MST na Posse
Assembleia dos Movimentos reafirma que luta popular e a luta institucional precisam estar “de mãos dadas”
Por Ednubia Ghisi e Franciele Petry
Da Página do MST
A diversidade de bandeiras de movimentos populares e de coletivos coloriu a plateia da Assembleia do Acampamento dos Movimentos Sociais, realizada na tarde deste sábado (31/12), no Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília. Centenas de pessoas participaram da atividade, que marca o acampamento preparado para garantir a participação popular na posse de Lula como presidente do Brasil, neste dia 1° de janeiro de 2023.
A bateria da Escola de Samba Unidos da Lona Preta, formada por militantes do MST, e também a dança e o canto indígena deram o ritmo da assembleia. A abertura do bandeirão do Brasil também demarcou a simbologia do espaço. A imagem do presidente Lula compôs o fundo do palco em que uma dezena de parlamentares e representantes de movimentos sociais.
O público formado por maioria de integrantes de movimentos camponeses recebeu com animação o futuro ministro do Desenvolvimento Agrário, Agricultura Familiar e Economia Solidária (MDA), Paulo Teixeira. “Não tem emoção maior do que começar esse ministério junto com vocês, movimentos de luta pela Reforma Agrária”, frisou.
Entre os desafios centrais está enfrentar a desigualdade social, inclusive no campo, que hoje se materializa na fome, conforme afirma o futuro ministro. A medida emergencial será garantir 600 reais e 150 reais para cada criança da família.
“Vocês poderão ajudar a tirar o Brasil da fome à medida que a gente produzir alimentos baratos, de qualidade, sem veneno, a partir da agroecologia para as cidades brasileiras”, propôs, afirmando que será retomados com força o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE), e o financiamento para produção e políticas públicas em geral para a agricultura familiar.
Teixeira ainda garantiu que o MDA voltará mais forte, comparado às gestões anteriores. Como exemplo disso, cita o fato da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ficar sob o controle do ministério.
“Vocês vão subir a rampa do palácio do Planalto junto com o Lula e o Alckmin. Nós vamos entregar as chaves do ministério para todo o movimento da Terra”, disse o futuro ministro, enfatizando o protagonismo das mulheres e da juventude, o esforço no avanço da demarcação dos remanescente de quilombos, o fortalecimento da economia solidária e de organização de cooperativas do campo.
“Vai ter indígena no poder, sim”
A futura ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, participou da assembleia aclamada pelo público. A liderança classificou a posse de Lula como uma “virada histórica”, e valorizou a ousadia do novo governo em criar o ministério voltado ao protagonismo dos povos indígenas.
“2023 é o ano em que a resistência do Brasil aponta para a institucionalidade. Vamos recuperar as cores do nosso país”. E lembra: “Vai ter indígena no poder, sim. Vai ter indígena no executivo, vai ter indígena no legislativo e vai ter indígena no movimento de base”.
Deputada federal eleita pelo PSOL, Sônia Guajajara reforçou o objetivo de ter a participação indígena nos três poderes. “Estamos aqui pra dizer: nunca mais um país sem nós”.
Um novo ciclo para reescrever a história
Paulo Pimenta, indicado para ocupar o Ministério da Secretaria de Comunicação Social do novo governo, valorizou o apoio do MST e demais movimentos sociais a Lula, principalmente durante o período em que foi perseguido e preso. “Se nós chegamos onde chegamos é devido a coragem do presidente Lula, mas também a milhões e milhões de brasileiros que nunca deixaram de lutar. […] Os companheiros que estão aqui marcharam por esse país em defesa da democracia, denunciando a Lava a Jato”.
Para o futuro ministro, o próximo período será de enormes desafios. “Nós estamos reescrevendo a história do povo pobre desse país […]. Amanhã vai ser um dia de festa, de alegria, de renovação, de esperança e de perspectiva, mas será só uma etapa pra nós que nos dedicamos todos os dias para defender esse país”.
Kelly Mafort, dirigente nacional MST e integrante da coordenação do Acampamento dos Movimentos Populares, chamou atenção para a participação expressiva dos movimentos urbanos e rurais, setor sindical e populares nas disputa eleitoral, e faz alerta: “Nós, do movimento popular, sabemos o quanto a luta popular e a luta institucional precisam estar de mãos dadas. Mas é muito importante que quem está na luta institucional saiba que precisa ouvir o povo. Saiba que a forma do povo participar é através da organização e da luta”.
A militante do MST classifica a vitória de Lula nas urnas como um “acerto de contas” contra as forças do capital e imperialismo, e em oposição às ideias retrógradas e conservadoras que foram sendo disseminadas principalmente pelas fake news.
“Aqui essas forças do ódio não vão se criar. Organização, trabalho de base, formação política são a melhor forma de os movimentos populares contribuírem para esse governo é fazer o que a gente sabe: trabalho de base para organização do povo”, concluiu.
Também fazem parte da organização do Acampamento dos Movimentos Populares a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento Camponês Popular (MCP), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Movimento dos Trabalhadores do Campo (MTC), Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Levante Popular da Juventude, Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar (Contraf Brasil).
A assembleia também contou com a participação do vereador de São Paulo pelo Partido dos Trabalhadores, Eduardo Suplicy, e de parlamentares de diferentes regiões, como dos deputados federais Rosa Amorim (PT-PE), Marcon (PT-RS), Zé Ricardo (PT-AM), Natália Bonavides (PT-RN), Pedro Uczay (PT-SC), Célia Xakriabá (Psol-MG), Célio Moura (PT-TO), além dos deputados estaduais Professor Lemos (PT-PR) e Edegar Pretto (PT-RS).
A ação foi acompanhada pela deputada chilena Éricka “Coca” Ñanco, primeira deputada mapuche e feminista da região de Araucanía.
*Editado por Gustavo Marinho