Nota
O Movimento Negro perde um de seus combatentes
Amigo histórico do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e ávido defensor da Reforma Agrária Popular como medida de reparação ao povo negro, Flávio Jorge (nosso querido Flavinho) pertenceu a geração de militantes que se engajou no final dos anos 1970 para redemocratizar o Brasil, mas ao mesmo tempo denuniciar os limites da própria democracia se não pusesse fim à violência racista contra a população negra.
Flavinho, paraguaçuense de origem, migrou do interior para fazer história junto às lutas na capital paulista. Sua discrição e simplicidade eram suas marcas características, mas que não escondiam sua grande capacidade de diálogo e de fazer articulação política na construção de unidade de ação e de luta. Com ele compartilhamos o pão e o chão da luta, por isso está entre aqueles que, para nós, se tornaram imprescindíveis, pois dedicaram sua vida à causa dos/as trabalhadores/as. Ao lado do MST, esteve presente em vários momentos históricos, em encontros, congressos e lutas. Tinha convicção de que o MST também é um grande movimento de negros e negras e apresenta uma contribuição fundamental no combate ao racismo, que é a organização da população negra empobrecida, sobretudo das periferias, para lutarem pela terra e transformação social, rompendo cadeias da dominação social racista imposta pelo capital.
Uma boa definição sobre a trajetória deste companheiro talvez seja esse ditado africano, que diz, “se quer ir rápido, vá sozinho, mas se quer ir longe, vá em grupo”. Flávio Jorge se formou em ciências contábeis pela PUC-SP, militou no movimento negro brasileiro desde a época de estudante; fez parte do conjunto de jovens negros que se engajaram no PT quando de sua fundação, articulou a criação da primeira Comissão de Negros e Negras do partido; foi um dos principais articuladores do 1º Encontro Nacional de Entidades Negras (ENEN) e da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR); foi assessor de Luiza Erundina quando vereadora e prefeita de São Paulo; fez parte da diretoria da Fundação Perseu Abramo (FPA), foi fundador da Soweto Organização Negra e contribuiu na criação e articulação da Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN) a qual se mantinha vinculado.
Flavinho se manterá vivo, naquilo que produziu, nos ensinamentos e no que compartilhou com os seus.
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
06 de junho de 2024, São Paulo – SP