Quem paga?
Empresas são donas de 976 veículos multados pela PRF em bloqueios golpistas nas estradas
Por Paulo Motoryn
Do Brasil de Fato/Brasília (DF)
Empresas privadas são donas de pelo menos 976 veículos multados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em bloqueios golpistas nas estradas, promovidos por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) desde as eleições de outubro, quando o presidente Lula (PT) foi eleito pelo voto popular.
O Brasil de Fato fez o levantamento a partir de informações disponibilizadas pela PRF via Lei de Acesso à Informação (LAI), disponíveis na plataforma Consulta E-SIC. O documento analisado cita dados como nome do proprietário, modelo do veículo, placa, hora, local e gravidade da infração.
Ao todo, foram aplicadas 5.917 multas de 30 de outubro até 14 de dezembro de 2022 para veículos como motocicletas, caminhões, caminhonetes, carros e até tratores, em estradas federais de todas as regiões brasileiras. Entre as infrações, estão o bloqueio de rodovias e acostamentos.
Para chegar ao número de 976 veículos de empresas privadas envolvidos nos atos golpistas, a reportagem utilizou a seguinte metodologia: buscou as expressões “LTDA” e “Eireli” no campo em que consta o nome dos proprietários dos automóveis. Com a primeira denominação, foram localizadas 801 multas na base de dados e, com a segunda, 175.
Clique aqui e faça o download do documento que lista os proprietários de veículos envolvidos nos bloqueios de estradas. Para encontrar os nomes das empresas citadas, repita o procedimento descrito no parágrafo anterior.
O elevado número de empresas entre as proprietárias dos veículos é um dos elementos que pode guiar as autoridades policiais e o Poder Judiciário a localizar financiadores dos atos golpistas, que culminaram com cenas de invasão do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto, no domingo (8).
Depois dos bloqueios nas estradas federais, os golpistas mudaram a estratégia e montaram acampamentos em frente a quartéis do Exército em diversas cidades do país. O mais importante deles, em Brasília (DF), sediou reuniões em que terroristas planejaram explodir uma bomba nos arredores do Aeroporto Juscelino Kubitschek, na capital federal.
Em dezembro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes iniciou uma ofensiva contra os responsáveis pelos atos nas estradas, com ações como o como bloqueios de contas bancárias e de 168 perfis em redes sociais de dezenas de empresários bolsonaristas suspeitos de financiar atos antidemocráticos.
A decisão ocorreu no âmbito da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 519, que também chegou a autorizar mais de 100 mandados de busca e apreensão contra extremistas acusados de financiar e organizar atos como a obstrução de rodovias e acampamentos em frente a quartéis das Forças Armadas.
A apuração do financiamento dos atos golpistas é uma das prioridades do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, de acordo com declarações feitas após a invasão da sede dos Três Poderes. “Já identificamos todos os ônibus que se dirigiram a Brasília e todos os financiadores de tais ônibus. Quem financia crime, criminoso é”, disse o ministro.
Edição: Glauco Faria/BDF