Crise Climática
A defesa da natureza e dos povos é a luta desta geração
Por Camilo Augusto
Da Página do MST
Hoje a questão ambiental é uma das questões mais importantes da sociedade, se não for a mais importante de todas. É de se assustar com a realidade que se vive hoje, chuva em demasia, seca extrema, ondas de calor e inundações, o risco eminente do aumento do nível do mar em pouco tempo, são tantas coisas que povoam a perspectiva de futuro de uma geração que nasceu em meio a desastres ambientais.
Cenários apocalípticos inundam a indústria do cinema, parece prelúdio ou preparação para uma distopia que se avizinha em nossa realidade, realidade essa que caberá (e em certa medida já está cabendo) à juventude enfrentar, e conviver com ela.
Uma pesquisa realizada pela universidade de Yale aponta para uma grande preocupação do público jovem para com a questão ambiental no mundo e essa juventude se sente preocupada também com a incapacidade de avanço concreto na resolução do problema. “Falam muito e fazem pouco” e esses mesmos jovens dizem que o “futuro é assustador”.
Da mesma maneira é também a juventude que tem assumido papel de dianteira na luta ambiental dos últimos anos e isso evidencia também que a preocupação se transforma em ação, embora haja necessidade desta luta se tornar luta de massas.
Pensando de uma perspectiva prática, a juventude em nosso modo de ver, deve ser a ponta de lança na necessária tarefa de massificar a luta ambiental, isso porque é este sujeito que enfrentará o aguçamento das consequências da destruição ambiental promovida pelo modo de produção capitalista durante três séculos.
Contudo, tal tarefa não é simples de ser realizada e não acontece como um passe de mágica, é resultado de organização, insistência, criatividade e ousadia para convocar a sociedade a pensar o presente e o futuro, e essa é uma tarefa tão difícil como necessária!
E nós, jovens brasileiros? Como estamos em meio a tudo isso e o que podemos fazer para avançar nessa tarefa tão fundamental em nossa existência?
Uma pesquisa publicada o ano passado aponta que 90% da juventude brasileira está muito ou mais ou menos preocupada com o tema das mudanças climáticas, embora a mesma pesquisa aponte um desconhecimento com relação à temas como os biomas onde vive essa juventude, entre outros temas relacionados. Isso nos indica que há uma preocupação que, contudo, não está organizada, na perspectiva do conhecimento profundo sobre o assunto e da luta para enfrentar esse problema.
Nos países do Norte global, a juventude tem protagonizado lutas expressivas contra a destruição ambiental, contudo essa luta assume um caráter reduzido, pois é feita a partir de uma perspectiva superficial. Isto é, enxerga e critica a contradições, mas não consegue atacar a raiz da questão e muitas vezes separam a dimensão humana da dimensão da natureza, agitando o cuidado e a defesa dos animais e da floresta, por exemplo, e deixando de vincular essa defesa à defesa dos direitos das pessoas.
O que queremos dizer é que essas lutas feitas a partir da perspectiva dos países europeus não questionam o sistema destruidor da natureza, questionam somente a destruição da natureza em si, como se uma coisa pudesse se dissociar da outra. Se faz necessário, nesta encruzilhada histórica evidenciar a indissociabilidade entre o cuidado com a natureza do cuidado com o ser humano e a derrubada do modo de produção que degrada ambos.
Neste sentido, a juventude do Sul Global, dos países ditos “em desenvolvimento” tem papel fundamental, pois é esta juventude que enfrenta as dramáticas consequências ambientais e sociais do sistema capitalista e sua relação com a natureza.
A juventude do campo, florestas e das águas do Brasil tem se destacado neste debate no cenário internacional, jovens de povos indígenas, que vão à ONU denunciar a destruição ambiental assim como a responsabilidade dos países desenvolvidos neste processo, sem contudo, conseguirmos avançar em proposições que superem as supostas alternativas apresentadas pelos bancos e grandes empresas. Proposições estas que não passam de maquiagem para a criação de novas mercadorias a partir das necessidades impostas pela crise ambiental.
A luta pela demarcação das terras indígenas e quilombolas é fundamental para a construção de saídas eficazes para a crise ambiental, da mesma maneira que a luta pela reforma agrária e pela agroecologia, e a juventude do campo, das florestas e das águas tem feito isso de maneira incessante, vinculando essas lutas à questão geral da luta pelo de existir em um ambiente saudável.
As jornadas de luta da Juventude Sem Terra, realizadas nos últimos três anos demonstram esta compreensão no rumo de que a luta ambiental é a maior luta contra o capital desta geração. Mais que isso, a prática desta juventude demostra que é fundamental construirmos lutas que dispute o sentido da questão ambiental no conjunto da sociedade, apontando os verdadeiros responsáveis pela crise, com rosto, nome e CNPJ, assim como desmascarando as falsas soluções apresentadas nas grandes “feiras verdes” do capital internacional.
A Juventude da via Campesina tem chamado o conjunto das suas organizações a refletirem sobre a centralidade da questão ambiental enquanto luta transversal e estratégica para a resistência e existência do campesinato no Brasil, e se colocando em luta sob o lema “Juventude em Luta: por Terra e Soberania Popular”, entendendo que a terra e a natureza como um todo só será cuidada e recuperada com luta por soberania popular e com a derrubada do capitalismo.
Esse esforço tem o objetivo de traduzir que a luta por reforma agrária, por alimentação saudável, por demarcação de terras indígenas e quilombolas, a luta por direito à cidade, por emprego e renda, em suma, a luta pela dignidade humana forma parte do conjunto da luta ambiental, pois cuidar do meio ambiente é cuidar do ser humano e lutar pela dignidade do ser humano, verdadeiramente, é lutar por um meio ambiente saudável.
Já dizia Chico Mendes: “ecologia sem luta de classes é jardinagem” e a juventude desse tempo histórico precisa ousar e passar da luta contra os canudinhos de plástico, para a luta por todos os seres que vivem sob a terra e impedir a sanha destruidora do capitalismo. Não queremos jardinagem, queremos um mundo de Agrofloresta, farto de comida, arte, biodiversidade e socialismo.
*Editado por Carolina Sisla