Formação
Distrito Federal recebe a 4ª etapa da Brigada Nacional Oziel Alves do Centro-Oeste
Por Rafael Bastos
Da Página do MST
Com atividades acontecendo no Centro de Educação Popular e Agroecologia Gabriela Monteiro, em Brazlândia, no Distrito Federal, a 4ª etapa da Brigada Oziel Alves na Região Centro-Oeste conta com 60 educandos e educandas do MST dos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, além do Distrito Federal e Entorno. Etapa que cultiva desde sua concepção a mística dos 40 anos e o 7ª Congresso Nacional do MST, que acontecerá em Brasília.
O processo de formação começou com as reflexões sobre os acordos coletivos e a reflexão sobre os Núcleos de Base formados nesta etapa, além do debate sobre o projeto político pedagógico. A atividade seguiu com a análise de conjuntura da região e do MST como força política, com assessoria de Lucineia Freitas, da Direção Nacional do MST, pelo Setor de Gênero.
Durante a análise da conjuntura, Lucineia reafirmou que a militância do MST é semente de uma história de luta cultivada com várias mãos e que é importante estarmos atentos. “Se a crise nos retira sonhos, a solidariedade nos permite sonhar e isso amedronta o capital”, destacou a dirigente.
A Brigada Nacional reúne cerca de 700 militantes Sem Terra, em todas as regiões do Brasil, organizados em seis Brigadas em todo o país. Mais 100 militantes estão envolvidos na Coordenação Político-Pedagógica (CPP), que também está em formação e fortalecimento de experiências formativas.
Nos próximos dias a Brigada Centro-Oeste desenvolverá diversos trabalhos produtivos, reflexões sobre diversos temas, entre a apresentação das tarefas das unidades de trabalho para manutenção da organização do espaço do Centro Gabriela Monteiro que recebeu e acomoda os brigadistas nessa etapa.
Gabriela Monteiro
As estruturas da antiga casa de máquina de uma das fazendas frutos da grilagem de um conhecido latifundiário da capital, hoje são cheias de imagens provocantes da luta e de obras de arte do povo. Desgastada pelo tempo, cultivadas em luta que construíram o “Gabriela”, apelido do Centro de Educação Popular e Agroecologia Gabriela Monteiro, espaço de organização da classe trabalhadora, local de diversas conspirações das diferentes forças políticas da capital.
No dia 27 de julho de 2000, quando nasceu, sua família foi acampada no acampamento Chico Mendes, em Arinos (MG). Ela sempre acompanhou a mãe, Elizana, educadora, negra e dirigente nas lutas. Durante os anos de 2000, 2001 e 2002 foram muitas as ações em que Gabriela esteve presente. No dia 17 de outubro, fizeram uma viagem ao assentamento Terra Conquistada, parte dos trabalhos de base para formação de um novo acampamento. No caminho, sofreu um acidente na altura do município de São Gabriel e Gabriela faleceu. O acampamento foi criado, resultado do trabalho de base que ela integrava, dando o nome dela em homenagem ao acampamento.
História e construção de Brasília
Durante a mística de início da Brigada, o resgate sobre sobre o povo que construiu a capital trouxe vários elementos históricos, reflexões e apontamentos da organização em torno da luta pela terra na região.
Confira a carta construída para o momento:
“Teve um milagre arquitetônico de 50 anos em 5 e no coração do Cerrado brotou uma cidade, em formato de avião, que trouxe a modernidade. Uma pergunta que não quer calar: Quem construiu a cidade? Surgiu no meio do nada?
Quando buscamos na história e nas estátuas, vemos um famoso nome Juscelino Kubitschek, mas foi ele que subiu os tijolos? Foi ele que fez a comida que alimentou os operários? De onde vieram os operários? Quais caminhos percorreram? Quantas esperanças na sua bagagem?
No Centro do Planalto Central havia povos Bororos, no centro do planalto central havia resistência Kalunga. No centro do planalto central havia vida, cultura e história que não aparece nos livros de história.
Para o centro do planalto central havia povos – nordestinos, mineiros, goianos, migrantes que viajando no pau de arara traziam sonhos e esperanças no matulão.
Brasília é a síntese de um processo de violência e exclusão, que formou o povo brasileiro, com genocídio indígena, exploração de mão de obra escravizada ou super explorada – uma modernidade construída no apagamento social, racial e patriarcal, nesses pilares instituímos o centro do poder – democrático?
Mas, também como síntese da nossa história, este é um território de lutas, de resistências, de invenção e reinvenção da vida e do viver – construindo uma cidadania insurgente de territórios ocupados e (re)significado.
De construção de novas sociabilidade, onde pautamos o direito a terra e ao território com reconhecimentos do direito quilombola, dos povos do cerrado, de uma reconstrução cultural, das ocupações urbanas onde destaca a ancestral liderança das mulheres negras, da construção dos assentamentos de Reforma Agrária – onde há 29 anos o MST marca os céus com os coloridos da sua bandeira.
Brasília é o espaço onde disputamos a construção de uma democracia efetiva, onde pautamos políticas de enfrentamento ao racismo estrutural, do patriarcado, onde buscamos instrumentos para a superação da violência no campo, nas águas e nas florestas. Brasília ao enterrar centenas de corpos – plantou sementes, que germinam espalhando aromas de vida digna/bem viver.
Brasília é um recorte de sonhos e lutas por um país livre, pelo direito à natureza, pela superação da fome, pelo fim de todas as formas de violência. Nesse sonho – que o MST também tem se construído ao longo desses 40 anos, nesse sonho de tantos jovens que reafirma a história de Oziel Alves, cujo legado resgatamos nesta construção da brigada nacional, vivenciando aqui, em Brasília, essa quarta etapa.
E nesse sonho que as Mulheres Sem Terra constroem a Jornada Nacional de Luta das Mulheres – que neste ano traz o lema: Lutaremos! Por nossos corpos e territórios, Nenhuma a Menos!”
*Editado por Gustavo Marinho