Cooperativas

MST inaugura agroindústria de polpa de frutas e minimamente processados, no Vale do Rio Doce (MG)

A Cooperativa Camponesa Central (Concentra), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), realizou um ato político que inaugura a Agroindústria de polpas de frutas e minimamente processados, na região do Vale do Rio Doce, Minas Gerais.
Foto: MST/MG

Por Matheus Teixeira
Do MST/MG

Na tarde da última quinta-feira (27), a Cooperativa Camponesa Central (Concentra), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), realizou um ato político que marca a inauguração da Agroindústria de polpas de frutas e minimamente processados, na região do Vale do Rio Doce, Minas Gerais.

Buscando agregar não só valor econômico aos produtos, a agroindústria é um espaço de discussão e vivências de um novo modelo produtivo com base nos princípios da agroecologia. A mesma atenderá todas as áreas de assentamentos e acampamentos da reforma agrária do Vale do Rio Doce e agricultores da região, beneficiando hortaliças e leguminosas com capacidade produtiva de 400kg a 500kg por hora. A fábrica de pequeno porte está equipada com máquinas voltadas a facilitar o trabalho como despolpadeira, câmara fria, embaladora a vácuo, entre outros.

Foto: MST/MG

Para José Carlos, Dirigente do Movimento Sem Terra de Minas Gerais, a agroindústria representa o avanço e a materialização da Reforma Agrária Popular, tendo em si o desenvolvimento econômico e produtivo das famílias do campo e da cidade.

“É triste que a agroindústria tenha sido construída a partir do crime da Vale, mas essa construção representa a esperança de um novo modelo de sociedade, onde o povo, a vida é o tema central. A agricultura familiar que produz comida para o povo brasileiro precisa cada vez mais ser qualificada e moderna.

E continua “O povo na cidade, as crianças nas escolas, todo mundo merece comer uma comida produzida sem veneno, de forma agroecológica, quando você compra um produto da nossa agroindústria você terá a certeza que está comendo uma comida que não precisou de usar veneno para chegar a sua mesa. Foi feito tudo pelo trabalhador do campo, desde o plantio, colheita e processamento.”

Foto: MST/MG

Jose Carlos afirma que para avançar no trabalho cooperado junto a agricultura familiar outros programas como esse devem ser desenvolvidos e fortalecidos.

“Esse é um grande passo, mas outros precisam ser dados se queremos um novo modelo de sociedade, mais justo, fraterno, solidário, e que respeite a natureza, seus povos e florestas”.

A conquista instalada no Assentamento Oziel Alves Pereira é resultado de um dos desdobramentos do Programa Popular de Agroecologia na bacia do Rio Doce, construído pelas famílias do Movimento Sem Terra junto a Fundação Renova, onde busca fomentar a produção da fruticultura no Vale do Rio Doce. A produção voltada ao mercado com foco na venda institucional visa ao Programa de Aquisição de Alimento (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

 Em pleno funcionamento, a agroindústria irá gerar mais de 15 postos de trabalhos preenchidos majoritariamente por trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra, formados nos cursos de Agropecuária com ênfase em Agroecologia, e do curso de Gestão em Empreendimentos Sociais, que também foram ofertados pelo Centro de Formação Francisca Veras, em parceria com Instituto Federal, sendo mais um desdobramento do Programa Popular de Agroecologia na Bacia do Rio Doce.

Foto: MST/MG

“Para avançar na Produção, tem que ter cooperação”

A organização do trabalho coletivo em torno da produção nos assentamentos e acampamentos se intensifica a fim de garantir a matéria prima que a agroindústria necessita. Em resumo a outras ações do Programa, mais de 200 famílias receberam assistência técnica, e formação baseada na metodologia De Camponês a Camponês (CaC), que é uma metodologia de processo social para a transição agroecológica e a territorialização da agroecologia, desenvolvida originalmente na Ásia, na década de 20, e difundida na América Latina por indígenas camponeses da Guatemala, em 1970.  

“Trabalhar em coletivo é sempre um desafio, há muitas divergências nos processos, mas há também uma troca de experiências muito rica entre os agricultores. O próprio modelo como se organiza a agricultura familiar, através da cooperação que tem na essência o trabalho coletivo, do vizinho que ajuda a capinar o feijão, colher o milho,  e dentro do MST, o senso de comunidade é tão grande que a gente já consolidou a prática de organizar o trabalho em mutirão, o povo trabalha, troca experiências, festeja e celebra a cada semente jogada no chão. A roça no final pode ser minha, mas o trabalho, a construção, foi nosso.” conta Edilene Santos, assentada pelo MST.

Programa Popular de Agroecologia da Bacia do Rio Doce 

O programa é uma iniciativa construída pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que busca atuar a partir das contradições impostas à sociedade com o crime da mineradora Vale, Samarco e seus acionistas em novembro de 2015. Contrapondo o modelo predatório de mineração que em conjunto ao agronegócio destroi, rios, matas e cidades, o Movimento traz a agroecologia como pilar central do seu programa baseado a partir de quatro eixos: Assistência Técnica/Social; Restauração Ambiental; Educação e Produção.

Durante o ato de inauguração, foi entregue a Fundação Renova e ao Comitê Interfederativo, o ofício que solicita a inserção de novas áreas da Reforma Agrária Popular no programa.

De acordo com Maira Santiago, do Setor de Produção do MST, as ações precisam acontecer em conjunto em toda sua extensão.

“O programa Popular de Agroecologia ele tem eixos centrais, mas há um descompasso das ações desses eixos na região como um todo, tem áreas que só acontecem um e outro não. A gente precisa avançar no processo da agroecologia de forma unificada, juntos, de forma integrada, o programa precisa atuar em todos os nossos territórios.”

A dirigente ressalta ainda a importância de se apropriar de dos conhecimentos teóricos e incorporação de novas tecnologias no trabalho.

“É importante a gente ter um curso de graduação para avançar na construção do conhecimento agroecológico de forma técnica, para conseguirmos implementar todas as estratégias que estamos visualizando como centrais, ampliação de produção de alimentos; processos produtivos escalonados; construção e implementação de tecnologias como maquinários, bioinsumos. Tudo isso são conhecimentos que a gente precisa entender e se aprimorar, saber utilizar e construir.”

Por fim, Maira afirma a importância da assistência técnica para o avanço da produção junto às famílias. “É preciso que a assistência técnica seja universal para todas as áreas e famílias, não adianta só uma área avançar com a organização produtiva. Queremos que todas tenham.”

Foto: MST/MG

*Editado por Leonardo Correia.