Celebração

Comunidade do MST comemora 20 anos de ocupação, em Ponta Grossa (PR)

Ao todo, 70 famílias permanecem na comunidade, que ainda aguarda a efetivação do assentamento de Reforma Agrária
Placa de entrada do acampamento. Foto: Acervo MST-PR

Por Assessoria: Extensão em Jornalismo – Democracia & Direitos Humanos
Para Página do MST

A comunidade Emiliano Zapata, pré-assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no município de Ponta Grossa, comemora 20 anos da ocupação.

Em 26 de agosto de 2003, cerca de 180 famílias ocuparam a área da antiga Fazenda Modelo da Embrapa, na Rodovia do Talco, com o objetivo de forçar o governo a promover a Reforma Agrária. Desde a ocupação, 70 famílias permanecem na comunidade, que ainda aguarda a efetivação do assentamento. A área de 618 hectares está dividida em 51 unidades de produção.

A comunidade destaca os avanços nesses 20 anos, como a chegada da energia elétrica, que ocorreu somente em 2013; a criação da Cooperativa Camponesa de Produção Agroecológica da Economia Solidária (Cooperas) em 2011, para comercialização do cultivo de alimentos; a geração de renda através da venda de alimentos para programas do governo, como Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); e parcerias com diversos programas de extensão da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), como o Projeto Lama (Laboratório de Mecanização Agrícola), Iesol (Incubadora de Empreendimentos Solidários) e do Curso de Jornalismo, entre diversos apoios de entidades sindicais, religiosas, partidos políticos e movimentos sociais de Ponta Grossa e região.

Foto: Lucas Souza
Foto: Larissa da Silva 

Uma das moradoras pioneiras da comunidade, Genecilda Lourenço Gotardo, 71 anos, chegou à ocupação com 51 anos e sete filhos. Na época, uma parte da família ficou em Curitiba e outra foi para o acampamento. Saiu da capital para tentar nova vida na ocupação, que se tornou a primeira do MST no Brasil, no primeiro Governo Lula, em 2003. “Era uma crise danada de falta de serviço e ainda a fome nas cidades”.

Dona Genecilda destaca o que representa a comunidade Emiliano Zapata para as famílias. “Representa um avanço muito grande, com todas as dificuldades. Pois quando chegamos ali, não tinha nada. Tinha apenas uma plantação de trigo e aveia”. Dona Genecilda lembra que o incentivo ao plantio começou já no início da ocupação, para garantir alimentos para as famílias. “A comunidade já tinha o pensamento de que, se nós entramos numa terra improdutiva e não plantamos nada, impossível sobrevivermos lá”.

A assentada pioneira aponta ainda que o maior desafio tem sido a formalização do assentamento para fins de Reforma Agrária. Para a comunidade, há esperanças que a regularização da terra ocorra ainda neste ano, conforme anunciado como “compromisso” pelo Superintendente Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) do Paraná, Nilton Guedes, durante a Assembleia Popular da Reforma Agrária, realizada no Emiliano Zapata, em 1º de agosto deste ano.

Fotos: Valmir Fernandes 

Outra grande conquista da comunidade Emiliano Zapata é o cultivo no sistema produtivo da agroecologia, livre de agrotóxicos, um dos maiores incentivos pela organização do MST para os acampamentos e assentamentos. “O sistema em agroecologia foi pensado já no início da ocupação, em 2003. Se vamos ocupar uma terra improdutiva, que está usando veneno, e vamos fazer a mesma coisa, não íamos transformar nada. Se é para transformar, tínhamos que usar uma outra matriz tecnológica, um novo jeito de produzir”, destaca Dona Genecilda.

Ela pontua os avanços na escolha do cultivo em agroecologia no Emiliano Zapata, que contribui para as maiores experiências livres de agrotóxicos na chamada Região Sul do MST no Paraná: “A região que o MST mais desenvolveu a agroecologia foi aqui nos Campos Gerais, Lapa e Antonina”, comemora a assentada.