Reforma Agrária Popular

Cooperativa da Reforma Agrária Popular do Paraná recebe ministros do MDS e MDA

Visita vai retomar o diálogo sobre a estruturação e a criação de políticas públicas de comercialização, abastecimento e agroindustrialização junto às famílias cooperadas

Da Página MST Párana

Na próxima segunda-feira, 9, a Cooperativa da Comercialização e Reforma Agrária Camponesa (COPRAN), localizada no Assentamento Dorcelina Folador, em Arapongas, região norte do Paraná, recebe os ministros Wellington Dias, Ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome do Brasil (MDS) e Paulo Teixeira Ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), assim como a Diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campello, o Presidente do INCRA, Cézar Aldrighi, Presidente da CONAB Edegar Pretto, Banco do Brasil, entre outras autoridades locais para uma visita à cooperativa e outros espaços produtivos do assentamento. O evento vai retomar o diálogo de promoção do desenvolvimento das cadeias produtivas e soberania alimentar como um importante estímulo ao desenvolvimento social, de combate à fome e à insegurança alimentar. A atividade é realizada pelas cooperativas do MST juntamente com suas famílias cooperadas.

A COPRAN foi inaugurada no dia 04 de fevereiro de 2013, pela então presidente Dilma Rousseff. Em seu primeiro ano de funcionamento, a agroindústria chegou a produzir 12.000 litros de leite por dia, atendendo produtores de assentamentos e agricultura familiar de Arapongas, Apucarana, Londrina e Maringá. Hoje, as agroindústrias da Copran produzem cerca de 42.000 toneladas de alimento por dia e atendem mais de 420 produtores de leite situados em mais de 20 municípios das regiões Norte, Centro-Oeste e Noroeste do Paraná.

Estrutura da agroindústria do leite da Copran no Assentamento Dorcelina Folador. Foto: Wellington Lenon


A conquista de uma agroindústria de beneficiamento do leite foi fruto de anos de lutas do MST no estado, contou Dirlete Dellazeri, integrante da diretoria da cooperativa. “A indústria de laticínios é uma conquista grande, fruto de anos de luta do MST no Paraná. Essa luta começou desde o acampamento, na obtenção da terra, e agora temos a agroindústria.”

Ela enfatiza a importância desta visita após 15 anos da regularização do assentamento, “a cooperativa de laticínio foi feita com o apoio do BNDES, do governo federal daquele período. É importante que todos eles venham conhecer a experiência, o desenvolvimento, o engajamento, a participação da nossa base cooperada no processo de desenvolvimento da cooperativa e no processo de desenvolvimento da sua atividade, no seu lote e no seu assentamento. E como toda a nossa vida é em construir e em produzir alimentação na sua diversidade, na qualidade, nós queremos, com muita satisfação, demonstrar isso, apresentar isso para as autoridades.”

A comitiva do Governo Federal, durante sua visita à COPRAN, também irá conhecer o lote de uma das famílias camponesas no Assentamento, passará pela agroindústria da COPRAN e depois vão para a  zona Norte de Londrina conhecer a Cozinha Comunitária Amigas do São Jorge, espaço que durante a pandemia de COVID-19, recebeu doações de alimentos das famílias acampadas e assentadas na região Norte para a produção de marmitas. 

Doações de alimentos das famílias acampadas e assentadas do MST à cozinha comunitária Amigas do São Jorge. Foto: Arquivo MST-PR

Para Damasceno José Oliveira, da Direção Estadual do MST no Paraná, o evento mostra o resultado da construção que as famílias Sem Terra têm feito com a sociedade.  “Esse ato é parte de uma longa construção nossa, das nossas cooperativas, feita pelo Setor de Produção no sentido de desenvolver as áreas, os territórios, as regiões, a economia dos assentamentos, a parte social e a parte cultural dos nossos espaços”, diz.

