Educação
Jovens do MST chegam a Cuba para realizar o sonho de estudar medicina
Por Gabriel Vera Lopes
Do Brasil de Fato
Em um novo ano letivo, Cuba recebe quinze jovens brasileiros provenientes de famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) para estudar medicina como bolsistas na Escola Latino-Americana de Medicina (Elam), em Havana.
A Elam é uma das maiores escolas de medicina do mundo, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O objetivo da escola é formar médicos de várias regiões do mundo, com foco especial nas comunidades mais pobres e desprivilegiadas.
Este é o segundo grupo de jovens brasileiros, promovido pelo MST, que atualmente se encontra na ilha caribenha para estudar medicina. “Queremos fazer parte da criação de uma medicina que não seja focada no dinheiro, mas no cuidado com as pessoas”, disse Ana Vitoria da Silva, da província do Ceará, ao Brasil de Fato.
Além de formar médicos, a Elam tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento da “medicina humanista”. Enfocando o trabalho comunitário, os programas de ensino da escola entendem a doença como um problema “natural e biológico” e também social, muitas vezes causado ou agravado pela pobreza e pela desigualdade.
A jovem estudante afirma que “a medicina é muito elitizada em muitas partes do mundo e isso significa que há uma falta de sensibilidade ou humanização em muitos de nossos médicos. Acredito que, junto com meus colegas, viemos em busca de uma medicina humanizada. Uma medicina que busca olhar para o paciente como um todo, não apenas como uma doença”.
Para Ana Karolina Cabeçoni, de 18 anos, também membro do grupo, trata-se de “uma oportunidade muito valiosa de compartilhar as lutas do povo cubano”.
“Se fala muito sobre Cuba e muitas vezes pouco se sabe sobre sua história. Este é um povo que sempre compartilhou o que tem, não o que sobra. E acho que poder aprender sobre a história deles enquanto a gente está aqui, além de poder estudar medicina, é uma oportunidade única. É também uma oportunidade para darmos uma visão diferente do que se acredita estar acontecendo aqui”.
A medicina como bandeira de solidariedade
A Elam abriu suas portas em 1999. Naquele ano, a região do Caribe estava passando por uma grave crise humanitária causada pelos furacões George e Mitch, dois ciclones tropicais que devastaram toda a região, causando a morte de mais de 10 mil pessoas.
A catástrofe afetou vários países, como Belize, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Honduras, Jamaica, Nicarágua e Panamá, que não apenas sofreram perdas humanas e de infraestrutura, mas também viram a disseminação de doenças causadas pela elevação das águas.
Cuba decidiu enviar médicos para os diversos países afetados. No entanto, a ajuda não se limitou ao envio de pessoal. Nesse contexto, a ilha caribenha – que estava atravessando uma grave crise econômica conhecida como “período especial” – decidiu construir uma universidade de medicina para formar profissionais de saúde provenientes dos próprios países afetados.
A escola começou a receber centenas de estudantes do Caribe por meio de um sistema de bolsas de estudo criado para permitir que jovens com poucos recursos econômicos pudessem estudar medicina de forma gratuita.
Com o passar do tempo, o projeto se espalhou por diferentes regiões do mundo e chegaram estudantes de outras partes da América Latina, ampliando-se para a África – uma região com a qual Cuba historicamente criou laços – e até mesmo dos próprios Estados Unidos.
Até o momento, a Elam já treinou cerca de 31 mil médicos provenientes de quase 120 países diferentes. Mais de mil médicos formados pela Elam são brasileiros.
Atualmente, a maioria dos alunos vem da Colômbia, como parte dos acordos de paz assinados entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Nesses acordos, ficou estabelecido que a Elam receberia jovens de áreas afetadas pela violência, com o objetivo de oferecer-lhes treinamento vocacional para sua reintegração social.
Entre os grupos com maior presença estão também estudantes de origem palestina, nascidos em Gaza ou na Cisjordânia, bem como em campos de refugiados, como parte da solidariedade de Cuba com a causa palestina.