Alimentos saudáveis!
Feira da Agrobiodiversidade leva agroecologia e solidariedade para UFPR até domingo (26)
Por Isabela Cunha
Da Página do MST
Até o próximo domingo (26) quem entrar no Campus Rebouças da UFPR vai se deparar com um cenário bem diferente do usual. Desde a quarta (22), mais de 90 empreendimentos da economia solidária, da agroecologia e da reforma agrária ocupam o pátio do Campus com a Feira da Agrobiodiversidade. A feira é um dos destaques da Jornada de Agroecologia e uma das maiores mostras da produção das redes, movimentos sociais, coletivos e cooperativas populares de todo o Paraná.
“A Feira da Agrobiodiversidade, como o nome sugere, reúne uma grande diversidade de alimentos in natura, beneficiados e produtos da economia solidária. São geleias, pães, bebidas, temperos, artesanatos, acessórios, livros, roupas, além de um setor inteiro de sementes crioulas. O objetivo é reunir nesse espaço a diversidade dos sistemas agroalimentares das diversas regiões do Paraná, acompanhados da produção artesanal dos povos do campo e da cidade”, explica Priscila Facina, uma das organizadoras da Feira.
O setor de alimentos é certamente um dos maiores destaques do espaço. O corredor enche os olhos com verduras e hortaliças orgânicas, produzidas de maneira sustentável pelas famílias camponesas.
A gente trouxe café, colorau, urucum, plantas medicinais, óleos essenciais produzidos com as nossas ervas, em parceria com a Ubuntu, tomate seco, bucha. Tudo orgânico, certificado, produzido no nosso sítio, no assentamento Eli Vive”, explica Davi José da Costa, agricultor assentado no norte do Paraná.
Além das verduras e frutas, uma série de empreendimentos solidários urbanos também oferecem comidas prontas, de alta qualidade, para comer no local ou levar para casa. A “Fermento na Massa”, por exemplo, é uma rede comunitária que reúne 16 padarias em Curitiba e na região metropolitana. Formadas majoritariamente por mulheres acima dos 50 anos excluídas do mercado de trabalho, as padarias “Fermento na Massa” trabalham na lógica da economia solidária, com formação profissional e foco na autonomia das mulheres. Na Feira, o público poderá conhecer a produção de sete empreendimentos da rede.
“Cada padaria trabalha de acordo com a sua própria gestão, por isso, a cada dia traremos produtos diferentes, são Cucas, sequilhos, bolos, panetones, tudo produzido de forma caseira, nada congelado, nem artificial. Nosso grande destaque é o pão caseiro, um produto vegano produzido em todas as nossas 16 padarias”, comenta Rosalba Gomes, uma das padeiras associadas.
Outro empreendimento destacado é a barraca da da COPAVI. Famosa pelas cachaças orgânicas e agroecológicas certificadas, a cooperativa de trabalhadores/as rurais é constituída por 23 famílias camponesas, funciona há 30 anos em Paranacity e produz derivados da cana de açúcar. “O assentamento transformou uma produção muito violenta, que é a produção de cana, em um trabalho coletivo e familiar. Hoje, a cachaça Camponeses é o principal produto da COPAVI, distribuído e reconhecido por sua qualidade em todo o Brasil”, comenta Jackson Silva, jovem assentado e vice-presidente da Cooperativa.
Para a Feira, a Cooperativa trouxe uma série de cachaças especiais que comemoram a sua trajetória. O trabalho com os rótulos especiais começou há dois anos, com cachaça em homenagem ao coletivo LGBT, e hoje a cooperativa tem rótulos comemorativos dos 30 anos da Cooperativa, dos 40 anos do MST, além do rótulo Blend Especial, uma cachaça de alambique envelhecida em carvalho.
