Jornada das Mulheres
Acampamento Dandaras do Campo, em AL: acolhimento e troca entre mulheres Sem Terra
Por Angelo Amorim
Da Página do MST
Iniciado na segunda-feira (06), o acampamento Dandaras do Campo se estendeu até quarta-feira (08) com uma grande marcha unitária entre movimentos sociais do campo e da cidade no centro da capital alagoana.
As primeiras a chegarem com sua lona preta, barracas, colchonetes e disposição de luta ocuparam a praça Sinimbu, ainda durante o final de semana. Vindas de todas as regiões do estado, fazendo com que aquele espaço torna-se um grande balaio de territorialidades.
Direto do Sertão, a militante do MST desde 1999, Maria Alta, assentada no assentamento Jacobina, relatou compreender como funciona a luta pela terra e melhores condições de vida, mas o que mais a deixava feliz é poder ver esse tipo de atividade retornar a acontecer presencialmente após a pandemia e governo Bolsonaro. “Muitas aqui agora podem participar disso pela primeira vez em um ambiente já melhor”, completou a sertaneja.
A programação do acampamento Dandaras do Campo abarcava não só momentos de formação com convidadas, mas também oficinas, Cinema da Terra e atividades culturais com muito som produzido por mulheres.
Nesse sentido, o espaço erguido tendo como pilar a segurança e o conforto para a fala entre elas, proporcionou diversos momentos de troca de experiências. Como, por exemplo, o de Edilene Honorato, militante do Movimento pela Libertação dos Sem Terra (MLST), acampada na Usina Laginha, na região de União dos Palmares, Zona da Mata do estado, que, ainda durante a primeira noite, compartilhou que o processo para sentir-se uma mulher empoderada aconteceu através da educação: foi obrigada a parar de estudar por conta da maternidade e só sentiu que conseguiu romper essa cerca quando, com seus 40 anos de idade, conseguiu concluir os estudos e, em seguida, conquistar o título de técnica agropecuária.
“Não é um lugar para você. Esse não é um lugar para mulher” foram falas ouvidas por Ana Maria da Hora quando decidiu ser uma militante do MST. Atualmente assentada no Dom Hélder Câmara, assentamento localizado no Agreste de Alagoas, e Dirigente Nacional do MST, Ana relatou que esses primeiros anos de aproximação com o Movimento foram os mais difíceis para ela, principalmente pelas barreiras do machismo impostas enquanto uma mulher negra.
“Um dos momentos mais tensos foi quando eu deixei de ser Ana da família ‘da Hora’, para ser Ana da Hora do MST”, contou a Sem Terra durante o espaço de diálogo que foi aberto após a exibição do Cinema da Terra no acampamento.
Nesse mesmo momento, a militante do MST, Maria Do Ó, desabafou o que já enfrentou desde 1999 nas fileiras da organização: diversos despejos, greve de fome e muitos processos de luta.
Segundo Maria, foram diversas ameaças para que sua voz fosse calada, porém, sua voz só aumentou, junto com sua indignação e disposição de lutar contra qualquer repressão, hoje, Maria Do Ó é assentada no assentamento Roseli Nunes, na região do Agreste de Alagoas. “Nós vamos vencer e guerrilhar, porque a guerrilha é a força, a coragem, e a busca pela dignidade e pelo respeito que queremos enquanto mulheres e homens”, completou.
A partir desses relatos, desabafos e palavras de ordem em praça pública, vindos de vozes das mulheres Sem Terra das mais diversas regiões do estado, fortalecem o acampamento Dandaras do Campo como um espaço aberto para ouvir gerações de mulheres com vivências únicas, que enfrentam o machismo e as violências de gênero por reivindicar os seus espaços em cada território que marcaram presença.
*Editado por Fernanda Alcântara