As famílias camponesas esperam que a visita seja uma possibilidade de diálogo para o retorno do investimento em políticas públicas de comercialização, abastecimento e agroindustrialização iniciadas nos governos anteriores de Lula e Dilma. 

Damasceno conta que a expectativa é exatamente no sentido de que o governo federal, através dos Ministérios, do BNDES, Banco do Brasil, CONAB, INCRA, conhecendo as cooperativas e os espaços de produção da reforma agrária popular, entendam a importância do investimento na produção de alimentação saudável, industrialização e comercialização destes produtos para gerar renda às famílias, e também para estimular a soberania alimentar, que o acesso a esta produção seja à toda sociedade, e não somente à quem possa pagar por estes produtos. “Nosso intuito é de que o Estado brasileiro tenha o compromisso também de ajudar a desenvolver os assentamentos, para se converter em um importante estímulo ao desenvolvimento econômico e social, de combate à fome e a insegurança alimentar para recuperar os anos recentes de muitos retrocessos provocados pelo golpe, impactando diretamente o desenvolvimento dos povos do campo”, afirma. 

COOPERATIVAS DA REFORMA AGRÁRIA POPULAR NO PARANÁ

As cooperativas da Reforma Agrária estão articuladas através da Cooperativa Central de Reforma Agrária do Paraná (CCA), ferramenta articuladora do Sistema Cooperado dos Assentamentos que organiza o processo de produção, agroindustrialização, comercialização e assistência técnica das mais de 20 mil famílias assentadas, nos 320 projetos de assentamentos do estado.

O sistema produtivo está alicerçado em 25 cooperativas, 64 agroindústrias e cerca de 100 associações, e produz mais de 100 tipos de produtos beneficiados. Entre as linhas de produção em assentamentos e acampamentos do estado estão as do leite, milho, arroz, feijão, ovos, hortifrúti, café, mel, cana-de-açúcar e sua destilação, erva-mate, polpa e suco de frutas, ração animal e panificados.

Ao todo são gerados cerca de 600 postos de trabalho diretamente nas agroindústrias, áreas de administração e logística. São 5.400 famílias cooperadas e outras 30 mil famílias atendidas – entre assentadas, integrantes da agricultura familiar e de comunidades tradicionais.

Marli Brambilla, integrante da direção do Setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente do MST no Paraná explica que a cadeia produtiva do leite, hoje está com sua centralidade em Arapongas, mas ela contempla o trabalho dentro dos vários assentamentos. “Quando a gente organiza a cadeia do leite, a produção em cima do lote, a gente consegue tornar esse lote viável. Para fazer isso é necessário a cadeia completa organizada. A gente acaba beneficiando não só a família local, mas o conjunto da reforma agrária, porque quando se tem uma viabilidade econômica do lote, além do financeiro, conseguimos contemplar além do pai e da mãe, a sucessão do filho”, explica.

Um dos principais destinos da produção das famílias Sem Terra é a alimentação escolar, por meio do Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE). Em 2022, as 3,9 mil toneladas de produtos chegaram a quase centenas de escolas via PNAE.

Segundo Marli, no início dos anos do governo Lula, as políticas públicas como o Fundo Social do BNDES, o programa Terra Sol do Incra e os programas de aquisição de alimento como o PNAE e PAA, foram grandes responsáveis para a consolidação das cadeias produtivas da rede de cooperativas da reforma agrária do Paraná e suas agroindústrias, e que estas ainda dependem que tais políticas públicas voltem para o desenvolvimento das famílias e melhoria da vida no campo.  “Essa cadeia produtiva, essa organização das agroindústrias, essa organização das políticas públicas do PAA e do PNAE, elas vão forjando naturalmente a diversidade de produção, a  alimentação mais saudável através do orgânico, a  viabilidade econômica do lote. E isso vai fixando as pessoas no campo e isso vai fixando o jovem no campo, porque ele passa a ter uma renda, ela passa a ter uma vida mais digna.”

*Editado por João Carlos