Crise Climática
MST se solidariza com as vítimas da calamidade que atinge o Rio Grande do Sul
Da Página do MST
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) presta sua solidariedade às famílias das 29 vítimas já identificadas, além dos 60 desaparecidos, e os milhares de desabrigados pelas enchentes que mais uma vez assolam o estado, entre eles famílias dos assentamentos da Reforma Agrária.
Desde o último final de semana o estado o Rio Grande do Sul tem sido marcado por uma chuva incessante, que piorou nos dois últimos dias. Enchentes, rios transbordando, deslizamento de terra e cidades submersas são algumas das consequências dessa catástrofe, o pior desastre climático do estado até agora.
O estado já soma 154 municípios afetados; 4.645 pessoas em abrigos; 10.242 desalojados e 36 feridos. No total, 71.306 já foram afetadas pela enchente. Os rios Taquari, Jacuí e Caí estão passando pelas maiores cheias já registradas. A metade leste do estado é a região mais crítica.
A situação fez com que o governo decretasse estado de calamidade pública. Assinado nesta quarta-feira (1º), tem validade por 180 dias e visa agilizar o atendimento aos mais de cem municípios atingidos.
Infelizmente, essa é uma tragédia anunciada e cantada aos quatro ventos. Após as enormes perdas que os assentamentos tiveram em suas lavouras de arroz agroecológico no final do ano passado, o movimento e as cooperativas realizaram o 1º Seminário Nacional sobre as Mudanças Climáticas e os Impactos na Produção de Alimentos, no dia 19 de março, em Nova Santa Rita.
Na Carta final do encontro (confira a íntegra aqui) destacaram que a crise ambiental e as mudanças climáticas não podem ser compreendidas apenas como eventos naturais, mas sobretudo eventos causados pelo modo de organização da produção mundial. As mudanças climáticas e a crise ambiental vividas na atualidade são frutos das relações sociais capitalista e de seu modo de produção.
Estes eventos extremos, já constatamos em nosso estado. Verões com altas temperaturas destruindo os cultivos e as criações das famílias assentadas e dos agricultores familiares. Inverno com fortes chuvas ocasionando grandes destruições e mortes, como visto no Vale do Taquari em setembro de 2023, e inundações como as vivenciadas na Região Metropolitana de Porto Alegre, em novembro do mesmo ano. Naquele mês choveu 325 milímetros, quando a média histórica foi de 105 milímetros. Importante que se diga que os efeitos nas populações se manifestam de forma desiguais. Os mais pobres, são os mais afetados, revelando a desigualdade também na crise ambiental.”
Carta Aberta do 5º Seminário da Agroecologia e 1º Seminário Nacional sobre as Mudanças Climáticas e os Impactos na Produção de Alimentos
Na carta, defendem que as saídas à crise ambiental e às mudanças climáticas estão no terreno da luta política e no enfrentamento do modelo de organização da sociedade, buscando no campo construir a defesa das terras indígenas, quilombolas e a defesa da reforma agrária popular e o avanço da implantação da agroecologia em seus mais diversos sistemas produtivos valorizando a biodiversidade, o trabalho familiar, a cooperação agrícola, aumentando sua produtividade com usos de bioinsumos e mecanização adequada à agricultura familiar e camponesa.
Entre a série de propostas elencadas, está concretizar o Plano Nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis, comprometendo-se com a meta estadual de plantar 7 milhões de árvores nos assentamentos, e também que o governo estadual decrete Estado de Emergência Climática no Rio Grande do Sul.
Nosso estado não pode mais esperar as catástrofes acontecerem para começar a agir. Mudança climática não é um discurso ideológico. É realidade!
Como escreveu o jornalista Leonardo Sakamoto em sua coluna. “Diante de tudo isso, se um negacionista climático ironizar com um ‘cadê o seu aquecimento global’ diante de um dia frio, responda (com a paciência pedagógica de quem fala com tolos): nos cemitérios do Rio Grande do Sul e de todo o Brasil.”
Direção Estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST/RS)