Diversidade Sexual e de Gênero
“Se as pessoas LGBTI+ não são livres, o país não é livre”
Por Arlla Xavier e Wesley Lima*
Da Página do MST
A participação internacional tem sido fundamental para o aprofundamento do debate da diversidade sexual e de gênero na Via Campesina. Essa afirmação foi a linha condutora da mesa “Colorindo a Luta Camponesa Internacional: Os desafios da diversidade sexual e de gênero na CLOC e LVC Internacional”, que aconteceu na manhã deste sábado (16), no 3º Seminário sobre Diversidade Sexual e de Gênero na Via Campesina Brasil.
O Seminário teve início na última quinta-feira (14) e se estendeu até domingo (17), na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema – SP, com a presença de 80 LGBTI+ dos movimentos e organizações populares que constroem a Via Campesina.
Um ponto de partida para reflexão sobre a diversidade sexual e identidade de gênero na Via Campesina Internacional tem sido a construção desse debate conectado ao acúmulo das mulheres na Via Campesina, a partir do Feminismo Camponês Popular. Este elemento esteve no centro da análise Jeongyeol Kim, da Coreia do Sul, que falou sobre os principais desafios para se pensar a construção da pauta LGBTQIA+ na Coreia do Sul, por conta da “hegemonia binária” presente na forma de organização social e o avanço do conservadorismo. Nessa perspectiva, olhando para dimensão feminista, Kim afirma que:
O feminismo é para todas as pessoas que são oprimidas e exploradas. Isso quer dizer que as questões das mulheres estão ligadas às questões da diversidade. Nesse sentido, devemos empoderar uns aos outros e seguir de mãos dadas. Estabelecemos um feminismo camponês popular, porque existimos, temos nossos valores e entendemos que a luta nos fará avançar”.
-Jeongyeol Kim
A representante da África do Sul, Constance Adziambei, falou sobre o processo de construção da luta contra a LGBTQIA+fobia no país e os principais desafios desta luta. Sobre a necessidade de avançar no protagonismo e conquistas para população LGBTI+, ela sinaliza: “Ninguém pode falar por nós. Estamos aqui e afirmamos que iremos ficar, porque somos livres”.
Essa concepção de liberdade esteve presente durante sua intervenção todo o tempo. Constance explica, que na África do Sul, existem duas estruturas principais que organizam o pensamento conservador em seu país, a religião e as tradições. Ela conta que essas duas dimensões legitimam o avanço do conservadorismo, a não liberdade para o amor e anulam a possibilidade de construção de políticas públicas.
Nesse sentido, ela explica que somos todos seres humanos e “o que sinto no meu corpo é legítimo e não é apenas individual é coletivo. Ninguém pode escolher o que eu sinto dentro do meu corpo, estamos falando sobre isso nas relações governamentais, com o objetivo de avançar em políticas públicas importantes para essa população”.
Contra o conservadorismo
A luta contra o avanço do conservadorismo neoliberal também foi uma questão apontada com centralidade por representantes do Paraguai e da Alemanha.
Kaya Thomas, do Grupo de Trabalho de Agricultura Camponesa da Alemanha, conta que no enfrentamento ao conservadorismo é importante posicionar o tema da diversidade sexual e da identidade de gênero conectado com as diversas dimensões da luta por direitos.
Estamos falando sobre diversidade e não queremos que esse seja apenas o nosso foco. Nós queremos incluir todos e avançar em uma pauta unificada de direitos, a partir das nossas especificidades. É muito importante estarmos em contato com nossas forças, nossos desejos, é um tópico muito importante e a gente tem colocado isso de maneira muito bela”,
– Kaya Thomas
“Nós precisamos ser amados e isso não é sobre nós apenas, é sobre a nossa comunidade. Assim a gente fortalece a nossa luta coletiva”, destaca.
Para Cony Gonzalez, integrante da Organização de Mulheres Camponesas e Indígenas (Conamuri), inicia afirmando que no Paraguai não existe nenhum tipo de direito para a população LGBTI+. “Não é assegurado esse direito às identidades, na constituição não se menciona nada sobre isso.”
E continua: “Nós temos mulheres trans que lutam pelo reconhecimento do nome social. Não temos cotas de trabalho para as pessoas trans. Não tem direito ao matrimônio. No geral, passamos pela invisibilização da população LGBT.”
Ela conta ainda que para viver sua sexualidade, é preciso sair do campo e ir para cidade. No enfrentamento a essa “invisibilização”, Cony diz que é fundamental alinhar as lutas da população LGBTQIA+ com outras lutas, construindo uma coesão política e processos que conectam as pautas em uma perspectiva popular.
*Arlla Xavier é comunicadora popular no Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) e Wesley Lima integra o Coletivo Nacional de Comunicação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
**Editado por Fernanda Alcântara