Luta pela Terra
Revista Francesa Le Monde destaca trabalho do MST no Pará
Por Ju Abe
Do Ponto de Pauta
Uma longa reportagem, cujos autores aterrissaram em terras paraenses para um período na região sudeste do Pará, onde conheceram de perto a história dos conflitos fundiários do estado e seus personagens, entre estes, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST, ganhou destaque na última semana nas páginas da revista francesa Le Monde, uma das mais lidas do mundo.
Os jornalistas estiveram no acampamento Terra e Liberdade, em Parauapebas, na região sudeste do Pará, e assim o descrevem: “um dos maiores acampamentos construídos pelo MST. É uma verdadeira cidade, um labirinto de barracos e ruelas lamacentas que surgiu no final de 2023 com um único objetivo: o direito desses camponeses de cultivar uma enorme fazenda próxima, abandonada pelos latifundiários”.
Com cerca de quinze mil pessoas, o Terra e Liberdade surgiu no final de 2023 com o objetivo de assentar famílias necessitadas em terras improdutivas do município de Parauapebas. Essas centenas de famílias pobres vêm de todas as partes do país em busca de terra para plantar e tirar os seus sustentos através da prática da agricultura familiar, uma das atividades apontadas por cientistas como potenciais agentes de freio do aquecimento global.
Organização e resistência à violência
De sua experiência no Terra e Liberdade, a equipe de reportagem faz questão de destacar a capacidade de organização do MST. “Terra e Liberdade tem o seu próprio regulamento interno. O campo tem cozinhas comunitárias, uma escola, um jornal, um posto de saúde e até uma ambulância. A seção de cultura organiza ocasionalmente sessões de cinema e aulas de Zumba”, diz a matéria.
O Le Monde refere-se ainda ao MST como “a maior organização militante da América Latina”, citando-o como uma das vítimas dos conflitos fundiários intensos na região amazônica. A equipe francesa esteve no monumento em memória do Massacre de Eldorado dos Carajás, na curva do S, município de Eldorado dos Carajás. Segundo o veículo, o monumento encontra-se abandonado, ilustrando uma memória que parece viver sob a égide do silêncio. “Em face dos mortos, diz-se que há dos tipos de silêncio: o do respeito e o do esquecimento. Em Eldorado do Carajás, na Amazônia brasileira, é difícil saber qual predomina”, diz o texto do jornalista Bruno Meuerfeld.
A revista francesa compara ainda os conflitos fundiários da Amazônia com a guerra. “Um conflito, com suas batalhas, seus soldados em armas e suas vítimas civis – quase mil e quinhentas em quatro décadas”, diz a reportagem.