Exploração

Maior operação do ano resgata 212 trabalhadores escravizados em Goiás e Minas Gerais

Empregados em condições análogas à escravidão estavam alojados em Itumbiara e Porteirão (GO) e Araporã (MG)
Trabalhadores foram resgatados de condições análogas às de escravo na produção de cana em Goiás. Foto: Divulgação/Inspeção do Trabalho

Por Brasil de Fato | Brasília (DF)

Uma operação conjunta entre a Inspeção do Trabalho, o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal resultou no resgate de 212 trabalhadores em situação de escravidão contemporânea na sexta-feira (18).

Eles estavam alojados em Itumbiara e Porteirão (GO) e Araporã (MG) e atuavam no plantio de cana-de-açúcar para uma prestadora de serviços que fornecia mão de obra para quatro fazendas e uma usina. Este é o maior resgate do ano, batendo o recorde dos 207 “escravizados do vinho” de Bento Gonçalves (RS).

“O resgate concluído nesta sexta é o maior realizado em uma mesma operação neste ano”, afirmou o auditor fiscal Maurício Krepsky, chefe da Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae) do Ministério do Trabalho e Emprego.

“O perfil das vítimas de tráfico de pessoas para fins de trabalho escravo é muito parecido com os 207 trabalhadores resgatados na produção de uva no Rio Grande do Sul: nordestinos, negros e com pouca escolaridade”, explica. Em Bento Gonçalves, 93% eram baianos. Neste caso, eles eram do Piauí, do Maranhão e do Rio Grande do Norte.

Com estes 212 resgatados, o total acumulado de 1º de janeiro até 17 de março chegou a 893 trabalhadores em 2023. Desde 2008, não havia tantos casos nos três primeiros meses de um ano. Naquele ano, foram 1.456 trabalhadores no primeiro trimestre, segundo dados do ministério.

“Quem tinha dinheiro, comprava colchão”

Arregimentados em seus estados de origem através de “gatos” (contratadores de mão de obra) e transportados de forma clandestina para atuar na produção de cana em Goiás, os trabalhadores estavam submetidos a condições de degradantes, segundo a fiscalização.

“Quem tinha um pouco de dinheiro, comprava um colchão. Quem não tinha, dormia no chão, em cima de panos ou de papelão”, explicou ao site UOL o auditor fiscal Roberto Mendes, coordenador da operação.

“Como a empresa não fornecia alimentação, eles comiam o que tinham, muitas vezes só arroz com salsicha. Estavam em barracos extremamente precários, sem ventilação, mofados, com paredes sujas, goteiras, sem chuveiro. A empresa terceirizada vendia as ferramentas aos trabalhadores, como enxadões, o que, por lei, deveria ser fornecido gratuitamente”, disse Mendes.

Segundo ele, não havia instalações sanitárias nas frentes de trabalho, nem equipamentos de proteção individuais e agrotóxicos eram aplicados em áreas onde as pessoas estavam trabalhando.

O que dizem os envolvidos

A prestadora de serviços terceirizados SS Nascimento Serviços e Transporte e cinco contratadores – quatro fazendas de cana e a unidade de Edéia (GO) da usina BP Bunge Bionergia – assumiram a responsabilidade e se dividiram para pagar os trabalhadores.

A SS Nascimento Serviços e Transporte se colocou à disposição para colaborar com as investigações e garantir os direitos dos trabalhadores, ressaltando que todos os fatos serão esclarecidos no decorrer dos processos. Já a BP Bunge Bioenergia afirmou que agiu rapidamente para garantir as prioridades sociais e humanas, colaborando com as autoridades e apurando as responsabilidades, além de ressaltar que não compactua com situações de trabalho degradante.

Edição: Thales Schmidt