Encontro de Música
Cantar é resistir!
Por Jade Percassi e Guê Oliveira*
Da Página do MST
Cantamos, porque o grito só não basta!
A música cumpre um papel histórico nos processos de organização popular de luta e resistência a partir de seu potencial aglutinador de mobilizar, de organizar, de formar gerações, de contar a história, exercitar a memória e expressar todo um legado de luta que atravessa os tempos. Também tem a capacidade de sintetizar nossos anseios coletivos por um mundo mais justo e humano, nos vários tempos históricos.
As linguagens artísticas, especialmente a música, têm um imenso potencial para mobilizar as pessoas em torno de causas comuns. Aos primeiros acordes do violão e à marcação de um pandeiro ou tambor, homens, mulheres e crianças reunidos em espaços coletivos são tocadas por uma sensibilidade que ativa a memória das experiências, histórias e valores compartilhados.
Pegue os cereais e a lona, junte a criançada…
Pois Sem Terra organizados é terra ocupada!
(Música Não somos covardes, de Zé Pinto)
Através da música, as histórias das lutas e resistências são transmitidas de geração em geração e se espraiam por territórios nas diferentes regiões, estados e países. Em muitos contextos de opressão e repressão, a arte se configurou como uma forma de resistência e sobrevivência cultural, permitindo que coletivos e organizações populares mantivessem vivas suas narrativas e ideais.
Nos processos de independência dos países sul-americanos, a música foi direcionada para inspirar o sentimento de unidade nacional e encorajar a luta contra o domínio colonial. No século XX, foi uma importante ferramenta de mobilização para os movimentos operários e sindicais. Canções de protesto e hinos de solidariedade eram entoados em greves e manifestações, reforçando a identidade e a luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e direitos trabalhistas.
Durante os períodos de ditadura militar, que afetaram vários países sul-americanos entre as décadas de 1960 a 1980, cantores e compositores como Victor Jara, Violeta Parra e Mercedes Sosa enfrentaram a repressão com suas canções de protesto e resistência. Nos movimentos indígenas e afrodescendentes, a música é fundamental para valorizar e preservar a cultura, os idiomas e as tradições dessas comunidades, além de denunciar as injustiças e desigualdades que enfrentam.
Assim também a música cumpre um papel importante nas lutas por direitos sociais, como a reforma agrária, o acesso à educação e a saúde, a defesa dos direitos das mulheres e da população LGBT+, de protesto e resistência contra políticas econômicas e sociais injustas, bem como projetos de exploração e destruição de recursos naturais pelo capital.
Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer, participando sem medo de ser mulher!
(Música Sem Medo de Ser Mulher, de Zé Pinto)
Em muitos momentos de enfrentamento, é cantando que evocamos a mística e renovamos as energias para seguir na luta. Muito além do entretenimento, as letras e melodias têm a capacidade de sensibilizar e conscientizar as pessoas sobre questões sociais e políticas urgentes, denunciando de forma poética e através da educação dos sentidos, as injustiças, opressão, desigualdade e outras formas de violência, contribuindo para a reflexão sobre problemas da sociedade. No MST, ela desempenha um papel fundamental no fortalecimento da identidade coletiva, impulsionando a luta pela reforma agrária e a transformação social no campo brasileiro.
O risco que corre o pau, corre o machado, não há o que temer
(Música O risco, de Luiz Vila Nova)
*Militantes do Coletivo Nacional de Cultura e integrantes do grupo musical As Cantadeiras
**Editado por Maria Silva