Educação

Assentados do MST se formam em curso técnico no processo de reparação do Rio Doce

Foram diplomados 39 formandos da turma Ana Primavesi no curso de Agropecuária, com ênfase em Agroecologia
O curso integra o Programa Popular de Agroecologia na Bacia do Rio Doce. Foto: Matheus Teixeira

Por Flora Villela Cardoso
Do Brasil de Fato

O assentamento Oziel Alves Pereira, em Governador Valadares (MG), foi o local escolhido para a colação de grau dos 39 formandos da turma Ana Primavesi do curso técnico em Agropecuária, com ênfase em Agroecologia. A cerimônia aconteceu no sábado (24), no Centro de Formação Francisca Veras (CFFV).

O curso integra o Programa Popular de Agroecologia na Bacia do Rio Doce, uma parceria do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Instituto Federal Sul de Minas – campus Machado, a Fundação Renova e a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Extensão, Pesquisa, Ensino Profissionalizante e Tecnológico (FADEMA ).

Sonia Maria Roseno, representante do CFFV na coordenação político pedagógica do curso, avalia que a formatura é resultado do sucesso da parceria desenvolvida entre o MST, o IF Sul de Minas, a Fundação Renova e a FADEMA. “Essa parceria se consagra e sela hoje o que para nós é motivo de alegria e de comemoração, com sentimento de despedida, mas ao mesmo tempo pensando na continuidade”, afirma.

Ao longo do processo de formação, o curso propôs um novo olhar sobre a reparação, o manejo da terra e o trabalho coletivo. Roseno destaca a relevância da formação nas trajetórias individuais desses formandos e na vivência coletiva proporcionada pela formação, além da perspectiva de resultados a médio e longo prazos para toda a região. “Hoje, no Vale do Rio Doce, poder formar 39 técnicos em agroecologia, numa região de bovinocultura ostensiva, é pensar novas formas de vida para nossas famílias, melhores condições de vida, de saúde, de alimentação saudável”, ressalta.

O curso foi dividido em 17 etapas, desenvolvidas a partir da chamada “Pedagogia da Alternância”, de Paulo Freire, e ocorreram em Governador Valadares, cidade atingida pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco (2015) em Mariana. Lêda Gonçalves Fernandes, educadora do IF Sul de Minas e integrante da comissão pedagógica do curso, fala do desafio de construir um programa de formação nesse contexto.

“Quando foi proposta a criação desse curso, eu confesso que ficamos um pouco preocupados por conta da distância e da realidade local que é diferente da realidade no Sul de Minas, é uma cultura diferente e uma realidade bem diferente principalmente por conta do crime que aconteceu aqui e da lama que atingiu muitas áreas de produção”, lembra

Neste sentido, a agroecologia acabou se tornando uma ferramenta de enfrentamento ao modelo de uso da terra que tanto prejudicou a região do Vale do Rio Doce. “A agroecologia esteve presente do início ao fim, conseguimos a participação de diversos professores da agricultura e pecuária, porém sempre com ênfase na agroecologia”, reforça Fernandes.

Os novos técnicos em agropecuária retornam agora a suas regiões onde vão aplicar, na prática, os conhecimentos adquiridos, contribuindo para reparação ambiental das comunidades atingidas e promovendo o desenvolvimento sustentável dos seus territórios.

Homenagem a Ana Primavesi

A turma homenageia em seu nome Ana Primavesi, engenheira agrônoma, pesquisadora e professora de origem austríaca. Primavesi foi grande precursora da agroecologia e agricultura orgânica no Brasil, com ênfase ao manejo ecológico dos solos, sendo uma grande referência na atuação técnica e científica no trato da terra.

Edição: Leonardo Fernandes/BdF