde desta quinta-feira (6/10), a visitação de militantes do MST na exposição “Histórias Brasileiras”, em especial ao núcleo “Retomadas”, que possui fotografias e cartazes que contam e recontam a história do Movimento.

“Histórias Brasileiras” é apresentada no ano em que se completam 200 anos da Independência do Brasil e 100 anos da Semana de Arte Moderna. Mas são também os 100 anos da morte do escritor Lima Barreto, 100 anos do nascimento dos artistas Judith Lauand e Rubem Valentim. Além disso, há hoje uma intensa revisão das histórias do Brasil – expressa em livros, exposições, conferências, filmes e documentários. Essas questões e marcos históricos importantes, aparecem como plano de fundo para construção da exposição.

Clarisse é pesquisadora e curadora do Retomadas. Foto: Yuri Gringo

Clarisse Diniz, pesquisadora e curadora, explica que a exposição é fruto de uma movimentação ampla construída internamente no museu. “O MASP, nos últimos anos, tem sido um museu que tem abordado o tema das histórias, no plural, pensando as várias narrativas sobre temas diversos. Já tivemos exposições sobre o feminismo, a diáspora negra e por conta do bicentenário da independência desse ano, a ideia é trazer a história do Brasil transformada em ‘Histórias Brasileiras’ no plural”.

Dividida em oito núcleos e organizada por temas, a exposição ocupa alguns andares do MASP, cada um localizado em uma sala: quatro no primeiro andar (Bandeiras e mapas; Paisagens e trópicos; Terra e território; Retomadas) e quatro no primeiro subsolo (Retratos; Rebeliões e revoltas; Mitos e ritos; Festas).

Numa visão geral, a exposição inclui mais de 400 objetos: pinturas, desenhos, esculturas, fotografias, vídeos, instalações, jornais, revistas, livros, documentos, bandeiras e mapas. Ela é organizada por 11 curadores e curadoras.

Retomadas

Sandra Benite fala sobre a simbologia da resistência. Foto: Yuri Gringo

“O núcleo Retomadas parte da ideia e ação de retomada dos territórios, e que o assunto dessa retomada seja pensada a partir da perspectiva da reforma agrária ou da perspectiva da demarcação de terras indígenas como a sua coluna vertebral”, afirma Diniz.

Ela conta também que o núcleo fala de retomadas de territórios, mas também fala de retomadas de identidades, de línguas, de direito à cidade, de direito aos corpos. “O núcleo nos alerta que estamos no momento de retomar as coisas e os direitos que nos foram roubados pelo processo de colonização e por isso, o MST é um pedaço gigantesco do Retomadas”, destaca.

Sandra Benites, também pesquisadora e curadora, afirma que a imagem e a própria voz são ferramentas de transformação presentes no núcleo “Retomadas”.  

Sobre o papel político do Retomadas, levando em consideração a luta pela demarcação das terra indígenas, ela explica: “trazemos todas essas questões, porque através da essência da luta é muito importante a gente expor isso e debater como uma continuidade”.  Pensando nisso, Sandra enfatiza que a ocupação no MASP não pode parar, é necessário ter uma continuidade e envolver ainda mais pessoas na sua construção.

Memória e identidade

Rosa Negra é militante Sem Terra e CPP da ENFF. Foto: Yuri Gringo

Durante a visitação dos trabalhadores e das trabalhadoras Sem Terra, o tema da memória, resistência e a construção histórica da luta pela terra contada pelo próprio povo que a protagoniza, ganhou destaque. Rosa Negra, do MST no Rio Grande do Norte e integrante da Coordenação Político Pedagógica da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), fala convicta do papel que a memória possui na construção da identidade de um povo.

“O tema da memória tem haver com a construção da identidade de um povo e a compreensão da nossa história. Porque quando a gente conhece a nossa história, é possível reagir as injustiças com mais força e indignação. A memória passa por isso. Por nos entender enquanto identidade de classe trabalhadora, saber das lutas dos nossos povos. E pra gente é importante que o MST resgate e contribua nesse papel, enquanto protagonista neste processo”, explica Rosa.

Nesse sentido, ela afirma que a visitação ao núcleo Retomadas tem sido uma vivência marcante: “porque é uma briga nossa para que possamos contar a história a partir dos povos. O MST estar aqui, em um espaço oficial da memória que é o MASP, significa que só a luta faz as coisas mudarem, só a luta a faz valer.”

Em cartaz

A exposição “Histórias Brasileiras” está em cartaz no MASP até o dia 30 de outubro. Às terças-feiras e em toda primeira quarta-feira do mês qualquer pessoa pode visitar o MASP gratuitamente.

Confira mais fotos da visita:

*Editado por Fernanda Alcântara