Música Popular

90 anos do Poeta do Povo: O Brasil canta João do Vale

"Lembrar os 90 anos de João do Vale é uma forma de zelar, com o coração, pelas lições que ele nos deixou" destacam cantadoras Sem Terra; confira no artigo 
Foto: MST

Por Dandára d’Araçá e Marcinha Ramos*
Da Página do MST

A ciência da abeia, da aranha e a minha
muita gente desconhece”

– Na asa do vento – João do Vale

“Quem não conhece o passado, não sabe andar no futuro”, nos disse o poeta Lirinha. Nossa poetisa Julia Iara, lá do Maranhão encantada de João do Vale, relembra: “sabemos de cor nossas cantigas.” 

A memória, como nos aponta todos os dias o fazimento Sem Terra, é a arma para o povo organizado. Por isso, nos assentamentos, acampamentos, passeando pelos corredores da nossa Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), junto à nossa bandeira hasteada, aparecem muitos nomes – Patativa do Assaré, Rosa Luxemburgo, Oziel Alves, Egídio Brunetto, Palmares… manifestações vivas do lembrar que cultivamos.

Aprendemos nesses 40 anos do MST que a memória coletiva de um povo constrói nossa identidade, dá significado aos nossos símbolos, nos conecta ao território e a nós mesmos. Que a memória nos dá capacidade de sonhar futuros e saber que são possíveis.

I Encontro de Música do MST, Foto: Wellington Lennon
Foto: MST

Lembrar os 90 anos de João do Vale, portanto, é muito mais que uma formalidade, uma marca no calendário: é zelar, com o coração, pelas lições que ele nos deixou. 

João foi reconhecido por seus pares como o Poeta do Povo. Hoje, suas composições fazem parte da história da música brasileira, cantadas por grandes vozes como Maria Bethânia, Caetano Veloso, Chico Buarque, Luiz Gonzaga, Clara Nunes.

O Brasil canta João do Vale, embora muitas vezes o faça sem saber. Por isso, é preciso relembrar: por trás das melodias que já nos são tão familiares, há um homem negro, analfabetizado, trabalhador e profundamente verdadeiro naquilo que cantou.

Foto: MST

Esse é um aprendizado precioso para o Movimento Sem Terra: é preciso cultivar a capacidade de tornar sublime aquilo que é simples, que é cotidiano, que é nosso. Poesia se torna arma quando gera humanidades, e um povo assim armado, pleno dos saberes que brotam da vida e suas contradições, é que transforma o futuro.

*Militantes e cantadoras da Frente de Música João do Vale e do setor de cultura do MST.

**Editado por Solange Engelmann