Produção Sem Terra
Fala de Lula sobre o MST impulsiona busca por produtos da Reforma Agrária no Armazém do Campo
Por Alex Mirkhan
Do Brasil de Fato
As pessoas estão procurando cada vez mais se alimentar de forma saudável, consumindo produtos orgânicos e livres de venenos, e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) tem buscado se adaptar para ampliar e se aproximar do seu público nas cidades. Desde o início de setembro, Brasília também conta com uma nova loja da rede Armazém do Campo, a vigésima primeira unidade, que aproveitou a projeção alcançada por menções ao MST durante a campanha eleitoral.
“Quando o Lula, naquela quinta-feira, disse que o MST é o maior produtor de arroz orgânico do Brasil, no outro dia houve um aumento nas mídias sociais – isso é fácil de medir – e principalmente no consumo de produtos. Muitos, muitos, muitos clientes novos. É um esforço muito grande que a gente teve na retaguarda de conseguir abastecer os armazéns de norte a sul”, aponta Lucas Brozi, coordenador nacional da rede de Armazéns do Campo.
Jessica Garcia, coordenadora do Armazém do Campo do Distrito Federal, destaca o efeito Lula sobre o local. Ela conta que o episódio refletiu positivamente em todos os armazéns – incluindo Brasília.
“Na semana que teve essa entrevista nosso estoque esgotou. Só na feira, no fim de semana depois, a gente teve 4x mais vendas do que o comum. Então foi uma surpresa ótima para a gente e não refletiu só no arroz – claro que o arroz é o carro chefe de procura – mas em todos os outros produtos, porque o pessoal começou a observar e dizer ‘nossa, mas isso é produzido pelo MST?”, ressalta.
Apesar da expansão, os coordenadores sabem que o processo é lento até consolidar um trabalho que, segundo eles, é de formiguinha. Envolve desde a produção no campo, processos industriais e de logística até a militância organizada nos centros urbanos.
Para os consumidores de Brasília, a oferta de hortaliças cultivadas no próprio Distrito Federal começou em 2016 em uma feira aos sábados que se mantém até hoje na ponta da Asa Norte. Uma relação construída aos poucos e que abriu mercado para produtos de outras regiões.
“Como no início a gente não ia conseguir, principalmente estruturalmente e financeiramente, ter a abertura de uma loja, a gente começou a funcionar como uma banca na feira da ponta norte, que fica aqui perto da loja inclusive, para poder preparar todo o território para poder conseguir conquistar um espaço, uma loja física”, relembra Jéssica.
Sandra Cantanhede é coordenadora do MST no Distrito Federal. Para ela, a relação entre os produtos do MST e o Armazém do Campo vai muito além da comercialização.
“Como para nós se alimentar é um ato político, o Armazém busca ser essa ferramenta também de combate ao agronegócio, de combate ao veneno colocado na mesa da população, então busca ser essa referência”, explica.
Bonés e camisetas do movimento também têm boa saída no Armazém de Brasília, e ajudam a custear os investimentos feitos nas primeiras semanas de operação. O cliente e jornalista Pedro do Vale se orgulha de demonstrar apoio a bandeiras históricas como o assentamento de famílias camponesas e a preservação do meio ambiente.
“Existe uma visão muito distorcida sobre o que é o MST, sobre o que MST faz. E acho que a presença do MST nos espaços também serve como uma forma de quebrar esse tabu que foi criado”, diz.
Localizada na Asa Sul, um dos bairros mais caros de Brasília, a loja quer se tornar um ponto de encontro e de debates, lançamentos de livros, gastronomia e música.
E não apenas aos moradores do entorno, mas também para quem mora em bairros mais afastados e cidades satélites.
“Vim pela primeira vez para conhecer o Armazém do Campo, para comprar um boné e também parabenizar o projeto que é muito bonito, muito legal. Minha família é adepta a esse movimento, respeita, acompanha, então eu cresci vendo isso e respeitando, claro”, destaca o advogado Leonardo Otaviano.
“Ao mesmo tempo que é legal ter espaço num lugar da elite, a descentralização, para que o trabalhador possa ter um acesso ainda mais fácil a esses produtos. A simples existência de um espaço já é um ‘chama atenção’, já traz para uma nova perspectiva”, acrescenta do Vale.
Segundo a coordenação do Armazém, a rede está se expandindo justamente para chegar a mais capitais e cidades do interior, inclusive dentro de alguns assentamentos. Até o ano que vem, o plano é estar presente em 17 estados, seis a mais do que os 11 atuais. Sempre norteadas pelos mesmos princípios.
“Os Armazéns do Campo servem como espaços públicos do MST nas cidades para realizar o debate junto à classe trabalhadora urbana sobre as questões do campo. Para mostrar um outro modelo de campo em contraponto ao que está sendo propagandeado pelas mídias sobre as belezas do agronegócio, que é a reforma agrária popular, é a produção de vida, onde nós geramos empregos, trazemos a diversidade e trazemos novas relações humanas mais saudáveis”, Lucas Brozi.
Edição: Douglas Matos/ Brasil de Fato