Internacionalismo

Dirigente do MST participa de Congresso da Frente Polisário, na Argélia

Juntamente a uma delegação de organizações e movimentos populares da América Latina, Ayala Ferreira participou da atividade representando o MST, na República Árabe Saaraui Democrática (RASD)
Delegação da América Latina esteve presenta no Congresso da Frente Polisário, na cidade de Tindouf, na Argélia. Foto: Arquivo pessoal

Da Página do MST*

De 13 a 17 de janeiro, a dirigente nacional do MST, Ayala Ferreira, participou do 16º Congresso da Frente Polisário, em Dajla – um dos cinco acampamentos de refugiados saarauis – na cidade de Tindouf, na Argélia. O acampamento está localizado no meio do deserto do Saara.

Juntamente com uma delegação de organizações e movimentos populares da América Latina, Ayala participou da atividade representando o MST a partir de um convite da Frente Polisário, organização política que dirige a República Árabe Saaraui Democrática (RASD).

A dirigente do MST relatou que foram dias intensos de aprendizados e falou sobre a importância do intercâmbio com o povo saaraui. “Nossa participação foi um pouco pra escutar, saber das suas principais definições, mas, sobretudo, expressar a solidariedade e o apoio do MST, do povo brasileiro para com a causa saaraui. Dizer que estamos aqui pra oferecer aquilo que podemos, no campo da cooperação, da solidariedade, propondo aquilo que acumulamos ao longo da nossa existência, com a produção de alimentos saudáveis, na formação e na defesa desse ideário, que de certa forma, une todos os povos do mundo na luta pela sua liberdade, pela felicidade plena”, afirmou.

Ela também lamentou sobre a situação da luta da Frente Polisário, pela independência da República Árabe Saaraui Democrática do Marrocos. “Lamentavelmente, mesmo no século 21, estamos falando de um povo que luta para reconquistar seu território, pela sua independência. Criar as condições de vida e existência, que tanto sonhamos e falamos nos nossos projetos, nossos programas e nas nossas aspirações enquanto povo, ter o direito a auto determinação”.

A República Saaraui foi fundada em 1975, após conquistar a independência da Espanha. Mas, em seguida, o povo saaraui passou a lutar contra a invasão do Marrocos, que buscava anexar seu território de cerca de 266 mil km², no norte da África, rico em fosfato e com uma vasta costa marítima voltada para o Atlântico.

Derrotado na guerra, em 1991 o Marrocos assinou um acordo de cessar-fogo com os saarauis, prevendo a realização de um referendo popular, mediado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que selaria a independência do Saara Ocidental. A partir disso, a Frente Polisário optou pela via diplomática para retomar o controle do seu território, mas além de dificultar a realização de um referendo sobre a independência, em novembro de 2020 o Marrocos voltou a bombardear o povo saaraui na região conhecida como “fenda de Guerguerat”, um acesso entre o deserto do Saara e o Atlântico.

Congresso

O 16º Congresso da Frente Polisário reuniu 2 mil delegados, vindos de todos os acampamentos de refugiados e do território saaraui ocupado, que se reuniram para eleger o próximo presidente, o secretário-geral da Frente Polisário, e definir as táticas políticas dos próximos três anos de luta armada.

Além dos delegados, o Congresso também recebeu mais 300 visitantes internacionais, representando países aliados e associações de solidariedade. Os dois primeiros dias foram abertos para receber as saudações dos convidados internacionais, já os últimos dias foram fechados aos delegados. Todo o evento foi transmitido ao vivo para todos os acampamentos de refugiados pela TV Arasdtb, canal estatal saaraui.

Depois de 30 anos de cessar-fogo, este é o primeiro Congresso realizado novamente em situação de guerra com o Marrocos.

Congresso teve a participação de 2 mil delegados e delegadas responsáveis por eleger um novo governo para a República Árabe Saaraui Democrática. Foto: Michele de Mello/Brasil de Fato

A Frente Popular de Libertação de Saguía el Hamra e Rio do Ouro (Polisário) foi criada em 1973, inspirada no Movimento de Países não Alinhados (MNOAL). O objetivo foi unificar movimentos e partidos políticos saarauis em um único instrumento político em torno da luta pela independência da Espanha.

Atualmente 82 países reconhecem a independência do Saara Ocidental. Na América Latina, só o Brasil, Argentina e Chile ainda mantém uma posição de neutralidade. O primeiro país da região a estabelecer relações diplomáticas com a República Árabe Saaraui foi o Panamá, ainda em 1978. Os outros Estados reconhecem o direito do povo saaraui sobre seu território.

Solidariedade

Durante a atividade Ayala também se reuniu com alguns representantes do povo saaraui e levou a solidariedade Sem Terra, com a entrega de símbolos da luta do MST. Entre eles o governador de Dajla, um dos cinco acampamentos de refugiados saarauis em Tindouf, Hamma Bunia; representante da Frente Polisario no Brasil, Ahmed Mulay; e Nafii Ahmed Mohamed, presidente da União de Jornalistas e Escritores dos Saaraui.

Ayala com o Hamma Bunia, Governador de Dajla. Foto: Michele de Mello/Brasil de Fato

Durante a atividade a delegação com representantes de entidades, organizações e movimentos populares da América Latina, convidadas se reuniram para dialogar sobre a participação na atividade do povo saaraui.

O MST também agradece a acolhida e solidariedade da família Fadel, que recebeu e abrigou a dirigente do Movimento em sua casa em Dajla.

*Com informações de Michele de Mello/Do Brasil de Fato

**Editado por Fernanda Alcântara