Agroecologia
Agroecologia na Zâmbia: diversidade e autonomia caminham juntas
Por Brigada Samora Machel
Da Página do MST
No último fim de semana, visitamos o Festival de sementes e alimentos tradicionais da Zâmbia. A sexta edição realizada pela Aliança da Zâmbia para a Agroecologia e a Biodiversidade, atuou como uma uma espécie de amostra da diversidade de frutas, sementes e comida tradicional zambiana. O tema deste ano: “Celebrando sementes e alimentos tradicionais para serem saudáveis, seguros e nutritivos para as pessoas, o planeta e a economia”, buscou promover essa riqueza da biodiversidade local.
Ao visitar os estandes foi possível dialogar com os expositores, em sua maioria mulheres. Um fato importante, pois é através destas oportunidades de trabalho que muitas mulheres zambianas se tornam agricultoras empreendedoras, agregando valor aos seus produtos e se tornando agentes transformadoras em suas comunidades. Além disso, as mesmas nos possibilitaram compreender como desenvolvem o sistema de produção em seus territórios, além de entender os processos de resistência necessários para enfrentar os desafios, principalmente no que se refere às alterações climáticas.
Se vincularmos essa iniciativa ao trabalho desenvolvido em parceria com o Partido Socialista da Zâmbia, podemos encontrar similaridades em torno dos desafios enfrentados para o desenvolvimento de uma nova matriz tecnológica para a agricultura no país.
Nesse sentido, Graster Mundi, da coordenação da frente de agroecologia do Partido Socialista, afirma que a participação em eventos como estes é fundamental para compartilhar experiências e trocar sementes tradicionais cultivadas em diferentes regiões do país, fortalecendo assim a iniciativa de uma outra matriz de produção e reprodução da vida.
Este é um evento anual que reúne pessoas de diferentes locais e que partilham a visão de que as sementes e alimentos tradicionais são essenciais para a saúde humana, nutrição e ambiente sustentável e progresso económico. Logo, a nossa participação foi importante para uma compreensão mais alargada do contexto regional em termos de expansão do sistema ecológico, promoção da Agroecologia e cuidados gerais com a natureza.”
– Graster Mundi
A experiência a partir da construção de uma área demonstrativa junto à escola de formação e agroecologia do Partido apontou limites e desafios, mas também, muitas potencialidades. Uma vez que a Zâmbia ainda é um país que concentra a maior parte de sua população na zona rural, pensar formas de desenvolvimento que integram essas pessoas é fundamental para promover uma economia sólida.
Ações como as feiras de produtos orgânicos e agroecológicos, de modo geral, são muito importantes, uma vez que elas têm como objetivo central não apenas a venda desses produtos, mas, carregam em si um caráter ideológico, político e social. Na Zâmbia, esse aspecto não é diferente.
Para João Batista, técnico em agroecologia e agropecuária, integrante da Brigada Samora Machel, “atividades como essas são fundamentais, considerando que a agroecologia na Zâmbia, historicamente vem se expandindo, mesmo enfrentando vários desafios, como por exemplo a falta de acesso a financiamento públicos, a pressão de grandes empresas da agricultura comercial, a falta de infra estruturas, entre outros. Portanto, é notório que mesmo com o crescimento da agricultura regenerativa no país, há um espaço muito grande para se percorrer.”
Se fizermos um recorrido histórico, podemos ver que os zambianos já tiveram uma experiência nessa área nos idos da década de 80, onde a capital, Lusaka, foi considerada a capital da agricultura urbana, mesmo em consequência da crise econômica que assolava o país, o que fez com que sua população adotasse a agricultura como uma forma de aporte trabalhista e nutricional. Porém, a agricultura urbana não foi integrada ao planejamento de desenvolvimento da cidade, marginalizando as iniciativas existentes ao mesmo tempo em que são gradualmente substituídas pela crescente especulação imobiliária.
Ou seja, não se deve pensar um processo de desenvolvimento econômico sem considerar o aspecto agrário como uma característica central, é seguir colocando a população zambiana rural à margem, como se a mesma não contribuísse com a economia do país.
Confira abaixo algumas fotos:
*Editado por Fernanda Alcântara