Perfil

“Sou uma militante contribuindo com o trabalho da organização em diversas frentes”

Confira a história de Cristina Sturmer dos Santos, economista que faz parte da direção da COPAVI e do Setor de Cooperação, Produção e Meio Ambiente do MST
Assentamento Santa Maria (Paranacity – PR). Foto: Arquivo pessoal

Por Barbara Zem, Setor de Comunicação e Cultura MST PR
Da Página do MST

Filha de assentados, Cristina Sturmer dos Santos tem 30 anos, é mestre em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, economista e faz parte da direção da Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (COPAVI). Vive no assentamento Santa Maria, em Paranacity, região Noroeste do Paraná, onde atua nessas áreas dentro do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em atividades ligadas ao Setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente (SPCMA).

Desde muito nova, quando ainda participava do grupo de jovens 19 de janeiro no assentamento Santa Maria, se sentiu conectada com a área da produção. Pois, sempre participou das atividades do setor de produção por fazer parte da Cooperativa e havia incentivo de se integrar a temáticas dessa área. “Sempre acabei tendo essa afinidade principalmente com relação a trabalhar com agroindústria, e quase sempre foi com o que eu trabalhei na COPAVI. Então eu já tinha essa vocação, essa familiaridade”, comentou Cristina.

Atualmente faz parte da direção da cooperativa, e realiza atividades ligadas a parte mais política e financeira, com questões mais específicas de gestão que são demandadas pelo setor administrativo. No SPCMA desenvolve atividades relacionadas a projetos de investimento de outras cooperativas e associações, utilizando a formação que possui como economista. 

Cristina conta que como sujeito LGBTQIA+, atualmente tem condições que permitem utilizar suas as habilidades dentro da organização, apesar de várias instâncias serem marcadas por processo de exclusão. “Muitas vezes, pela discriminação e violência que as pessoas LGBT sofrem, elas são excluídas de poder contribuir com esses processos, então por mais que eu não tenha uma atuação ativa dentro do coletivo LGBT, ter essa instância e ter esse processo de discussão dentro da organização faz com que os ambientes estejam mais receptivos e que as pessoas tenham mais preparo para poder tratar a gente como tem que ser tratado, como ser humano, como companheiro de luta e como pessoa que está ali a disposição da organização”.

Tratamento igualitário

Brigada emergencial de solidariedade ao povo Moçambicano (Chibabava – Moçambique). Foto: Arquivo pessoal

Como movimento social, ainda há vários avanços e várias questões a serem tratadas, que são reflexo desse conceito de ser humano capitalista que temos, que faz com que soframos violências, discriminações e preconceitos de diversas categorias, comenta Cristina.

Ainda com relação ao movimento, ela afirma que “todo o processo tem contradições, a gente enfrenta e na medida do possível tentamos reconhecer as nossas e enquanto movimento social trabalhar com elas”.

Há passos significativos a serem dados em todos os espaços que a gente tem no movimento, para conseguirmos lidar tanto com diversidade sexual quanto com outras questões contra-hegemônicas. Cristina afirma que hoje o tratamento já é muito diferente do que em outros espaços em que eu já se inseriu, “mas certamente nós temos nossas contradições”.

“Eu acredito que a existência de um coletivo como a gente tem aqui no estado do Paraná, organizado e atuante e que pauta essas questões para a direção estadual, faz o processo de denúncias e de mobilização avançar. Isso também é central para a gente poder ir pautando e avançando no enfrentamento das contradições e encontrando soluções coletivas para estes problemas”, ressalta.

Setor de produção

Encontro Nacional da Rede Ecovida de Agroecologia (Anchieta – Santa Catarina). Foto: Arquivo pessoal.

“Eu vejo que atuar dentro do setor de produção, sendo mulher, LGBT, negra e jovem é um desafio constante. A gente encontra mais abertura hoje do que outros sujeitos LGBTs encontraram no passado. Vejo que muito do espaço que eu posso ter de atuação e exercer dentro do setor de produção é fruto de um processo histórico de construção das mulheres e outros que vieram antes de mim. Que pautaram muito forte o papel que a mulher tem nesse espaço do movimento, e isso também é fruto de um amadurecimento nosso enquanto organização”. 

Já se caminhou bastante para que esses espaços que eram majoritariamente de homens brancos, mais velhos e héteros fossem ocupados por mulheres, pessoas negras e LGBTs. Isso é fruto do processo de mobilização que outras pessoas foram criando e deram condições para que se possa exercer essas tarefas hoje.

*Editado por Fernanda Alcântara