“A gente faz um produto que é político, que contrapõe o mercado convencional. Para nós, trazer esses rótulos é uma forma de interligar a produção da cooperativa, o processo político e o público consumidor. Porque mais que um produto, o que sai das cooperativas precisa ser informativo, precisa demonstrar que não é só um ato de consumo, mas uma questão de valorizar alimentos que consideram a relação com a natureza e a relação entre sujeitos no momento da sua produção, isso é agroecologia e é isso o que está na produção da cooperativa”, defende Jackson.
Artesanato, diversidade e inclusão
Além dos alimentos agroecológicos, a Feira também apresenta ao público uma seleção de artesãos e artesãs da economia solidária da capital e do interior. São produtos diversos, que vão desde as bio-joias e acessórios, até as artes gráficas e produtos para casa, passando inclusive pelo trabalho dos povos originários. “Nós viemos para a Feira com povos de pelo menos oito territórios indígenas do estado. São indígenas das etnias Kaingang, Guarani e Jamadi que trouxeram trabalhos em madeira, cocares, pedras, couros, arcos e flechas, além das cestarias e das nossas medicinas tradicionais”, apresenta Kixirrá, indígena da etnia Jamadi, responsável pela articulação indígena na Feira.
Ela conta que essa diversidade de territórios e povos é possível porque faz parte de uma articulação política maior. “Nós atuamos há muito tempo na luta pela casa de passagem para os indígenas, um lugar onde possamos ficar quando estamos na cidade. Nessa articulação, fomos fortalecendo as redes e contatos, então conseguimos trazer esses artesãos diversos para expor seus trabalhos. Essa autonomia que a Feira nos deu, de fazer a nossa autogestão, garantiu segurança e liberdade para os indígenas, que conseguem demonstrar aqui na Feira que fazemos as Cestarias, mas também produzimos muito mais”, conclui Pixirrá.
Outro empreendimento que traz artesanatos diversos é a Libersol, que trouxe para a Feira a produção dos grupos de terapia ocupacional e geração de renda dos Centro de Atenção Psicossocial de Curitiba (CAPS). “Os grupos de terapia ocupacional dos CAPS são muito produtivos, e a nossa intenção é que esses grupos vulneráveis que aprendem o artesanato no CAPS possam vir às feiras para realmente transformar esse novo saber em sustento”, comenta Geison Bezerra, coordenador da Libersol.
A banca tem acessórios, vasos artesanais, suculentas, costuras, entre outros produtos para casa e para uso pessoal. Um dos destaques da banca são os guardanapos da D. Rosa Bueno de Lima, a Dona Rosinha, que aprendeu a bordar nas oficinas do CAPS e hoje tira do artesanato o seu sustento. “Eu adoeci, passei por um processo de depressão profunda e fui demitida da empresa onde trabalhava há dez anos. Busquei o atendimento do CAPS, mas não queria saber de mais nada, na verdade eu não queria nem fazer a oficina de bordado”, relembra D. Rosinha.
“Hoje eu entendo a importância disso tudo na minha vida, não só por vender, mas por poder sair para trabalhar, conhecer as pessoas, ter a convivência. Eu amo fazer as feiras, estou em todas. Posso dizer que tiro meu sustento do artesanato que aprendi nos grupos terapêuticos”, conclui.
A Feira da Agrobiodiversidade ainda tem cosméticos naturais, produtos de saúde e higiene, materiais dos movimentos sociais, como camisetas, bonés e muitos produtos que refletem a amplitude e diversidade do projeto da agroecologia. Ao todo, a feira reúne mais de 80 stands, com 261 trabalhadores e trabalhadoras rurais e urbanos, e deve receber, até domingo, cerca de 30 mil visitantes. “Quem está praticando a agroecologia são essas pessoas, os povos tradicionais, os povos do campo, os povos originários, os movimentos sociais. Então aqui na feira o público pode encontrar esses produtos que não estão no mercado, mas que estão aqui, e refletem um projeto de mundo que esses povos estão se esforçando para construir”, conclui Priscila Facina.
A Feira da Agrobiodiversidade faz parte da programação da 20ª Jornada de Agroecologia, que acontece na UFPR – Campus Rebouças, até domingo (26).
*Editado por Solange Engelmann